Tratado sobre roubos
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- Paulo Metri
- 17/03/2015
Roubam muito. Há anos. Trata-se de uma roubalheira generalizada. Empreiteiros roubam o Estado ao formarem cartel para participar de concorrências e ao corromperem burocratas para ter aditivos assinados. Políticos fazem indicações de seus apaniguados para cargos públicos para receberem benefícios posteriores, como a assinatura de contratos superfaturados. Surpreendo-me por que muitas pessoas estão descobrindo, só agora, o assalto dos órgãos públicos pelas empresas privadas. Durante a vida, já ouvi, mais de uma vez, sobre alguns diretores de órgãos públicos: “ele é da cota da empresa tal”. É muito comum órgãos reguladores serem dirigidos por representantes dos agentes econômicos que seriam regulados. Este controle de órgãos para efetivação de roubos é, de forma sutil, chamado de cooptação do órgão.
Políticos aprovam leis em que o roubo passa a ser legalizado. Trata-se das leis injustas, como é o caso da lei das concessões do petróleo. A empresa estrangeira fica com todo o petróleo produzido e deixa aqui royalties e, às vezes, a participação especial, que são uma parcela pequena do lucro. A sociedade vai reclamar para quem? Pois a empresa estrangeira está roubando nossa riqueza dentro da lei. Por isso, deduzo que os congressistas do mandato de 1995 a 1998 devem ter recebido grandes compensações para derrubarem o monopólio estatal do petróleo, que funcionava tão bem no país há mais de 42 anos. Foram os congressistas deste mandato que venderam seus votos para a reeleição, segundo a confissão de um deles. Por que eles não teriam vendido também seus votos em outros temas?
O roubo institucionalizado tem outra grande vantagem, pois a população pensa que não está sendo roubada. Os bancos são também agentes do roubo legal na sociedade. Será que alguém é inocente a ponto de pensar que os extraordinários lucros conseguidos por eles são devido a desenvolvimentos tecnológicos, a exportações ou à abertura para novos mercados? São conseguidos, usando uma palavra forte, na falta de outra melhor, graças à extorsão da população. Os bancos não competem com a taxa de juros, pois ela é alta em qualquer um deles. Podem competir nas propagandas e no atendimento, mas com relação à taxa formam um cartel, o que é proibido, mas difícil de ser comprovado. A população instigada a consumir pelas propagandas e carente de recursos, na sua maioria, cai na arapuca dos bancos. O que mais existe na economia é a formação de cartéis, que proporcionam lucros maiores do que se as empresas competissem.
Aliás, o Brasil é pródigo nos escândalos de roubos. Alguns deles do passado foram: anões do orçamento, Banestado, BNH, propinoduto, Jorgina de Freitas, máfia do sangue, Sivan, grupo Delfin, Marka e Fonte Cindam, e inúmeros outros. Na privatização mal explicada da Vale do Rio Doce não teria ocorrido um roubo de US$ 100 bilhões? Este é só um dos possíveis danos ao Estado das privatizações do governo FHC, se bem que o mais marcante. Infelizmente, o Brasil não era eficiente nas fases de investigação e denúncia à Justiça, e dos julgamentos.
O embaixador José Jobim foi morto, em 1979, porque contou que iria denunciar roubos na construção de Itaipu através de um livro que estava escrevendo. 35 anos depois, o Ministério Público Federal declarou que pretende abrir inquérito. No passado, a área de planejamento da Eletrobras fazia a estimativa do custo de cada obra cuja construção era recomendada pelo modelo de planejamento do setor elétrico. Este custo se mostrou, invariavelmente, menor que o valor de contratação da obra obtido através de concorrência. Por que seria?
Gostaria de ter uma informação fidedigna, após apuração que não seja da própria mídia, sobre a eventual sonegação de impostos da Rede Globo, pois até um processo da Receita Federal sumiu dentro do órgão. A apuração de desvios de dinheiro não seria para todos? Ainda sobre a mídia, tão crítica de políticos de esquerda, seria interessante saber se as quantias fabulosas pertencentes aos seus donos e apresentadores, que apareceram no “Swissleaks”, são derivadas de atividades lícitas, declaradas à Receita e remetidas para o exterior dentro da lei.
No entanto, se nos ativermos a roubos comprovados da mídia convencional, ela causa enorme prejuízo à sociedade ao roubar informação do povo, como parte de uma planejada ação de manipulação deste, tendo como maiores usufrutuários os capitais nacional e internacional. Pode-se dizer que a mídia convencional participa do conluio para explorar o povo. Este, se bem informado, decidiria melhor sobre as opções políticas, o que explica a razão por que buscam mantê-lo na inocência.
Muitos empresários roubam a mais-valia dos seus trabalhadores, acumulando riqueza e renda para si e pobreza e penúria para seus empregados. O capitalismo é o indutor da maioria dos roubos, à medida que privilegia a “esperteza”, baseia-se na ganância, no individualismo, na competição exacerbada e na falta de solidariedade. Ele prega o acúmulo de riqueza, que também é a motivação dos ladrões. Supor que a ação do capital pode ser realizada dentro da ética é algo passível de questionamentos, porque, quando se gera déficit de recursos de sobrevivência junto a trabalhadores, não se pode estar falando de uma atividade ética. Entretanto, não proponho outro sistema porque, no presente, o ser humano tem se mostrado despreparado para viver em um mundo socialista. Assim, sou obrigado a me contentar com a mitigação dos efeitos do capitalismo.
O capital, também, na sua perseguição pelo maior lucro, não “roubaria” a integridade da natureza? Lançando gases e partículas na atmosfera, rejeitos em rios, no mar e em qualquer terreno, enfim poluindo e criando déficit ambiental. O tratamento dos seus poluentes significaria custos e redução do lucro.
No sistema mundial, o capital instalado em um país desenvolvido busca roubar riquezas de países subdesenvolvidos, através da ação de suas empresas, respaldadas por seus governos, acordos internacionais e com a ajuda de traidores do povo existentes em cada país dominado. Assim, o capital internacional, estando sorrateiramente por trás dos países desenvolvidos, além de comandá-los, os remete para a dominação dos mais fracos, os subdesenvolvidos, para que transferências imensas de riquezas ocorram. Estas são, certamente, os maiores roubos do planeta.
Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Nestor Cerveró, Renato Duque, Pedro Barusco, donos de empreiteiras e políticos roubaram a Petrobras. Recomendo, neste caso específico, que se descubra tudo, todo o esquema, todos envolvidos, não importando a época. Recomendo, também, o término do financiamento privado de campanhas políticas, que será um excelente começo.
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da Cidadania. Blog do autor: http://www.paulometri.blogspot.com.br/