Correio da Cidadania

O terror mora na Cisjordânia

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Soldados e colonos de Israel assaltam casas, roubam painéis solares e  atacam palestinos – Monitor do Oriente
Os primeiros assentamentos de colonos judeus na Cisjordânia começaram em 1967, logo após a tomada da região pelas forças de Israel. Desde então foram aumentando até alcançar uma população de 700 mil habitantes. O objetivo do governo é espalhar assentamentos judaicos por toda a Cisjordânia, tornando a independência da Palestina inviável, o que faria a “solução dos 2 Estados” ser praticamente impossível.

No entanto, a partir dos anos 70, os EUA e o Ocidente passaram a defender sua aplicação de modo tão veemente, que Netanyahu – que foi quem mais tempo esteve no poder - resolveu se declarar a favor. Não era verdade e os assentamentos continuaram sendo construídos a toque de caixa.

Com o ataque do Hamas de outubro de 2023, Israel entrou em guerra contra, supostamente, contra este grupo. Identificada com esse grupo pelo establishment sionista, a população civil palestina tornou-se objeto do ódio e de ataques de toda a ordem.

Na Cisjordânia, os colonos fizeram sua parte. Tornaram-se mais violentos, não hesitando em matar a tiros palestinos cuja única culpa era viverem na Cisjordânia.

E estas incursões aumentaram assustadoramente: passaram de uma a 7 por dia. Os dois episódios abaixo ilustram a frieza com que os colonos tratam as suas vítimas.

O primeiro aconteceu em outubro, época da colheita das oliveiras, o principal produto agrícola da Palestina. Alegres, talvez apreciando a abundância de azeitonas que faziam pender os ramos das árvores, o camponês Adeh e sua família (mulher e filhos pequenos) estavam entregues à colheita, quando notaram quatro colonos israelenses armados, que se aproximavam vociferando.

Aterrada, toda a família correu para se salvar do ataque iminente, mas Sadeh não foi feliz, ouviram-se dois disparos e ele caiu, morto. Nenhum dos assassinos foi preso.
Fortemente armados, os criminosos dos assentamentos agora mais agressivos, mortíferos e ousados, contam com o apoio do próprio governo sionista.

Mais de 2000 lares palestinos já foram danificados ou arrasados totalmente, em 84 cidades, vilas e arredores. Até 7 de outubro, não eram muitos os colonos que portavam armas de fogo e as usavam contra os palestinos.

Agora seu número vem aumentando, e será muito maior depois de chegarem às 10 mil armas que Ben Gvir, o fanático e feroz ministro da Segurança Nacional, anunciou que seriam distribuídas nos assentamentos.

Reflexos desse compromisso já se notam em localidades como Turmusayya, quando 400 colonos foram vistos marchando pela estrada principal, depredando carros, casas e plantações no caminho.

Ações que continuaram ao chegarem a seu destino, uma comunidade palestina. Durante as cenas brutais que se desenrolaram, informou o prefeito Lafif Adeeb que um morador foi assassinado e 12 feridos à bala e a turba incendiou mais de 60 veículos, 30 lares e destruiu dezenas de oliveiras.

Os colonos criminosos continuam livres e soltos. Turmusayya foi mais um pogrom sem consequências.

No talvez mais pavoroso pogrom, de Huawei, que encheu o mundo de horror, somente 6 dos criminosos foram presos, porém ficaram pouco tempo atrás das grades. Liberados, esperam o resultado de uma investigação “pro forma” que o governo mandou fazer para satisfazer a opinião pública internacional.

E o próprio primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em vez de solidarizar-se com a comunidade devastada de Huwara, preferiu dirigir-se aos colonos, recomendando que deixassem esse trabalho para o exército. Soldados, aliás, que já demonstraram estar ao lado dos desordeiros.

Eles raramente intervêm nos atentados. Limitam-se a acompanhar os agressores, quando não participam ativamente das brutalidades. Alguns palestinos reagem, mas enfrentando adversários melhor armados e protegidos, eventualmente por soldados, acabam, em geral, presos.

Os agredidos costumam ser inculpados pelas agressões sofridas. Ben Gvir prometeu a seus adeptos em reunião púbica em reunião pública: “Esmagá-los (os palestinos)um por um”.

E seu aliado Bezalel Smotrich, comentando a bárbara ação em Huwara, vociferou: “Deve ser aniquilada”. Embalados pelas palavras dos seus líderes e pela sua impunidade, os colonos dos assentamentos agiram.

Entre 1 de janeiro e 6 de outubro de 2023 (segundo a Anadolu Agency), as forças de segurança de Israel e colonos mataram 192 palestinos na Cisjordânia – incluindo 40 crianças.

De 7 de outubro até os dias de hoje, 256 palestinos já tombaram assassinados pelos seus vizinhos israelenses. Uma dessas matanças de pacíficos civis palestinos ocorreu ne vila de Qusra e arredores.

Perseguidos por uma chusma de colonos judaicos, um grupo de palestinos se refugiou numa casa para se proteger dos tiros disparados contra eles. Os colonos voltaram naquela noite, destruindo carros e linhas de eletricidade.

Nos dias seguintes, a estrada para a vila foi cortada pelos colonos, que voltaram pouco tempo depois, reforçados por soldados.

Apesar dos tiros que choviam, os palestinos não se entregaram. Mas pagaram um preço alto: três do seu grupo acabaram mortos por colonos e um por soldados, apesar dos esforços dos médicos do hospital local.

No dia seguinte, os palestinos realizaram o funeral das quatro vítimas. No caminho entre o hospital e as moradias delas, o comboio funerário caiu numa emboscada dos colonos, que apedrejaram os veículos e seus ocupantes. Alguns deles reagiram, atiraram as pedras de volta, ao que os colonos e soldados responderam com saraivadas de balas, matando um homem e seu filho.

Sujeitos a violências quotidianas como pedradas, agressões físicas, ameaças de morte, destruição de árvores e colheitas, roubos de carneiros, danos em casas e carros, incêndios nas construções das suas propriedades e até mesmo assassinato, os agricultores palestinos vivem num clima de terror.

Mais de mil já abandonaram tudo (The Wall Street Journal,3/12), fugindo para o exterior.

Felizmente, a queda do prestígio internacional de Israel, causada pelas barbaridades cometidas na Palestina, produziu uma onda de manifestações antigoverno sionista nas cidades do Ocidente (só um protesto em Londres reuniu cerca de 800 mil pessoas).

Nos EUA, a cumplicidade Biden-Netanyahu começou a ser denunciada nas ruas como desrespeito aos valores da civilização norte-americana.

Preocupado com a associação do seu nome à tolerância com as brutalidades a rejeições dos direitos humanos em Israel, Biden criticou fortemente a campanha brutal dos colonos e ameaçou até punir aqueles que as continuassem praticando.

Pragmático, Netanyahu também fez saber que os colonos que se comportassem como selvagens seriam investigados e levados a julgamento. Isso até pode ser eficaz durante um certo tempo. Mas, o primeiro-ministro sionista acabará por soltar as feras.

Afinal, estão cumprindo à risca seu papel de colaborar para a anexação da Cisjordânia, tornando a vida extremamente perigosa e sem chances para os palestinos, o que os levaria a se mudarem para outras praças menos hostis.

Não foi por antiguidade que Netanyahu nomeou o general Yoav Gallante ministro da Defesa de Israel. Foi por sua posição diante dos palestinos: “nós estamos lutando contra animais humanos e agindo adequadamente”, disse.


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Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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