Correio da Cidadania

A impunidade de Israel

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Ataques aéreos israelenses já viraram rotina na Síria e no Líbano, alvejando objetivos militares do Hizbollah e do Irã.

Claro, nada é perfeito, nem mesmo a aviação de Israel, e, às vezes, cidadãos sírios e libaneses são também atingidos.

Bem que Netanyahu avisou: “qualquer país que permita que seu território seja usado para ataques contra Israel vai sofrer as consequências, e eu repito, o país vai sofrer as consequências”.

O problema é que não partiu do Líbano um único ataque contra a Terra Prometida, desde a invasão do país em 2006. Já a última bomba síria caiu em Israel ainda mais tarde, durante a guerra de 1973.

Telavive alega que o Irã e o Hizbollah juraram destruir o país. Por sua vez, a Síria e o Líbano abrigam prazerosamente soldados e máquinas mortíferas dos dois grandes inimigos de Israel, prontos a se lançarem sobre a terra de Moisés.

São uma ameaça ao Estado israelense, portanto, bomba neles! E sai de baixo...

Neste mês, o Iraque foi incluído entre os alvos israelenses. O governo Netanyahu lançou drones, alvejando bases e depósitos de munições das Forças de Mobilização Popular (FMP), que participaram destacadamente da guerra ao Estado Islâmico (EI), ao lado do exército iraquiano. Ora a FMP é xiita, mantém laços estreitos com o Irã.

Em entrevista ao Canal 12 (de Israel), inquirido se o seu exército, operando contra o Irã, atacaria alvos no Iraque, se necessário, Netanyahu respondeu: “estamos operando – não apenas se necessário, estamos operando em muitas áreas contra Estados que querem nos aniquilar. Evidentemente, eu dei às forças de segurança mãos livres e os instruí a fazer qualquer coisa necessária para frustrar planos do Irã (Jerusalem Post, 22-08-2019)”.

Sucede que o Iraque é um caso especial. Os EUA tem todo interesse em agradá-lo, pois disputa sua amizade com o Irã. As forças norte-americanas ofereceram uma ajuda fundamental aos iraquianos na luta contra o EI.

Depois da derrota dos fanáticos do Estado Islâmico, as forças estadunidenses mantiveram 5 mil soldados instalados em bases no território do Iraque.

Por sua vez, as tropas do FMP, continuam em armas, prontas para o que der e vier.

Diante da amizade íntima entre os EUA e Israel, a FMP, como aliada do Irã, aproveitou para acusar Washington de cumplicidade nos ataques dos drones israelenses.

E ainda, pediu a retirada das forças dos EUA, já que não teriam mais o que fazer no Iraque, pois o EI já era.

Mais que depressa, o departamento de Defesa dos EUA assegurou que seu país não tinha nada a ver com a ação militar do governo de Telavive. Pelo contrário, defende a “soberania iraquiana” e se opõe a “atores externos”, ou seja, a ataques mesmo de Israel (Haaretz, 27-08-2019).

Netanyahu sabia que sua iniciativa agressiva iria desagradar o governo Trump, pois a irritação despertada pelos drones respingaria negativamente na imagem dos EUA no Iraque.

Embora muitos observadores achem que Telavive não faz nada sem ouvir Washington, desta vez não foi o caso.

O ex-primeiro-ministro israelense preferiu priorizar os seus interesses eleitorais, atacando aliados do Irã para reforçar seu prestígio junto ao povo israelense. Ele precisa disso, pois sua reeleição está a perigo no pleito de 17 de setembro.

As pesquisas mostram que, embora seu partido, o Likud lidere (por pequena margem), a coalizão oposicionista Azul e Branco contaria com um número pelo menos igual de parlamentares.

A hipótese de Netanyahu migrar do palácio do primeiro-ministro para o banco dos réus num tribunal, onde deve responder a até três processos criminais, além de desconfortável é bem viável.

Pelo menos até 17 de setembro, data da eleição, ele tem tempo para enviar drones (ou aviões) para distribuir bombas em solo iraquiano, visando angariar mais votos de um setor do público favorável à violência contra árabes.

Recentemente, o primeiro-ministro declarou que o Iraque não está fora da sua alça de mira (Times of Israel, 30-08-2019).

Apesar de desagradar ao Pentágono, conta com o apoio da Casa Branca.
Seja como for, ele não dará sossego ao Líbano e à Síria, lançando ataques contra objetivos militares do Irã e do Hizbollah.

