Correio da Cidadania

Netanyahu renega compromissos patrocinados pelos EUA

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Biden Won't Stop Netanyahu's Judicial Coup
No ano passado, na Cisjordânia ocupada, os conflitos entre o exército de Israel e os palestinos cresceram vertiginosamente. Mais por conta do elevado aumento e agressividade da repressão militar, que foi desencadeada ferozmente para destruir os novos movimentos pró-independência da Palestina, cada vez mais populares na região.

Nada menos de 220 palestinos (entre civis e militantes), inclusive 48 crianças, foram mortos em ataques israelenses, sendo que os grupos rebeldes, além de alguns atiradores solitários (os chamados lone wolves) mataram 30 judeus, entre eles uma criança.

Com a vitória da extrema direita nas últimas eleições, as ações bélicas do governo de Telavive tornaram-se ainda mais violentas. Os raids, quase diários, nos quais forças armadas de Israel atacavam de surpresa alvos em cidades da Cisjordânia, fazendo muitas vítimas também entre civis inocentes.

Por sua vez, moradores dos assentamentos judaicos, que há anos destruíam plantações de vizinhos palestinos, multiplicaram seus atentados, mobilizando turbas de até centenas de membros vociferantes.

Nos dois meses de 2023, 61 palestinos já caíram sob as balas e mísseis do exército israelense, numa média de 1 morto por dia.

Depois do governo Netanyahu anunciar a legalização de 9 postos avançados na Cisjordânia e aprovar o planejamento da construção de mais 10 mil unidades habitacionais em assentamentos já instalados, os palestinos de toda a região protestaram fortemente contra esse ato ilegal, em terras tomadas deles (AXIOS, 19/2/2023).

Assim, sucederam-se conflitos com os militares israelenses e com os grupos mais agressivos dos assentamentos.

Totalmente desmoralizado há anos, Mohamud Abbas, Presidente da Autoridade Palestina, tomou uma corajosa iniciativa em defesa do seu povo, de olho na melhoria de sua imagem.

Atendendo ao pedido dele, a União dos Emirados Árabes propôs no Conselho de Segurança da ONU uma “resolução que obrigava Israel a, imediata e completamente, cessar suas atividades de assentamento em áreas da Palestina ocupada”.

As resoluções do Conselho de Segurança da ONU têm força de lei, seu cumprimento pelos países do mundo é obrigatório. Para Israel seria inaceitável pois a grande estratégia do governo sionista é espalhar novos assentamentos por toda Cisjordânia e tonar impossível a fundação de um Estado palestino independente.

Biden, como todo presidente dos EUA fora Trump, é contrário aos assentamentos por impedirem a solução dos 2 Estados independentes na Palestina, adotada na maioria das nações civilizadas.

Seria lógico que seu representante na ONU aplaudisse a ideia dos Emirados Árabes.
Mas, entre honrar seus irretocáveis compromissos com os valores humanos e favorecer interesses ilegais de Israel, adivinhem o que ele decidiu... Acertou.

Sentindo que a maioria dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU tendia a votar a proposta dos Emirados, o representante estadunidense preferiu pressionar seu inspirador, Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, que administra, parcialmente, cerca de 40% da Cisjordânia.

Esse cidadão tem um histórico de concessões ao bom Tio Sam. Desta vez, seria difícil: os árabes de toda parte estavam em massa enfurecidos com os massacres promovidos pelos raids do exército judaico em Nablus e Jenin, que deixaram um saldo de muitos palestinos mortos, centenas de feridos e de casas destruídas.

Os EUA não poderiam vetar a resolução quando fosse à discussão da ONU, pois pegaria mal junto aos países aliados, que integravam o conselho, quase todos favoráveis à causa palestina. Biden não iria arriscar seu momentum na guerra da Ucrânia, na qual assumiu a liderança de mais da metade do orbe, na cruzada contra a Rússia.

Mas a diplomacia norte-americana sabe das coisas. Usou seu poder de pressão para fazer Abbas entrar na linha, pedindo aos Emirados que retirassem a proposta original, substituindo-a por outra que, embora rejeitando os assentamentos, não tomavam nenhuma atitude para erradicá-los.

Aliviados por não terem de deixar os EUA irritados, os chefes de governo dos seus satélites, e até os neutros, aprovaram uma resolução que os deixava bem com a opinião pública, evitando arrufos com o país da liberdade.

Em troca da substituição do esboço inicial dos Emirados Árabes, foi proposto e aprovado, em 20 de fevereiro, uma resolução reprovando os assentamentos por obstaculizarem a solução dos 2 estados independentes.

O pulo do gato é que a resolução não é obrigatória (non-binding). Netanyahu pode continuar criando assentamentos à vontade, dando uma banana para resolução da ONU. Documentos críticos dessa ordem já foram aprovados às dezenas contra Israel, e o país sionista, mesmo os rejeitando, continua sendo tratado com respeito pelos países do Ocidente, inclusive firmando alianças.

