Correio da Cidadania

Eleição: a hora da ação

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Lula 13 (@LulaOficial) / Twitter
O espanto de muitos, inclusive eu, com os resultados do primeiro turno eleitoral vai além da margem estreita com que Lula (PT) venceu o presidente Jair Bolsonaro (PL) no certame presidencial, gerando um segundo turno. Se observarmos as eleições para Senado e Câmara vê-se uma composição que, pelo menos no primeiro, pode ser considerada mais bolsonarista, em virtude da série de ex-participantes do governo atual que foram eleitos.

Do fim do marasmo eleitoral em decorrência de pesquisas que apontavam uma ampla margem para Lula, a ponto de haver possibilidade de vitória no primeiro turno, nos deparamos, em menos de 24 horas, a um estado de prontidão para ação dos que enxergam a continuidade do governo atual como fatal para a incipiente democracia brasileira. É para esses que escrevo. É preciso agir em cada um dos 28 dias que nos levarão ao segundo turno para que essa continuidade seja interrompida.

Os números da apuração mostram que existe uma preferência clara do eleitor por Lula e Bolsonaro, nesta ordem, de forma bem dividida até mesmo geograficamente. Os afetos, mesmo aqueles que podem ser mórbidos, ficaram muito evidentes, bem como a normalização midiática da “polarização” entre os dois candidatos. Se por um lado, uma polarização parece evidente, trata-se de uma evidência que se trai, pois a extrema-direita significa, ao redor do mundo, e aqui não menos diferente, a morte das instituições democráticas, dentre elas as mídias burguesas que se veem cada vez mais engolidas pela influência das plataformas digitais, o que tratarei a seguir como fator explicativo da força do bolsonarismo. O fato é que, ao alimentar a retórica da “polarização”, a grande mídia brasileira assina seu desaparecimento a médio e longo prazo, em especial se continuar servindo de anteparo democrático para o atual presidente.

Longe de qualquer determinismo tecnológico, cabe destacar que, junto com os diferentes auxílios e orçamento secreto, bem como o papel miliciano e das denominações evangélicas mais afeitas, é preciso considerar que as plataformas digitais constituem uma esfera de influência no comportamento social nos dias que correm. O campo bolsonarista é maior numericamente nessas plataformas do que todos os demais campos políticos, inclusive o que Lula mobiliza.

Minha hipótese é que devem ter feito uso dessa esfera de manipulação, em especial nas plataformas da corporação Meta (Facebook, WhatsApp e Instagram) ao menos para afetar a abstenção, que foi a maior de todas as eleições, quiçá para influenciar votos antipetistas na reta final. Um caminho para isso seria entender o quanto se investiu em propaganda segmentada no Brasil e seguir as pistas, mas não temos como fazer isso em quatro semanas. A questão é que tal engenharia já está posta para o campo bolsonarista desde 2018, como várias pesquisas ressaltaram, e precisa ser considerada como fator que influenciou a posição de Bolsonaro.

Portanto, o que temos tempo de fazer de forma prática? Primeiro, campanha em todos os momentos possíveis, nos níveis mais organizados aos mais individuais (com todo cuidado que o contexto merece), pois o momento de marasmo passou. Campanha nas redes, em especial fora das bolhas aconchegantes, mas sobretudo campanha nos diferentes espaços do cotidiano. Junto a isso, ajuda termos uma campanha majoritária que se posicione (no sentido do marketing político mesmo e não como simples reação ao campo bolsonarista).

Isso envolve, a meu ver:

1) um balanceamento entre economia e questão moral, sendo que esta última não deve ser deixada exclusivamente ao campo bolsonarista;

2) superar a retomada do passado e apontar um ou dois sentidos de sonhos que sejam sentidos de forma concreta;

3) trabalhar as redes de uma forma mais pragmática, considerando que existe uma máquina instalada desde antes de 2018, mas que hoje estamos numa situação diferente e possível de ser enfrentada.

Não há tempo, nem motivo, para choro, nem desespero. É hora de ver que estamos na frente e que faltam 28 dias. É hora de ação!

Marcelo Castañeda é sociólogo e professor da UFRJ.

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