Solução do governo do Texas para o controle da imigração: barbarizar os imigrantes

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Detalhes: Luiz Eça; 18/08/2023

O ódio do Partido Republicano aos imigrantes ilegais, vistos por ele como traficantes e assassinos que “roubam empregos americanos”, chegou a extremos inusitados. A Operação Estrela Solitária, criada pelo governador do Texas, George Abbott, para minimizar a entrada nos EUA pela fronteira com o México desses sujeitos indesejados, horrorizou a opinião pública.

Eles que buscavam uma nova vida, fugindo do inferno da miséria e do banditismo em seus países, encontram novo inferno ao cruzar o rio Grande, que divide os EUA do México.

Sob o ponto de vista dos republicanos radicais, a Operação Estrela Solitária apresentou “resultados animadores” nos últimos 12 meses: 853 migrantes morreram ao tentar penetrar no território texano.

Esse autêntico morticínio foi obra de zelosos policiais estaduais, obedecendo a ordens superiores. Eles colocaram rolos de arame farpado ao longo da margem americana do rio Grande, justamente nas áreas onde o rio é tranquilo, fácil de cruzar. Quem é atraído por esse caminho vai ter de enfrentar a barreira de arame farpado e a brutalidade dos guardas ali postados.

Para fugir a uma recepção nada amigável, muitos imigrantes procuram trechos não guardados pelos sicários da operação Estrela Solitária. Existem, mas não pense que se trata de uma omissão das autoridades texanas.

Elas pensam em tudo. Nesses trechos sem a proteção do arame farpado, a travessia do rio Grande é extremamente perigosa: abundam as correntes rápidas, as corredeiras, as rochas pontiagudas semicobertas pelas águas do rio.

Graças à operação Estrela Solitária (não confundir com o Botafogo), os imigrantes que buscam os EUA têm agora duas opções à sua escolha, uma pior do que a outra.
Felizmente, um dos guardas da fronteira tem alma.

Ele escreveu para seu superior, relatando algumas das consequências das barbaridades praticadas pelo governador do Texas para barrar o ingresso de imigrantes nos EUA e propondo soluções humanitárias para lidar com a questão.

O chefe não deve ter se interessado muito porque o guarda, cansado de esperar pela resposta, acabou levando sua denúncia aos jornais texanos, Houston Chronicle (17/5/2023) e Hearts Newspapers, que as publicaram fielmente.

Segue a narração de alguns casos, aliás, ocorridos em poucos dias.

Depois de atravessar o rio num trecho onde ele corria suavemente, um garoto de 15 anos de idade tentou passar através da barreira de arame farpado. Foi uma missão impossível, ele acabou fraturando a perna direita.

Uma mulher grávida escolheu a mesma opção, e se enredou nos rolos de arame farpado, ferindo-se gravemente. E pior: teve um aborto instantâneo.

Cerca de 120 pessoas, inclusive crianças pequenas e de bebês de colo, ficaram presos entre o arame farpado e o rio. O comando do Departamento de Segurança Pública ordenou que os policiais não as socorressem. Não estamos aqui para ajudar ninguém, tudo que torne a vida dos imigrantes mais difícil é bem-vindo.

Foram retiradas das águas do rio Grande uma mulher e seus dois filhos, que estavam se afogando. A mãe e um dos meninos morreram pouco depois. A terceira criança sumiu, jamais foi encontrada.

Um dos chefes da operação ordenou que os patrulheiros jogassem no rio 25 crianças migrantes, que haviam acabado de cruzá-lo. Entre elas havia até bebês lactantes e uma menina de 4 anos, sofrendo de insolação.

Apesar da temperatura acima de 38 graus e de um sol que queimava, os guardas do estado do Texas foram notificados de que negassem água aos imigrantes, inclusive aos candidatos a asilo nos EUA, por sofrerem perseguições ou ameaças de morte em seus países de origem.

Outro obstáculo aos sonhos dos imigrantes foi colocado no rio Grande: barreiras flutuantes também formadas por rolos de arame farpado.

Um homem com ferimento profundo na perna esquerda contou que sofrera esse ferimento na tentativa de salvar seu filho, “preso numa armadilha na água”, como ele chamou a barreira de arame farpado no meio do rio.

Autoridades do Mexico protestaram contra essa ideia do governo texano porque impediam a navegação nos trechos do rio onde isso é possível.

