Correio da Cidadania

Chávez vive

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Filas para comprar alimentos que escasseiam, inflação de 56%, recorde de assassinatos na América do Sul, multidões nas ruas contra o governo, repressão brutal.

 

A mídia pinta um cenário catastrófico para o presidente Maduro.

 

Mas ele tem por si um aliado superpoderoso: Hugo Chávez.

 

O chavismo sobrevive sem seu líder porque não dá para o povo esquecer o que recebeu no seu governo. E continua recebendo com seu continuador, Maduro.

 

Nesta década, o governo aumentou em 60% suas despesas sociais. E a Venezuela tornou-se o país de menor desigualdade social na América do Sul.

 

A pobreza atinge apenas 25% da população, sendo que somente em 2012  caiu 12%, um recorde em todo o mundo.

 

A extrema pobreza, que chegava a 23%, antes de Chávez, hoje não passa de 8,3%.

 

Foram construídas 13.721 clínicas em zonas muito pobres, onde o Estado, anteriormente, jamais ia. O sistema de saúde pública conta com 95.000 médicos. A mortalidade infantil por mil nascimentos foi reduzida de 20 -antes de Chávez - para 13 - atualmente.

 

500 mil casas populares já foram entregues. As conquistas sociais do chavismo foram pagas com os lucros do petróleo, que o governo nacionalizou e hoje explora em associação com a iniciativa privada.

 

Tudo indica que o povo venezuelano não está disposto a arriscar todos os benefícios sociais que conquistou em função de uma temporada de sacrifícios, com inflação alta e escassez de gêneros.

 

Nas fotos e na TV a gente percebe claramente que o grosso dos manifestantes anti-Maduro são de classe média e alta.

 

Já nos comícios chavistas as roupas e as cores das pessoas  são típicas de gente pobre. Há um predomínio de negros, mestiços, mulatos e índios.

Mesmo jornais adversários de Chávez (como a Folha e o Estado) admitem esta divisão de classes.

 

Fica claro também que a oposição não deseja menos do que a derrubada de Maduro. Justificada pela mídia internacional e a local que apresenta o governo Maduro como tirânico e desrespeitador dos direitos civis.

 

Sustentam que o controle da imprensa e a proibição de divulgar críticas à ação repressiva das autoridades são fatos indiscutíveis.

 

O New York Times foi nessa, informando que havia uma única emissora de TV que ousava criticar o governo. Pouco depois, honestamente retificou essa notícia, dizendo que “… todas as emissoras de TV particulares regularmente transmitem vozes críticas ao governo”.

 

Note que, embora em menor número do que as TVs do Estado, as emissoras particulares detêm cerca de 90% da audiência.

 

Na Venezuela, no Brasil, em todo o mundo, a mídia destaca a brutalidade policial e das milícias chavistas contra os oposicionistas.

 

Na verdade, nesse tipo de conflitos generalizados, a polícia costuma apelar –na Venezuela e em todo mundo. Nem por isso deixam de ser reprováveis certos excessos atribuídos aos policiais.

 

Mas não se pode chamar de pacíficos manifestantes que erguem barricadas - bloqueiam as ruas, provocam incêndios e atiram coquetéis Molotov. As estatísticas diferem quanto ao número de mortos: o governo fala em 8, a oposição em 18.

 

Entre eles, 2 eram chavistas, 2 eram motociclistas mortos ao baterem em fios estendidos por manifestantes.

 

A eles se juntaram ontem e anteontem (6 e 7 de março) mais três mortos: um homem guiando um carro que tentava desviar-se de uma barricada, um policial e um motociclista chavista.

 

A prisão e processo de Lopez (líder da direita) a rigor têm algum sentido, pois,  pelo menos uma vez, ele pregou a derrubada de um presidente eleito pelo povo.

 

Crime até nos EUA.

 

Os paramilitares que atiram contra o povo foram condenados pelo próprio Maduro: “Aquele que veste uma camisa vermelha com a cara de Chávez, saca uma arma e ataca outro venezuelano, esse não é chavista, nem revolucionário, e irá para a cadeia”.

 

Espera-se que Maduro cumpra o prometido, pois há casos de estudantes mortos por esses pistoleiros.

 

A mídia menosprezou essa promessa de Maduro.

 

Adotando o mesmo tom irônico, ela citou acusações dele de que os EUA estariam atrás das manifestações da oposição.

 

Maduro não ofereceu provas,  mas não seria a primeira vez que os americanos agiram contra um governo bolivariano.

 

Afinal, as maiores reservas petrolíferas do mundo são uma tentação para Tio Sam.

 

De olho nelas, ele reconheceu o golpe militar de 2002,  antes mesmo dos seus chefes se acomodarem nas almofadas do poder.

 

Recentemente, o Wikileaks revelou documento diplomático, enviado ao embaixador dos EUA em Caracas, que apresentava os objetivos estratégicos americanos na Venezuela para o período de 2004: “1)Fortalecer as instituições democráticas; 2)Penetrar na base política chavista; 3) Dividir o chavismo; 4)Proteger negócios americanos vitais; 5) Isolar Chávez internacionalmente”.

 

Com ou sem o apoio paternal dos irmãos do norte, a oposição perdeu todas as eleições e referendos.

 

Tenta agora ganhar no braço.

 

Nos 10 meses de governo, Maduro já encarou várias tentativas de desestabilização do seu governo.

 

Deve sobreviver a mais esta.

 

Por enquanto, Chávez continua bem vivo.

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

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