Bombardear países com quem não se está em guerra, em tese, é um crime contra as leis internacionais. Lembre-se ainda que, com seus ataques, Israel está violando os termos do cessar fogo da guerra contra o Líbano, em 2006.

Israel nem se toca. Argumenta que age em autodefesa, para prevenir ataques do Hizbollah e do Irã. A Síria e o Líbano não ameaçam Israel, mas são considerados cúmplices por deixarem que se instalem nos seus territórios armamentos dos países que pretenderiam aniquilar Israel.

O Irã declara que jamais afirmou pretender jogar o país sionista no mar. Apenas deseja e prognostica, não a devastação de Israel pela força das armas, mas o fim do regime racista e sua substituição por um regime igualitário.

Não deixa claro quem seria o agente desta mudança (talvez a História?). É fato que os governantes de Teerã esbaldam-se em ofensas a Israel e seus dirigentes. Odeiam seu regime. Mas não são bobos, nunca fariam guerra a Israel, que tem forças militares mais poderosas, cerca de 80 bombas atômicas e o apoio incondicional de Washington.

Forças iranianas estão na Síria para ajudar o governo legal a derrotar os rebeldes. Consumada a paz, elas eventualmente permaneceriam para proteger o país.

Movimento com grande representação partidária no congresso, o Hizbollah já defendeu o Líbano em duas invasões pelos vizinhos sionistas. E agora seus milicianos lutam na guerra síria, ao lado das tropas do presidente Assad.

Sabe-se que o Irã vem fortalecendo o Hizbollah com grande quantidade de armas e equipamentos militares.

Não creio que esteja nos planos desse movimento atacar Israel. Como os iranianos, seus chefes nada tem de dom Quixote. Não vão comprar briga com um rival muito mais forte.

Assim, perguntam os partidários do governo de Telavive, por que o Hizbollah o Irã vêm acumulando grande quantidade de recursos bélicos nas vizinhanças de Israel?

A resposta é que seriam necessários para defender o Líbano e a Síria de invasões israelenses. Os fatos indicam que pode haver bons motivos.

Afinal, Israel já promoveu centenas de bombardeios sobre a Síria e o Líbano. Tomou as colinas de Golã, território sírio, e anexou a região. Invadiu o Líbano três vezes.

Periodicamente os Estados vulnerados pelas ações aéreas israelenses emitem protestos contra a violação de sua soberania, falam em recorrer à ONU.

Recentemente, quando os drones de Israel, pela primeira vez, atacaram alvos em Beirute, capital do Líbano, até o principal aliado dos EUA e da Arábia Saudita no país, o primeiro-ministro Said Hariri, clamou: “a nova agressão... Constitui uma ameaça à estabilidade regional e uma tentativa de empurrar a situação para tensões posteriores (al Jazeera, 25-08-2019).”

Atacar países sob o pretexto de que visariam atacar Israel ou ofereciam seu território a ações agressivas dos inimigos de Telavive parece um argumento um tanto discutível.

O direito internacional é claro: trata-se de uma violação de soberania. No entanto, os países vítimas dessa postura já desistiram de conseguir justiça da comunidade internacional.

Na ONU, os norte-americanos vetam qualquer recomendação nesse sentido. Mike Pompeo, seu secretário de Estado, informou: “cada vez que Israel foi forçado a agir para se defender, os EUA tem deixado muito claro que o país tem, não apenas esse direito, mas também o dever de proteger seu povo. E nós sempre apoiamos seus esforços para fazer isso (Washington Examiner– 31-08-2019)”.

Também a civilizada Europa costuma dar de barato que Israel tem razão, sem a análise de cada situação específica. E quem sofrer com isso, que se dane.

A verdade é que o Irã não lançou sequer uma bombinha de São João no território israelense, enquanto Telavive já atacou centenas de vezes bases, depósitos e escritórios de iranianos e aliados, em países onde eles estão atuando de forma legal. Nesses ataques já matou uma série de oficiais dos países hostis, inclusive de alta patente.

The Donald não leva nada disso em conta. Pelo contrário: exige que Teerã “pare de ameaçar a estabilidade do Oriente Médio” se quiser que as sanções acabem. É duvidoso que esta acusação seja correta. Merece mais crédito Said Hariri, por ser aliado dos EUA e primeiro-ministro do Líbano. Para ele, são os israelenses quem ameaçam a estabilidade da região.

E daí? Sob o patrocínio dos EUA e a indiferença da Europa, Israel segue atacando seus inimigos onde, como e quando quiser. Impune.

Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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