Correio da Cidadania

De volta para o Iraque

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Há vários dias, Maliki, primeiro-ministro do Iraque, suplica de joelhos que os EUA mandem aviões bombardearem as tropas do ISIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante).

 

Obama vacila. Martin Dempsey, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, foi ao Senado explicar por quê.

 

Os milicianos estão misturados com o povo, seria impossível mandar bomba neles sem matar muitos civis.

 

O que é uma desculpa fraca, partindo de um país que não hesita em lançar drones contra terroristas no Iêmen e Paquistão, sabendo que irão matar também civis que vivem próximos.

 

E que na invasão do Iraque usou munição enriquecida com urânio contra regiões habitadas, num desrespeito às leis internacionais.

 

O segundo motivo me parece pra valer. Disse o general que o governo Maliki era incapaz de unir o país, já que havia tratado mal as minorias sunita e curda. Não seria o comandante que o Iraque precisa para vencer o ISIL.

 

Em outra ocasião, Obama foi mais claro: apelou para que os iraquianos formassem um novo governo, com quem “seria mais fácil formar uma parceria, do que o atual é agora”.

 

Maliki rapidamente rejeitou a pressão, declarando que jamais renunciará em troca da ajuda militar norte-americana.

 

Enquanto as pressões estadunidenses não conseguem forçar a queda de Maliki, os milicianos radicais avançam e os falcões norte-americanos exigem ação para deter esses terroristas, ainda mais terríveis do que a Al Qaeda.

 

Antes que as reclamações de uns e os sucessos dos outros cheguem longe demais, Obama deve mesmo atender Maliki e bombardear os exércitos do ISIL.

 

No mesmo discurso em que jurou não voltar a desembarcar tropas no Iraque, ele também disse: “estaremos preparados para lançar ações militares direcionadas e precisas, se e quando a situação no local o exigir”.

 

A análise que se faz é que ele se referia a bombardeios. É possível ver as coisas de outro modo. Os iranianos estão perto de mandar tropas para salvar Maliki, com a alegação de que seu objetivo seria proteger os lugares santos do xiismo. Falando numa grande concentração popular, o presidente Rouhani prometeu que o Irã protegeria esses santuários – em Najaf, Khadimyia e Samarra – alvos certos do ISIL.

 

Se isso acontecer, eles ficarão como salvadores da pátria e lá se vai a influência norte-americana no governo de Bagdá. Obama não pode aceitar.

 

Talvez por isso o envio de 595 soldados com o objetivo declarado de proteger a embaixada e assessorar e treinar o exército iraquiano.

 

Ora, com o inimigo às portas de Bagdá, não dá para acreditar que haveria tempo para um treinamento razoavelmente eficaz.

 

É de se crer que a interpretação mais lógica é de que os assessores militares estarão no Iraque para marcar a presença estadunidense.

 

E, conforme o desenvolvimento da campanha, servir de ponte para a chegada de um número muito maior de soldados.

 

Como aconteceu na guerra do Vietnã. Primeiro, o presidente Eisenhower enviou cerca de mil militares como assessores do governo de Saigon. Em 1962, vieram mais 16 mil e, em 1963, 32 mil.

 

Sempre rotulados como assessores, embora estivessem participando ativamente dos combates. Não se pode assegurar que isso irá se repetir agora.

 

Mas a presença desses soldados, possivelmente das temidas forças especiais, certamente armados com o que há de mais moderno e letal, será útil à Casa Branca. Eles irão acabar colaborando muito mais na pressão para a troca de Maliki por alguém mais palatável do que para o treinamento dos soldados locais.

 

Porém, se os iranianos mandarem mesmo tropas em socorro de Maliki, Obama vai ter dificuldades para resistir às pressões domésticas do Pentágono e do war party .

 

Apesar das suas promessas e de recente pesquisa mostrar que 74% dos norte-americanos não querem our boys combatendo no Iraque, não será surpresa se isso acabar acontecendo.

 

 

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Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

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