Quem manda são os militares
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- Marcelo Castañeda
- 23/01/2021
Foto: Agência Brasil
Pode ter passado batido, mas as declarações do presidente Bolsonaro sobre o papel das Forças Armadas na segunda-feira, após o silêncio no domingo das vacinas, não me parecem ameaças, mas uma reverência aos que o colocaram na presidência.
A linha argumentativa que tem no antropólogo Piero Lainer (UFSCar) um dos principais defensores começa a se mostrar bem mais adequada, pois ele aponta Bolsonaro como a cereja do bolo no projeto político dos militares, desenvolvido a partir e logo após as eleições de 2014.
Resumindo este argumento, Bolsonaro seria o fio desencapado que os militares domariam, o caos a ser estabilizado. A eficiência desse arranjo pode ser vista quando todo o foco fica no presidente, sem que se toque na estrutura que mantém milhares de militares ocupando postos no governo.
Evidentemente, esse projeto foi chancelado pelo mercado financeiro, pelo agronegócio, pelas lideranças evangélicas e pelos liberais, sem falar na igualdade que a mídia corporativa promoveu entre Haddad e Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018.
Logo, a questão venezuelana e o aceno a Doria de que a vacina é do Brasil vem como complemento e se destina a manter o séquito animado, mantendo afirmações ignorantes quanto à eficácia da vacina sem contar que existem inúmeros depoimentos de Bolsonaro que lhe complicam.
Mas o séquito segue. Até quando? Será que tem fôlego para chegar em 2022 de forma competitiva? Talvez, em especial se o Centrão continuar apoiando, o que será decisivo para Bolsonaro no caso da abertura de um processo de impeachment.
Parece que Bolsonaro bate continência como bom ex-capitão que é.