Correio da Cidadania

A seis meses da eleição, Trump parece atropelar

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What we know about the Donald Trump and Joe Biden presidential debates -  ABC News
A seis meses antes das eleições, Trump aparece 0,7% na frente de Biden, pela FiveThirtyEight, que dá a média das principais pesquisas. Uma diferença de 0,7% representa apenas um empate.

Para saber quem está na frente o que mais importa é a performance de Trump e Biden em itens como: disputa de votos nos swing states; o desempenho na campanha eleitoral; as posições públicas; qualidades e defeitos pessoais, as propostas nos temas mais valorizados; as atuações na política internacional e em fatores circunstanciais.

Levando tudo isso em conta, Trump está se saindo melhor. Por margem estreita, é verdade.

Inicialmente, convém lembrar que nos EUA não há votação direta. Os votos dos eleitores são computados por estado e quem conseguir o maior número conquista todos os pontos atribuídos previamente a cada estado, conforme sua participação na população do país.

Quem somar o maior número de votos no total nacional leva a Casa Branca, com todos os poderes que a Constituição lhe dá.

Na grande maioria dos estados, vence sempre o mesmo partido - o Democrata ou o Republicano. Isso só não acontece nos chamados swing states: Pensilvânia, Michigan, Georgia, Arizona, Nevada, Carolina do Sul e Wisconsin, onde os resultados são incertos. É muito difícil prever quem será o vencedor em cada um destes estados.

Acredita-se que aquele que vencer na maioria dos swing states, ganha na certa. Nas eleições de 2020, Biden foi o primeiro colocado em 7 dos 10 swing states, deixando Trump comer poeira.

Atualmente, seis meses antes das eleições, as coisas estão pintando na direção contrária. Trump está ganhando. E de goleada, 6 a 1. Não é o que os marqueteiros democratas esperavam.

Eles visualizavam levas de trumpistas a abandonar seu candidato à suprema liderança do país, devido à sua nutrida ficha policial. De fato, The Donald é objeto de 88 acusações e 4 casos criminais, um deles tão grave que a justiça tascou-lhe uma multa bilionária.

Normalmente, os republicanos se mostram flexíveis quanto aos hábitos de Trump, não exigem dele um comportamento semelhante ao do Papa Francisco. Mas, ninguém tendia a apreciar um político que frequentava as cortes criminais, com lugar reservado no incômodo assento dos réus.

Trump não entregou os pontos contra a perseguição de que se dizia alvo. Fanfarrão como sempre, declarou-se perseguido por uma récua de politiqueiros e negocistas.

Sabendo que não conseguiriam novamente “roubar nas eleições,” estariam lançando calúnias, cuidadosamente arquitetadas, para justificar a abertura de processos mentirosos contra ele.

Mas não vencerão, urrava Trump, porque tinha a seu lado a verdade, e o povo saberia lhes dar o justo corretivo nas urnas. Até o dia das eleições, ele seguiria desmascarando essa gente. Uma vez eleito, os faria pagar por suas torpezas, investigando suas armações e punindo-os com a força da lei.

Em suma, de perseguido, Trump se tornaria um perseguidor. Enquanto desfilava sua fúria, Trump, acolitado pelos seus parças, martelava seu sucesso na economia e os fracassos de Biden na inflação. Justamente nas questões que mais preocupam os eleitores.

Biden desbota; Trump decola

Parece que está funcionando. Recente pesquisa comparava as opiniões dos sobre o sucesso dos dois candidatos em questões fundamentais.

Na Economia, Trump superou Biden por 46% a 32%. No quesito da inflação, a diferença pró-Donald foi igual: 44% a 30%.

Pesquisa da IPSOS, ouvindo republicanos de carteirinha, deixou o grupo de Biden desolado: 80% disseram que, mesmo condenado, Trump continuaria apoiado por eles; 16% iriam repensar sua posição e só 4% sairiam em busca de soluções menos suspeitas.

Lembre-se que, na época da eleição de 2020, Biden era visto como um senador oportunista, moderado honesto, experiente e fiel ao establishment, enfim, um político democrata como tantos outros. Mas que ganhou evidência por ter sido vice de Obama

Nessa ocasião, a imagem do ainda presidente Trump era aterrorizante para metade dos norte-americanos e gloriosa para a outra metade. Biden acabou ganhando as eleições de 2020 não tanto por seus méritos, mas por ser, para democratas e independentes, o único candidato capaz de salvar o país de Trump e de mais quatro anos desastrosos para os EUA.

