Correio da Cidadania

Diplomacia versus força na crise coreana

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Os EUA enviaram dois bombardeiros B-1B supersônicos para sobrevoar a península coreana.

O objetivo é claro: assustar o regime de Pyongyang com estas monstruosas aeronaves, que merecem o apelido de fortalezas voadoras pelo seu tremendo poder de fogo.

Trump acha que B-1Bs, submarinos nucleares, porta-aviões e ameaças apocalípticas rondando a Coreia do Norte farão Kim Jong-un parar de testar mísseis balísticos e armas nucleares.

É a estratégia que ele adotou depois de considerar fracassado o uso de diplomacia.

O presidente Moon, recém-eleito na Coreia do Sul, não concorda. O que é surpreendente porque satélites de Washington não costumam diferir das ideias expressas por líderes do império.

Para Moon, é com jeito e aproximações diplomáticas que se irá acalmar a fúria dos vizinhos do norte.

Já disse várias vezes que deseja reatar relações amigáveis com Pyongyang, através de negociações. Seria errado continuar vendo a Coreia do Norte como inimigo.

Pronunciou-se assim desde a campanha eleitoral. Chegou a afirmar que, embora liderado pelos EUA, seu país tinha o direito de dizer “não”. E que, sendo eleito, ele o exerceria, cancelando o THAAD, sistema antimísseis, anunciado por Washington como demonstração da sua paternal preocupação com a segurança do povo sul-coreano.

O qual, aliás, não queria o THAAD, temendo que, havendo guerra, o sistema atrairia os ataques norte-coreanos para a região onde fosse instalado.

Baseado em experiência própria, Trump considerava que a valentia de Moon não passaria de “promessas de campanha”.

Segundo as pesquisas, Moon venceria na certa. Previdente, The Donald, antes do dia da votação, tratou de firmar com o dócil presidente interino um acordo, garantindo o THAAD.

Em seguida, rapidamente, iniciou a instalação de dois lançadores antimísseis do total de seis que constituiriam o sistema.

Uma vez eleito, Moon não aceitou o THAAD como fato consumado. Ordenou um inquérito sobre o acordo entre EUA-Coreia do Sul.

Foi quando, para sua surpresa, soube da chegada dos quatro lançadores que faltavam. Trump não se dera ao trabalho de informar a ele, o presidente da Coreia do Sul.

Irritado, Moon protestou pelo desrespeito e mandou que se impedisse a instalação dos lançadores recém-chegados.

Mais recentemente, Moon revelou que o acordo do THAAD dispunha que apenas um lançador fosse instalado em 2017, ficando os demais cinco para 2018. E comentou que os norte-americanos “misteriosamente aceleraram” as coisas antes das suas eleições...

Ao mesmo tempo, na sua campanha de suavização das tensões, Moon fez um agrado à Coreia do Norte: propôs que algumas das provas da Olimpíada de Inverno, programada para a Coreia do Sul, fossem realizadas em território norte-coreano.

E foi ainda mais longe com essa abordagem esportiva: lançou a ideia das nações do nordeste da Ásia defenderem a realização da Copa do Mundo de 2030 conjuntamente em Seul e Pyongyang.

Foram atitudes simpáticas que o presidente da Coreia do Sul espera que irão abrandar a ferocidade de Kim Jong-un.

Certamente, não agradarão a Trump, que insiste em encarar o governo comunista com ameaças, rejeitando a diplomacia, por ele já descartada. Mas, não tiremos conclusões apressadas.

Moon sabe que, enquanto a Coreia do Norte continuar rugindo, ele não pode prescindir da aliança com os EUA. Tem de moderar seus “nãos”, com um número bem maior de “sins”.

Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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