Mas o governador do Texas deixou-as falando sozinhas. Os métodos selvagens da operação Estrela Solitária provocaram protestos indignados das ONGS de direitos humanos dos EUA e de personalidades, como o presidente Biden, que ameaçou processar o governo texano, exigindo um tratamento humanitário aos emigrantes.

Greg Abbott continuou com uma faca entre os dentes: ele e a responsável pela execução da nova operação rugiram em resposta, reafirmando a importância de suas medidas para fechar as portas do Texas às pessoas que tanto mal causam à democracia norte-americana.

O governo Biden resolveu agir: o departamento de Justiça federal iniciou uma investigação sobre os métodos bárbaros, empregados pelo governo Abbott para impedir imigrantes de adentrarem os EUA (Daily Brief, 21/7/2023).

Que chefes republicanos fanáticos lancem operações como as selvagerias perpetradas na fronteira mexicana por seu governo do Texas não é surpresa. O que choca é o comportamento dos policiais e soldados que executam essas ações malignas.

Afinal, eles são gente comum- muitos têm família, filhos, pais idosos. Gente como os imigrantes latino-americanos. Será que não percebem que estão tratando seres humanos como animais daninhos? Que são responsáveis por inúmeros e severos sofrimentos de pessoas inocentes?

Os policiais texanos agem como Eichmann, que mandava milhões de judeus para a morte, sem dor na consciência, pois estava obedecendo seus chefes, fazendo suas obrigações.

Ainda que o terror instalado na fronteira seja eliminado, os imigrantes não podem ainda respirar tranquilos. Num futuro próximo, novas e assustadoras ações não devem ser descartadas.

Donald Trump tem grande chance de vencer as eleições presidenciais de novembro de 2024. Nas eleições de 2020, ele fez do combate à imigração o tema central de sua campanha. Pouco antes e também pouco depois do pleito, declarou que sua administração deportaria cerca de 3 milhões de imigrantes ilegais com ficha criminal, que viviam nos EUA (Pew Research Center, 2/3/2020).

Sendo o número de imigrantes com esses registros milhares de vezes menor do que 3 milhões, The Donald, provavelmente, está incluindo nessa conta uma quantidade inestimável de imigrantes inocentes. Ele costumava referir-se a essas pessoas, de forma geral, como “traficantes e criminosos”.

Na sua presidência, o xenófobo republicano fez de tudo para livrar os EUA dos perturbadores do american way of living. A maioria de suas inúmeras leis, decretos, regulamentos e atos, versam sobre três temas básicos: a expulsão de imigrantes sem processo legal, a separação das famílias e o início da construção do muro, que separaria os EUA do México, de onde vinham multidões de seres indesejados para tentar penetrar na terra do amor.

O governo Trump decretou tolerância zero em relação aos imigrantes ilegais. Todos eles seriam deportados para o México e a América Central, sem processo legal, uma prática comum nos regimes autoritários; 400 mil refugiados foram detidos e expulsos entre março de 2020 e janeiro de 2021, data em que The Trump foi despejado da Casa Branca, apesar dos seus protestos.

Em consequência de tal aberração, muitos pais foram mandados de volta para seus respectivos países sem seus filhos, que ficaram para atrás, sob a custódia do governo norte-americano. Cerca de 3.900 crianças foram separadas de suas famílias, entre 2011 e 2013, graças a Donald Trump.

Para o Human Rights Watch, a política trumpiana de tolerância zero é “ilegal e viola os direitos humanos”.

Assim entende o presidente Biden. No seu governo, a separação de famílias foi revogada e formou-se um grupo de trabalho para localizar as crianças perdidas na vastidão da América. No entanto, cerca de mil delas ainda não foram encontradas.

Apesar de seus esforços para erradicar as principais políticas anti-imigrantes do seu antecessor, Biden é acusado por muitas ONGs estadunidenses de direitos humanos de ter apenas reciclado essas políticas. Critica-se especialmente o decreto do presidente democrata que condena imigrantes ilegais à proibição de entrar nos EUA durante 5 anos. Além de os tornar presumivelmente “inelegíveis para asilo”.

No campo republicano, The Trump e seu competidor, Ron de Santis, compartilham o ódio aos imigrantes. Quando, por exemplo, ambos declararam que, na presidência, promoveriam “a maior deportação da história”.

A boa notícia é que Santis não tem a menor chance de ser escolhido como candidato presidencial do Partido Republicano à eleição, em novembro de 2024.

A má notícia é que Trump, no momento, é o favorito na provável disputa com Biden. Se as coisas não mudarem, ele voltará a refestelar-se nas almofadas do poder.

E que Deus salve a América.

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