Correio da Cidadania

O BBB que nunca tinha visto

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Nunca assisti qualquer edição do BBB, mas decidi acompanhar a deste ano sem qualquer pretensão de teorizar ou sociologizar, mais por ser um entretenimento do tipo “mundo cão” produzido pela Globo em uma parte da vida em que passei a consumir mais televisão.

Não parto de qualquer moralismo em relação ao programa ou seus personagens, atores confinados em uma lógica de competição restrita, o que pode muito bem ter paralelos com muitos ambientes contemporâneos, desde o trabalho até as famílias, entre outros.

Não pretendo sequer “denunciar” a tortura psicológica que qualquer situação de confinamento prolongado possa perfazer, ainda mais tendo em curso uma pandemia na qual muitos de nós se enxergam assim.

O conflito, nos ensinam as ciências sociais, é inerente a qualquer sociedade/grupo, e não poderia ser diferente no BBB. Como esses conflitos se resolvem ou esgarçam as relações é que pode ser o ponto das alianças que se fazem e se desfazem a cada instante.

A convivência se torna cada vez mais difícil em qualquer situação onde prevaleça a competição, isso não deveria ser novidade. Por mais superficial que sejam as relações de proximidade, o que está em jogo é um prêmio e/ou aumento/conquista de visibilidade para potenciais produtos culturais midiáticos.

Muitos dizem que o BBB representa o Brasil. Ainda não consegui ver isso. Fico em dúvida. São comportamentos individuais que se agregam em pequenos grupos que dividem o coletivo em busca de um prêmio, que apenas um terá, e a visibilidade que poderá ser alcançada pelos demais.

Pode ser uma visão estreita, mas o BBB é um produto simbólico da Globo, logo representa os interesses da emissora e dos seus patrocinadores e anunciantes que inundam o programa com merchandising e anúncios no intervalo. O prêmio e toda produção se paga no primeiro dia.

Nesta edição, até agora, parece que está em questão o “cancelamento”, não à toa o Fantástico há duas semanas deu a senha para o que estava por vir. Nisso, uma mensagem, intencional ou não, passa a ser de que militância é “barraco e julgamento”.

Sem deixar de notar que essas dimensões existem em qualquer espaço de militância ou movimento social, bem como vem ganhando uma visibilidade cada vez maior nos últimos anos, não consigo ver que sejam o motor dos espaços de militância e movimentos sociais.

Considerar que o BBB reflete esses espaços ou que “esfrega na cara da sociedade” “a realidade da militância” mostra, de um lado, que essa visão está sendo bem-vinda, e talvez seja (desde que se faça algo diferente com ela); por outro lado, sendo isso mesmo, estamos próximos à extinção desses espaços.

Por fim, busca por prêmio ou visibilidade: tudo se resume ao espetáculo, um simulacro da realidade, tomar uma pequena parte, quase individual, pelo todo. Vou continuar assistindo e aprendendo mais sobre as relações que se tecem em um ambiente confinado, eis meu interesse.

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