Agora, apesar de carregar dúzias de processos criminais nas costas e do canhestro golpe antidemocrático de 6 de janeiro, que ele patrocinou, Trump parece revigorado pelo incondicional apoio de 80% dos republicanos e dos números positivos das pesquisas.

Com base em todos estes fatos, parece que o apelo anti-Trump já não é tão forte quanto na eleição passada.

O errático Biden tem sofrido críticas bem mais duras do que anteriormente.
Ele precisaria contribuir com ações de maior significação, que acentuem a diferença entre ele e o magnata.

A derrota da Ucrânia

Ele tem menos de seis meses para realizar este feito. Na guerra da Ucrânia, Biden foi rápido e eficiente. Logo na invasão da Rússia, ele assumiu a liderança dos países da Europa e de aliados democráticos (ou quase) da Ásia e das Américas.
Clamou contra o atentado à soberania da Ucrânia e aos direitos humanos perpetrado pela Rússia.

Convocou os países do bloco ocidental a enviarem armas e munições para defender os ucranianos. Promoveu a condenação de Putin pelo ICC, como criminoso de guerra e lançou duras sanções contra a Rússia (que não ligou, pois já estava sancionada desde 2014).

E assim a causa ucraniana foi adotada pela humanidade, com exclusão de Israel, China e a maioria dos países da África, da América do Sul e dos países islâmicos.

Quando as tropas do autocrata Putin avançaram até chegar perto de Kiev, foram detidas (por falta de soldados) pelos ucranianos, já usando reforços do Ocidente. Seguiu-se a retirada dos russos derrotados, enquanto o prestígio de Biden se firmava em todo o mundo.

Com os lances bélicos do presidente, defendendo um pequeno país contra o grande urso autocrático, seus índices nas pesquisas subiam acentuadamente nos EUA.
Reforçados, os russos interromperam sua fuga e se estabeleceram na região aliada de Luhansk.

Por sua vez, Biden continuou enviando bilhões em armamentos à Ucrânia e urgindo os aliados a o imitarem. Quando se julgou que o exército do presidente Zelensky já estava suficientemente armado e organizado para encarar o inimigo, a coalizão ocidental lançou uma esperada contraofensiva.

Foi um fracasso total. Os exércitos da democracia avançaram uns poucos quilômetros e não conseguiram ir adiante, sofrendo pesadas baixas diante das fortemente guarnecidas trincheiras russas.

E a contraofensiva acabou sem comemorar um único triunfo. Em vez de avançar, os ucranianos foram obrigados a cair na defensiva. A calmaria que se seguiu durou meses. E o clima nos EUA e na Europa foi mudando.

O povo e os governantes continuaram a favor do governo de Zelensky, mas o entusiasmo se fora. Políticos, especialmente estadunidenses, começaram a reclamar do excesso de gastos em armas para a Ucrânia. Dois países - Hungria e Eslováquia - saíram da coalizão democrata. Não se conta mais com qualquer ajuda da parte deles.

Na Câmara dos Representantes dos EUA, os republicanos e muitos democratas estiveram perto de vetar um pacote de Biden, incluindo 60 bilhões de dólares para reforçar as forças de Kiev com munições e avançados aviões, tanques e outros veículos blindados.

Somando-se a equipamentos militares enviados pelo Reino Unido, Alemanha e Itália, principalmente, Zelensky ficará com um exército de respeito, em condições de deter o avanço russo, desenvolvido no leste e no norte do país. Capaz mesmo de recuperar todas as terras ucranianas tomadas pelo exército de Putin.

É uma grande oportunidade para Biden. Se vierem vitórias, suas chances de reeleição poderão se tornar mesmo prováveis.

Mas até os novos armamentos chegarem, serem incorporados às tropas de Kiev, deslocados para os fronts mais adequados e registrado vitórias significativas, será necessário muito tempo.

