Correio da Cidadania

A reeleição de Trump tropeça na pandemia

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De alguma forma, Trump vai tentar adiar eleição”, diz Biden - Vermelho
2020 tinha tudo para ser um feliz ano novo para o sonho de reeleição de Donald Trump, com a economia bombando e o desemprego lá embaixo.

Quando surgiram os primeiros sinais da magnitude do coronavírus, seu sinal de alerta se ligou.

Sua reação foi negar, convencer-se de que não passaria de uma sombra fugidia, que logo sumiria como tantas outras manchetes diabólicas da hostil imprensa norte-americana.

Como não sumiu, ele julgou conveniente, em 24 de fevereiro, tranquilizar o povo e assegurar que a epidemia estava sob controle nos EUA.

Dois dias depois, depreciou o coronavírus, chamando-o de “uma gripe”. Em seguida, mudou seu tom de deboche para uma afirmação séria e categórica de que o número de casos no país estava “caindo substancialmente, não aumentando”.
Outros dois depois, foi paternal, mas imperativo: “simplesmente fiquem calmos. Vai desaparecer”.

Simplesmente não desapareceu.

O número de estadunidenses infectados foi crescendo rapidamente e o número de mortos em ascensão era assustador.

A imprensa apressou-se em divulgar as informações sombrias da ciência, que previam limites catastróficos a serem atingidos pela pandemia nos EUA caso o governo não agisse de forma dura.

Em 6 de março, o morador da Casa Branca ainda tentou contestar a realidade: “nós temos números muito baixos em comparação com os principais países do mundo. Nossos números são mais baixos do que quase todos”.

Era mais uma mentira e não pegou. Enquanto ele não fazia nada, os norte-americanos iam morrendo. O medo avançava e, o que era pior para The Donald, o descrédito nas suas palavras contaminava o povo.

Por fim, percebendo que o gato subira no telhado, o presidente lançou seu velho truque de jogar nos outros as culpas dele.

Em 9 de março, em tom de denúncia, assegurou que a onda pessimista era um complô, unindo a imprensa e o Partido Democrata para “inflamar a situação do coronavírus, muito além do que os fatos justificam”.

Não deixou de incluir nessa malévola conspirata a China, o inimigo de sempre. Em suas tiradas, The Donald referia-se à pandemia como “o vírus chinês”. Chegou mesmo a admitir como possível que fora criado nos laboratórios chineses para ser lançado no Ocidente e destruir as economias dos países “do bem”.

Talvez sentindo que pisara na bola, mais tarde moderou seus ataques, aceitando a tese de que, por descuido dos cientistas chineses, o vírus poderia ter fugido para se espalhar além fronteiras do antigo “Império do Meio”.

A mudança de discurso só veio em 13 de março, quando a OMS declarou uma pandemia e um relatório do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA assumiu que “a pandemia durará 18 meses ou mais e poderia incluir “múltiplas ondas da doença”, resultando em “impactos na cadeia de fornecedores e no transporte, que provavelmente resultaria em significativa escassez”.

As mentiras não iriam enganar mais ninguém. Trump teve de recolher sua galopante imaginação criativa e decretar “estado de emergência”, conformando-se em aceitar o confinamento.

Recentemente, The Donald descobriu mais um culpado por ter ficado seis semanas inativo diante da terrível realidade do coronavírus, enquanto tentava mistificar o povo.

Depois de apontar o dedo para a imprensa, a oposição e a China, voltou-se para a OMS (Organização mundial da Saúde), cancelando as doações dos EUA, que representavam 25% do orçamento da entidade.

Em conluio com os chineses, a OMS teria tomado uma série de posições que prejudicavam a luta mundial contra a pandemia, causando, portanto, infinitas mortes de cidadãos em todo o mundo.

Mais uma vez, seu nariz aumentou desmesuradamente e ninguém caiu nessa. Nem mesmo a sempre fiel Austrália que, embora admitindo falhas da OMS, sustentava que não era hora de atacar a diretoria atual, pois ela vinha unindo todos os países numa luta que interessava a todos.

De fato, não se troca de jóquei no meio da corrida, mas The Doald não aceitou esse sábio ditado. Para ele, a indignação e os protestos, até mesmo dos bons aliados europeus, não importam para o país mais forte militar e economicamente do mundo.

O que importa mesmo é sua reeleição à presidência dos EUA. Hoje, os prognósticos não são favoráveis.

Em recente pesquisa da CNN, Joe Biden vence o presidente atual por 53% x 42%. É um resultado que, com pequenas variações, tem se repetido em outras pesquisas, nos últimos seis meses.

Como eleitores republicanos e democratas têm se mostrado fieis a seus candidatos, a posição dos independentes pode ser decisiva. E nesse segmento o democrata também se sai bem. Ganha por 52% x 40%.

Por sua vez, a Real Clear Politics, que apresenta a média dos resultados das principais empresas do ramo, mostra Biden deixando o rival comendo poeira: 6,4 pontos atrás.

É fato que, como nos EUA, são os representantes dos estados é que votam em número proporcional a seus respectivos colégios eleitorais. Foi assim que The Donald derrotou madame Clinton, apesar de ter menor número de votos no total dos eleitores.

Além disso, há estados que apoiam sempre um dos partidos e outros tem posições variáveis. O que decidiu a vitória do republicano foram os estados desse grupo.
No momento, Biden vai bem na maioria deles. As pesquisas o colocam na frente no Arizona, Pensilvânia e Wisconsin.

A disputa é cabeça a cabeça em Michigan, onde o republicano venceu, nas eleições de 2016. Na Florida, o democrata está 6 pontos adiante.

O ex-vice de Obama deve estar rindo sozinho. Se a eleição fosse agora, ele poderia já estar discutindo com sua esposa a gravata que usaria na posse.

Mas isso será em novembro, daqui a sete meses. Não se sabe como estarão os EUA nesta época em termos de economia e empego.

No momento, situação já é bem má. Para alguns observadores o desemprego já se aproxima de 30%. E 15% da população devem cair para a pobreza.

Os eleitores costumam ser muito ligados no presente. O grande trunfo da campanha de reeleição, a pujança econômica e o baixo desemprego, ficarão provavelmente como uma lembrança, talvez forte, mas não mais do que agradável.

Hoje, ninguém duvida de que o fato de “sentir-se bem” pesa consideravelmente na escolha dos eleitores.

Quanto mais tempo a pandemia continuar, menos tempo haverá para a recuperação econômica poder dar frutos.

Teme-se (e com razão) que Trump vá tentar por a carroça antes dos bois, abrindo a economia e restringindo o confinamento antes do perigo da pandemia ter se minimizado.

Nesse caso, pode ser que até se consiga fazer voltarem os bons números no PIB e no desemprego. Mas vai custar muitas vidas e uma provável derrota eleitoral.

Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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