Correio da Cidadania

O day after de Gaza

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Gaza, arrasada por la guerra: las impactantes imágenes del antes y el  después

"Falando a jornalistas em Israel, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, contou que exortara o governo israelense a permitir que os palestinos desalojados voltassem a suas residências no norte de Gaza.

Na verdade, poucos palestinos dessa parte da cidade vão encontrar suas casas em condições de habitação. Nada menos do que 85% foram avariadas seriamente ou reduzidas a escombros pelos bombardeios israelenses.

O problema é que o exército de Israel não pretende atender ao pedido de Blinken. A menos que o Hamas liberte os reféns que mantém presos. Um oficial de alta patente explicou ao Axios: ”Não vamos deixar que os palestinos voltem a suas casas se não houver progressos na libertação dos reféns”.

Portanto, caso o Hamas não solte os reféns, Israel continuará proibindo os palestinos de retornarem a suas casas. É como se o Hamas e o povo palestino fossem a mesma coisa, inimigos mortais do país sionista e dos judeus que o habitam.

Modo de ver compartilhado por boa parte dos israelenses, especialmente entre poderosas lideranças. O que torna também muito difícil conseguir que Israel apoie uma solução humanitária para os habitantes de Gaza, após a guerra acabar com a esperada derrota do Hamas.

Veja agora o que pensam sobre o assunto os chefes da “ultraextrema-direita”.
Para Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e supervisor administrativo da Cisjordânia ocupada, e Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional, Israel deve “encorajar a emigração dos palestinos de Gaza (em vez de “encorajar”, leia-se “obrigar”, mais realista).

Quando continuarem vivendo no enclave apenas de 100 mil a 200 mil palestinos, será mais fácil lidar com “essa gente” do que com os 2,3 milhões de palestinos que habitam Gaza, explicam os ultras. Não há posição oficial do governo de Telavive, diz o premiê.

A solução do Hamas - governo eleito pelo povo de Gaza – nem sequer é levada em consideração pelo chefão sionista e seus acólitos.

Por enquanto, Bibi limitou-se a informar que, seja como for, o exército israelense continuaria controlando a segurança de Gaza, por um período indefinido (Al Jazeera, 9/11/2014).

Até poderia ser governada por palestinos, mas jamais pelo atual presidente da Autoridade Palestina, Mohamed Abbas.

Se Netanyahu rejeita Abbas, um colaborador de Telavive, que reprime os grupos anti-Israel na área A da Cisjordânia, dá para imaginar que tipo de palestino seria aceito no futuro governo de Gaza.

De qualquer maneira, com o exército israelense responsabilizando-se pela segurança da região, é evidente que os gazeanos continuariam submissos ao diktat do regime sionista.

Em reunião com chefes do exército de Israel, o secretário de Estado, Anthony Blinken, disse que “Israel não deve reocupar Gaza”. Em resposta aos que temem o celebrado apelo “Israel precisa encorajar a migração”, ele assegurou que o regime Netanyahu não iria forçar nenhum palestino a se mudar para o exterior (seria um crime de guerra, de acordo com a lei internacional).

E Netanyahu não vacilou em confirmar, alguns dias depois. Não fique muito animado com essa suposta concessão israelense aos direitos dos palestinos.

Logo depois da fala do chefe, o ministro das Finanças, o ultradireitista Bezalel Smotrich apressou-se em desmenti-lo: “nós trabalharemos para possibilitar a abertura dos portões de Gaza para a imigração voluntária dos refugiados (The Libertarian, 10/11/2024.)

Essa era a posição israelense em outubro, quando a revista online +972 reportou que Gamaliel, o ministro de Inteligência israelense, recomendara a transferência forçada dos palestinos para o deserto do Sinai, no Egito.

Mas os egípcios não aceitaram e o governo sionista voltou-se para a África negra. Militares, enviados por Telavive, mantiveram contatos com diversos países da região, como o Congo, Ruanda e Chade.

Enquanto isso, o próprio Netanyahu, com a cara lavada, apresentou na União Europeia, a proposta de remover os palestinos para o Sinai. Sabe-se que a Áustria e a República Tcheca, além de outros países europeus, gostaram da ideia (Financial Times, 1/1/2024) mas o general Sissi, ditador do Egito, não gostou e nada foi resolvido.

O documento, que fora vazado do ministro de Inteligência, definia que os palestinos que migrassem para o Sinai seriam alojados numa cidade de tendas para posteriormente passarem a habitar comunidades permanentes construídas no deserto. Uma zona militar com muitos quilômetros de extensão impediria que qualquer migrante palestino voltasse a Gaza.

Não me parece que estas revelações impliquem em uma mudança “voluntária” dos moradores de Gaza como Netanyahu garante. Israel não precisaria forçar muito para palestinos deixarem a cidade. As bombas, mísseis e drones do governo Netanyahu se encarregariam dessa tarefa.

Os maciços e constantes bombardeios israelenses já tornaram Gaza inabitável.
Como poderão os palestinos viverem numa cidade sem o mínimo necessário para a vida, como alguns números abaixo comprovam; 65 mil habitações de Gaza foram destruídas e 290 mil danificadas parcialmente, deixando 1,9 milhão de palestinos 85% da população sem teto.

No período de 2014/2017, na guerra contra o Estado Islâmico, os EUA realizaram 15 mil ataques; em apenas três meses Israel atacou Gaza 22 mil vezes; 104 escolas foram destruídas.

Atualmente, têm acesso a água apenas 7% dos habitantes que viviam em Gaza nos anos anteriores à guerra. Toda a infraestrutura urbana sofreu perdas de difícil recuperação.

Não há indústrias (eliminadas pelos bombardeios). Apenas 13 dos 36 hospitais estão em condições de funcionar e assim mesmo parcialmente.

Esse panorama tenebroso ainda vai piorar porque, conforme o chefe do Estado-maior das forças armadas israelenses, a guerra prosseguirá durante todo o ano de 2024.

A redução dos ataques israelenses, solicitada por Blinken, já está acontecendo no Norte de Gaza. Para compensar, o comando israelense aumentou os bombardeios no Sul da cidade e em outras regiões do estreito, aumentando assim o número das mortes palestinas e as devastações de suas cidades.

É bizarro ver Biden e seus acólitos defenderem os direitos humanos dos palestinos, enquanto os EUA enviam bombas de 100 e 200 toneladas para Israel lançar sobre Gaza, na matança desse sofrido povo.

O fim da guerra de Gaza provavelmente só deverá acontecer depois das eleições norte-americanas acontecerem. Seja quem vencer, Israel insistirá em manter Gaza e o povo palestino sob seu domínio, com apoio dos EUA, já que os dois candidatos são amigos do peito de Bibi.

Há uma pequena diferença: vencendo Biden, as conclusões serão maquiadas, transmitindo uma falsa aparência de justiça, para satisfazer o presidente e os estadistas europeus.

Se vencer, Trump não terá esses escrúpulos pois sabe que os farisaicos políticos dos EUA e estadistas da Europa agirão como sempre fizeram, limitando-se a criticar.

As perspectivas do day after da guerra de Gaza não são nada promissoras. As massas que exigem um cessar-fogo nos EUA, Reino Unido, Canadá e nos países muçulmanos tendem a crescer.

Estimuladas pelos crimes de guerra israelenses, não irão abandonar Gaza. A rua pode fazer valer sua voz.

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Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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