Biden só dispõe de seis meses, prazo do qual se deve reduzir mais alguns dias, talvez semanas, suficientes para os eleitores digerirem o que Biden realizou. E transformarem o orgulho nacional em votos para o campeão da democrata.

Não é fácil que essa história aconteça. Está mais para conto de fadas do que para realidade.

O genocídio

Na guerra de Gaza, Biden tem outra chance de elevar sua imagem e assim conseguir permanecer na Casa Branca.

Desde o início das hostilidades o presidente democrata declarou incondicional apoio a Israel. Ou seja, somaria com Netanyahu e seus parças em qualquer situação, mesmo ajudando os sionistas a violarem os direitos humanos, bombardeando civis palestinos, destruindo suas casas, seus hospitais, suas escolas, suas famílias.

Israel receberia bombas de 1 e 2 toneladas, capazes de transformar edifícios em montes de escombros. Por sua vez, a comunidade internacional marchou em peso, condenando veementemente as ações terroristas do Hamas.

Para justificar a ferocidade inusitada da sua retaliação, os israelenses espalharam fake news de crueldades inomináveis, mostrando o Hamas e os palestinos como um mix dos fanáticos do estado islâmico com os selvagens mongóis da Idade Média, animais humanos como os qualificara o falante general Gallant, comandante das forças israelenses.

No começo, a maioria das pessoas acreditava nessas acusações aterradoras, tendo Biden jurado que vira vídeos de terroristas degolando 50 bebês (eram mentiras, logo desmascaradas).

Aos poucos se verificou que as barbaridades atribuídas aos palestinos eram apenas propaganda de guerra israelense, enquanto que a matança de civis palestinos inocentes era bem real.

E assim a opinião pública mudou de atitude. Condenações das malignas violações dos direitos humanos e das leis internacionais passaram a partir de toda parte.
Manifestações exigiam um cessar fogo e a garantia de fornecer o sustento das populações punidas pelo que não fizeram.

E a Europa viu a realidade, passou a pressionar Bibi pelo cessar fogo e pelo cancelamento do bombardeio de Rafah, uma cidade na fronteira com o Egito onde se concentravam 1.500.000 habitantes, a maioria fugindo das bombas de Israel.

Chegou-se a um ponto em que Bibi e seu cúmplice, Joe Biden, viram-se sozinhos no mundo. Como dizia pesquisa da CNN, 71% dos norte-americanos desaprovavam o modo com que Biden dirigia a política externa. Só 28% o achavam ótimo.

Agora também sob o fogo do seu próprio partido, das personalidades de respeito internacional, de juristas, de massas de universitários, o oportunista Biden resolveu mudar.

Passou a criticar posturas israelenses, exigir garantia de alimentação dos palestinos, de proteção dos palestinos nas ações bélicas sionistas, os civis.

Por fim, Biden ameaçou deixar de municiar Israel, caso Bibi não tratasse os palestinos como gente.

Quando foi anunciado o ataque a Rafah, Biden afirmou que sem um plano para evitar uma catástrofe humana, os EUA eram contra.

Não passava de retórica. Bibi não apresentou nenhum plano aos EUA. E nada aconteceu

Talvez o norte-americano tenha então se lembrado do seu sonho de reeleição. E talvez se decidido a agir.

Em declaração à CNN, Joe Biden afirmou que no caso de uma invasão israelense de Rafah por terra, os EUA não mais forneceriam a Israel as bombas pesadas de 1 e 2 toneladas.

No problems para Israel. Seu exército já tem em estoque de bombas estadunidenses que dariam para varrer Rafah da superfície da terra, conforme oficiais sionistas informaram.

Quem irá ceder? Biden ou Bibi?

Caso Israel invada Rafah, Biden cumprirá sua ameaça de não enviar mais bombas de alta tonelagem a Israel? Como ficará a relação entre os dois países?

Apesar do entusiasmo dos progressistas e esquerdistas, nada deve mudar. Jack Lew, embaixador dos EUA em Israel, deixou tudo bem claro em entrevista ao Canal 12: “até agora, os EUA têm aprovado as operações de Israel em Rafah, que continuam a escalar. O que o presidente disse foi: ele não pensa que é uma boa ideia lançar uma campanha maciça em terra numa área pesadamente habitada”.

Cada vez fica mais difícil votar em Biden.

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Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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