Um injusto secretário da Justiça
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- Luiz Eça
- 17/03/2017
Depois de nomear para secretário do Trabalho um inimigo dos aumentos salariais e das horas-extras pagas; para a Secretaria da Educação vai uma inimiga do ensino público; para proteger o ambiente, um inimigo da proteção ambiental. Trump continua coerente.
Escolheu Jeff Sessions para seu secretário da Justiça. Esta brilhante estrela da constelação do Tea Party tem uma folha corrida para extremista de direita algum botar defeito.
Como senador, ele votou contra todas as propostas de leis apresentadas a favor dos imigrantes. Inclusive a que estabelecia condições para que imigrantes ilegais recebessem a cidadania estadunidense.
Votou contra uma lei que bania o tratamento “cruel, degradante e desumano dos prisioneiros”.
Como procurador-geral do Alabama, ele chamou de “traidor de sua raça” um advogado branco, por defender uma causa relativa aos direitos dos negros votarem.
Descartou as tradicionais organizações ACLU (União pelas Liberdades Civis Americanas) e NAACP (Associação Para o Progresso das Pessoas de Cor) como organizações não-americanas.
Agora em duas ocasiões, Sessions parece ter se superado. Declarou-se a favor de se reavaliar o uso da prisão de Guantánamo e garantir o julgamento dos detentos por tribunais militares. Que costumam ser mais rigorosos.
Ao contrário do objetivo de Obama (não cumprido) de fechar a prisão da ilha, Sessions quer enchê-la de novos prisioneiros, capturados nas várias e cada vez mais numerosas guerras.
Obama considerava a Guantánamo “um símbolo dos abusos de direitos humanos pelos norte-americanos, durante tempos de guerra”.
Jeff Sessions discorda veementemente e pontifica com uma observação realmente incrível: considera “a prisão da ilha um lugar excelente (a very fine place) para esses tipos de criminosos perigosos”.
Os norte-americanos costumam qualificar como “a very fine place” centros turísticos como a Florida, Palm Beach, Newport, as Bahamas...
Embora nas próprias palavras do secretário da Justiça, Guantánamo possa ter virado um resort, acredita-se que os detentos continuarão a ter por lá seus direitos humanos normalmente desrespeitados.
Continuando a estragar coisas que Obama fez ou tentou fazer de bom, Sessions decretou o fim do monitoramento das polícias em todos os EUA.
Sensibilizado pelo grande número de negros assassinados por policiais, Obama havia criado um serviço para monitorar as ações destes modernos xerifes.
Sempre que praticassem, sem justa causa, violências, abusos, torturas e mesmo assassinatos de detentos, seriam investigados pelo Departamento de Justiça.
Caso fossem julgados culpados, o departamento os processaria, solicitando aos juízes as devidas punições.
Agora, sem freios no seu comportamento, os policiais poderão praticar brutalidades contra as pessoas sob sua custódia, tranquilamente.
Sessions alegou que, por causa do monitoramento, os policiais estavam atuando de forma ineficiente, pois temiam passar da linha e acabar tendo de se sentar no incômodo banco dos réus.
Por isso, segundo o homem de Trump na justiça, a eficiência policial tinha caído. E o crime avançava nas grandes cidades, deixando as pessoas se sentirem em perigo.
O que é uma não-verdade, pois recentes pesquisas demonstram que a criminalidade média de todo os EUA mantém-se no nível histórico mais baixo.
Essa “licença para matar”, praticamente conferida aos agentes da lei estadunidenses, é semelhante à recebida por James Bond para enfrentar vilões que ameaçavam a humanidade com armas do juízo final.
No cinema, ela funcionava bem, na realidade, as dúvidas são muitas. O certo é que os parlamentares democratas deveriam deixar de lado inquéritos vãos sobre reuniões de Sessions com os russos e se concentrarem no combate às injustas ações do secretário da Justiça na área de sua competência.
Tio Sam agradecerá.
Luiz Eça
Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.