Correio da Cidadania

Pautas que movem: secundaristas do Rio de Janeiro na fronteira das lutas

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O cenário nacional continua indefinido. No Rio de Janeiro, o governador Pezão (PMDB) se afastou por conta de uma doença e assumiu Francisco Dornelles (PP), que precisa dar conta de salários de servidores públicos atrasados e vários segmentos deflagrando paralisações e greves, com destaque para uma greve geral nesta última quarta (6/4), que reuniu 20 mil pessoas em direção ao Palácio Guanabara. Os profissionais de educação se encontram em greve há um mês, mas quero chamar atenção neste artigo para as ocupações promovidas pelos estudantes secundaristas a partir de mobilizações que eles vêm empreendendo desde o início do ano letivo em todo estado do Rio de Janeiro.

 

Estes jovens estão praticando a democracia que está sendo tão debatida no âmbito da grande política que domina os debates e torna essas mobilizações algo menor. Mas é exatamente desse âmbito menor que pode surgir a democracia. Até domingo (3/4) eram duas escolas ocupadas. Na segunda (4/4) seis escolas foram ocupadas e no momento que envio este artigo, na quinta (7/4) são 12 escolas ocupadas.

 

O mais interessante é que são escolas localizadas em bairros tidos como periféricos, fora do circuito Centro/Zona Sul da capital e vão além da capital: Ilha do Governador, Penha (2), Méier, Senador Camará e Higienópolis são os bairros; Maricá, Mendes, Saquarema, Macaé, Niterói e Duque de Caxias são as cidades que contam com escolas ocupadas. Esse número pode ter aumentado quando este artigo tiver sido publicado e pode ser conferido aqui: https://goo.gl/TJQyrf.

 

Muito inspirados pelo exemplo dos estudantes secundaristas paulistas que conseguiram parar com o processo de reorganização escolar levado a cabo pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), aqui a luta dos jovens é pela educação: contra os cortes de mais de R$ 500 milhões da área, falta de merenda, superlotação das salas de aula que não têm ar condicionado, até falta de bebedouro e de lâmpadas sinalizam a precariedade de infraestrutura em que as escolas estão mergulhadas. Mas também lutam contra a retirada de linhas de ônibus e sucateamento dos hospitais.

 

Em três semanas eles já conseguiram uma primeira vitória relacionada com suas pautas: o SAERJINHO, prova criada pela Secretaria Estadual de Educação para acompanhar bimestralmente o rendimento dos estudantes, aconteceria no dia 13/4 e foi adiado de forma indefinida.

 

O que chama atenção é a ação autônoma desses estudantes em prol de pautas que os atingem diretamente e o movimento de ocupação dos espaços das escolas que, em greve dos profissionais, tenderiam a estar vazios. Eles reconhecem a escola como sendo deles e lutam por ela dando seu tempo e energia na busca de um tempo próprio com atividades decididas coletivamente.

 

O que importa é que esses jovens estão inaugurando um espaço para além das polarizações que nos dominam, das grandes narrativas que disputam as atenções de quase todos em questões sobre as quais vamos influenciar muito pouco. Os estudantes secundaristas do Rio de Janeiro vêm nos mostrar que é possível constituir democracia a partir de pautas que nos movem a partir dos que estão embaixo. Por isso estão nas fronteiras das lutas que se tecem no estado do Rio de Janeiro nos dias que correm.

 

 

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Marcelo Castañeda é sociólogo e pesquisador.

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