Segundo fontes diplomáticas da Associated Press, havia outras cláusulas na resolução afinal aprovada: Israel se comprometia a suspender a criação de novos assentamentos por 4 meses e de frentes avançadas, por 6 messes; interromper as demolições de casas palestinas por alguns meses e reduzir o número de raids nas cidades palestinas.

Os EUA, por sua vez, se comprometiam a doar um pacote de auxílios à Autoridade Palestina (Memo, Middle East monitor , 26/2/2023) enquanto Israel faria um ajuste nas relações financeiras com a Autoridade Palestina, que pingaria mais 60 milhões de dólares no tesouro palestino (Smootrich, o ministro das Finanças acabou de declarar que não vai dar um centavo aos palestinos).

Abbas e seus apaniguados acharam ótimo, enquanto os líderes dos movimentos pró-independência criticaram duramente. Estes últimos tinham suas razões. Achavam que as vantagens atribuídas aos palestinos não eram grande coisa. A suspensão das demolições de lares palestinos e a redução dos raids não tinham prazos para terminar.

E os prazos de alguns meses para Israel voltar a anunciar novos assentamento e frentes de trabalho eram muito curtos. Não proporcionavam mais do que um curto alívio aos palestinos, que nem teriam tempo para festejar. Logo voltaria a implacável rotina da extensão constante dos assentamentos.

Como Abbas é um vassalo declarado de Washington, ele e seus parças acabaram cedendo formalmente. E a resolução final foi aprovada. Eles não sabiam o que estavam fazendo.

Alguns dias depois da reunião do Conselho de Segurança da ONU, Biden promoveu, em Aqsa - na Jordânia, a primeira ação do seu governo no Processo de Paz Israel/Palestina, parado desde 2004.

Participaram: Israel, a Autoridade Palestina, os EUA, o Egito e a Jordânia. Foram discutidas as primeiras providências para alargar o caminho da harmonia entre os dois rivais no Oriente Médio.

As conclusões principais foram: Israel se comprometeu a suspender anúncios de novos assentamentos por 4 meses e a legalização de frentes avançadas por 6 meses. Deixou claro seu respeito à resolução da ONU que publicara estas decisões (Times of Israel, 26 de fevereiro).

Não se falou em suspender demolições de casas (aliás, três delas já se realizaram em 6 de março (New Arab,7/3/2023), tampouco em repetir que os raids deveriam se conter um pouco.

Netanyhau não esperou passar um único dia para jogar a última pá de terra na paralisação temporária dos anúncios de novos assentamentos, que sequer ensaiara seus primeiros passos: “as construções e autorizações na Judeia e Samaria (nomes bíblicos da Cisjordânia) continuarão o acordo original planejado e construindo o programado, SEM NENHUMA MUDANÇA. Não há, nem haverá qualquer congelamento”.

Os líderes das duas facções fascistas que integram o novo governo, além da maioria dos ministros, somaram com ele. Ou seja, de uma só vez, o governo sionista negou-se a aceitar a recomendação da ONU, que os norte-americanos tiveram tanto trabalho para arrancar da boca dos representantes palestinos, e as decisões da conferência de Aqsa, com as quais seus representantes oficiais haviam se comprometido.

Não dá para dizer que isso irá danificar o crédito israelense na opinião pública internacional porque já estava perigosamente próximo ao fim. Possivelmente, países do Ocidente e monarquias do Oriente Médio farão de conta que o novo governo sionista-fascista ainda merece respeito. Na verdade, o que os move a fechar os olhos são interesses econômicos (as monarquias árabes) ou políticos (os EUA).

Sucede que neste episódio que estamos expondo os estadunidenses foram solenemente desrespeitados. Afinal, fora por sua pressão que Abbas desistiu de uma proposta de resolução, que daria poder à ONU para forçar Israel a obedecê-la.
E foram eles que organizaram a primeira reunião do processo de paz Israel/Palestina, parado desde 2004.

Em ambos os conclaves, os homens de Biden agiram para conseguir posições favoráveis a Israel, comprometendo-se com os demais países a perfilhar as conclusões, ora jogadas no lixo por Netanyahu.

Ele mostrou sua gratidão com um tapa na cara de Joe Biden. Renegando duas vezes o que tinha aceitado em dois palcos diferentes, Netanyahu preferiu ficar do lado dos fascistas do seu governo contra a posição moderada dos norte-americanos.

Não se passaram 10 dias desde o passa-moleque de Benjamin “Bibi” Netanyahu, é cedo para esperar uma reação de Washington. Há quem aposte que, desta vez, Biden vai falar grosso com Bibi pondo o primeiro-ministro na linha.

De ilusão também se vive.

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Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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