EUA-Israel-Irã: as opções estão saindo da mesa
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- Luiz Eça
- 21/01/2012
A lei de boicote do petróleo iraniano era a grande cartada para forçar o Irã a desistir do seu projeto nuclear militar, caso existisse, ou, mais do que isso, destruir a economia do país e, por tabela, a revolução islâmica. Com clara inspiração do governo Netanyahu, foi imposta pelos congressistas republicanos e democratas, financiados pela AIPAC (lobby judaico-americano), goela abaixo do presidente Obama.
Sendo o Irã um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, sua saída do mercado poderá levar o preço do produto às alturas e devastar a economia mundial. Obama tratou de amenizar esse problema, conseguindo exceções à lei que lhe permitem tomar medidas para evitar o pior.
Sancionada pelo presidente, essa nova lei anti-Irã acabou admitindo que Obama isentasse da proibição certos países, que em função de circunstâncias especiais seriam prejudicados. Com isso, pensava-se em forçar a diminuição da exportação do petróleo do Irã, mas circunscrevendo os danos somente à sua economia.
Contava-se com um aumento da produção de petróleo da Arábia Saudita (principalmente), Kuwait, Emirados Árabes e possivelmente de Angola, Nigéria e Líbia para poderem substituir as exportações do Irã.
Mas, as coisas não estão dando certo. A China e a Índia, que importam do Irã, respectivamente 6% e 9% de suas necessidades de petróleo, não podem interromper estas operações por estarem ligadas a acordos econômicos irretratáveis. O Japão e a Coréia do Sul, também grandes importadores de petróleo do Irã, não têm interesse nenhum em mudar de fornecedores. E a Comunidade Européia faz questão de proteger a Grécia (30% de seu petróleo vem do Irã) e outros países em situação crítica de problemas que a substituição acarretaria, através de aumentos de preços exagerados e imprevisíveis.
Desse modo, as perspectivas são de que a economia iraniana não sofra muito com um bloqueio apenas parcial de suas exportações. Considerando ainda que os percalços inevitáveis no processo de substituição gerarão alarme num mercado muito sensível como é o do petróleo, isso acabará elevando os preços, beneficiando os produtores, inclusive o Irã.
Com a frustração provável de mais este golpe contra o Irã, as alternativas estarão quase que totalmente desaparecidas da mesa. Uma das que restará, muito cara aos extremistas do Likud, é certamente o bombardeio das instalações nucleares iranianas.
Sabe-se agora que o primeiro-ministro de Israel e o ministro da Defesa, Ehud Barak, cogitaram apelar para a guerra nos últimos meses do ano. Eles não queriam de jeito nenhum perder esta oportunidade de liquidar o único país do Oriente Médio que pode ombrear em força com Israel.
O perigo do Irã nuclearmente armado atacar Israel e, posteriormente, até a Europa e os EUA, é absurdo, um mero pretexto. Barak já admitiu publicamente, em entrevista ao Der Spiegel, não acreditar que o programa nuclear militar iraniano destina-se a destruir Israel. Afinal, disse ele, o Irã está cercado de potências atômicas – Índia, Paquistão, Rússia, China e o próprio Israel. Se ele, Barak, fosse iraniano, haveria de querer ter bombas atômicas para se defender.
Qualquer israelense inteligente e bem informado sabe que as ameaças de Ahmadinejad de riscar Israel do mapa não passam de bazófia. O próprio chefe iraniano declarou que não atacará Israel: será a História que acabará com o Estado sionista. Convém lembrar ainda que, em 2003, a proposta saudita de independência da Palestina, nos limites de 1967, com o reconhecimento dos países islâmicos, foi aceita pelo próprio governo do Irã.
Mas, para os partidos de direita que estão no poder, a segurança de Israel exige manter sempre grande superioridade militar sobre qualquer país islâmico da região. Por isso, o Irã, com ou sem bomba atômica, tem de ser destruído economicamente, através das sanções, ou militarmente, através do bombardeio de suas instalações nucleares, que significaria inevitavelmente guerra.
A hipótese da guerra foi neutralizada por uma série de personalidades de destaque em Israel. O antigo chefe do Mossad, Meir Dagan, pronunciou-se contra, considerando-a “a coisa mais estúpida do mundo”. E revelou também que ele, o chefe das Forças Armadas de Israel, Gabi Ashkenazi e o chefe do Shin Bet (polícia política), Yuval Diskin, conseguiram “bloquear qualquer aventura perigosa” de Netanyahu e Barak. Para esfriar os ânimos, Tamir Pardo, o atual chefe do Mossad, declarou perante 100 embaixadores que um Irã com bombas atômicas não representava ameaça existencial a Israel.
Tudo isso aconteceu quando ainda havia confiança na eficiência do boicote ao petróleo iraniano. Agora, como tudo indica que não vai dar certo, a guerra parece ser a única saída. Desta vez, não será fácil deter Netanyahu e Barak.
Obama é claramente contrário, pois ele sabe que, se Israel bombardear as instalações nucleares iranianas, não será fácil manter os EUA fora da guerra inevitável que se desencadeará. Algo que ele não deseja, o povo estadunidense está cansado de guerras, 65% nas últimas pesquisas querem soluções diplomáticas para o “affaire” Irã. Por isso, ele mandou Leon Panetta, o Secretário da Defesa, pedir que Netanyahu não lançasse nenhum ataque contra o Irã sem antes consultar os EUA. Aparentemente, o “premier” israelense não se comprometeu a nada.
Por enquanto, não foram desmentidas as declarações de Barak, em novembro, quando ele preveniu o Ocidente de que, num prazo de seis meses, Israel poderia atacar, pois a ação do Irã, dispersando em várias regiões suas instalações nucleares, logo tornaria ineficiente seu bombardeio.
Dificilmente isso acontecerá antes de Netanyahu ter certeza de que os EUA participarão do ataque, ou ao menos apoiarão com armamentos e logística. Ele tem certeza de que, durante a campanha eleitoral, o candidato republicano baterá no velho argumento da “fraqueza dos democratas” para pressionar Obama a tomar uma atitude agressiva em relação ao Irã. Batalhará por sua causa grande parte da mídia, especialmente a rede Fox, do magnata da imprensa, Rupert Murdoch, além da maioria dos deputados dos dois partidos, estimulados pelos financiamentos da AIPAC.
Todos eles clamarão que, tendo falhado o boicote do petróleo iraniano, a única opção que resta aos adversários do Irã é o bombardeio. Talvez não seja verdade.
Breve, deverá realizar-se uma reunião de alto nível, na qual representantes do P5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) discutirão o programa nuclear iraniano com o governo de Teerã. Antes disso, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica da ONU) enviará técnicos a Teerã também para tratar do assunto.
Como diz a canção de John Lennon: ”Give peace a chance”.
Luiz Eça é jornalista.