Identificação dos culpados
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- Paulo Metri
- 19/01/2018
Ignacio Ramonet, editor-chefe do “Le Monde Diplomatique” por mais de 17 anos, escreveu o memorável artigo intitulado "Angleterre, crise totale", veiculado na edição de abril de 2001 deste jornal.
Em um artigo meu de novembro de 2009, disse sobre o artigo de Ramonet: “Ele (Ramonet) dizia que a epidemia de febre aftosa que se espalhava, naquela época, pelos campos britânicos, como toda epidemia, era consequência de um momento histórico preciso e não era por coincidência que estava acontecendo dentro de uma Inglaterra que foi utilizada, durante mais de vinte anos, como laboratório do ultraliberalismo. Ramonet dizia também que as decisões que permitiram, além de febre aftosa, a doença da vaca louca, inundações, regiões bloqueadas sobre a neve sem eletricidade, catástrofes ferroviárias etc., foram tomadas conscientemente e se basearam em dogmas neoliberais precisos, como a desregulamentação. Segundo ele, nos anos 80, em governos da Sra. Margaret Thatcher, deu-se as costas ao princípio da precaução e aniquilou-se a rede nacional de atendimentos veterinários. Posteriormente, eliminou-se, por algum tempo, até a vacinação de animais”.
Na edição de 18/01/2018 do jornal “O Globo”, pode-se ler na manchete principal: “País reduziu em 33% verba para prevenir epidemias”. Até esta data, segundo os noticiários, morreram 35 brasileiros, vítimas da febre amarela. Portanto, não acusem, por favor, o aedes aegypti, nem o vírus da febre amarela, por estas 35 mortes. O carrasco desta e de outras carnificinas atuais e futuras chama-se Temer e seus agentes do terror, ocupantes de cargos de mando no seu governo ou legisladores da sua base. Com seus cortes nos programas sociais e devido às prioridades erradas, que estagnam a economia, o país retorna ao mapa da fome, doentes morrem nas filas dos hospitais, o desemprego campeia e, por aí, as desgraças podem ser desfiladas.
A grande novidade positiva é que, mesmo com a mídia dominada pelo capital, fazendo o papel sujo de buscar alienar a população, esta aparenta estar entendendo quais grupos arquitetaram e estão operando a obra de demolição do país, sob a batuta de Temer. Outra novidade que ajuda a convencer os recalcitrantes é o resultado de pesquisa realizada na Inglaterra e publicada no jornal “The Guardian”: 83% dos ingleses são a favor da nacionalização da água, 77% a favor da nacionalização da eletricidade e do gás e 76% a favor da nacionalização das linhas férreas. Assim, a Inglaterra foi o laboratório do ultraliberalismo, que não deu certo, e o povo inglês deve ter sofrido, senão não teria esta opinião. É pena que a Thatcher não esteja viva para, com sua arrogância, saber o estrago que causou.
Contudo, sem retirar qualquer uma das minhas afirmações, sei que fiz uma injustiça com o Temer. Por questão didática, para facilitar a compreensão de assuntos complexos, às vezes, há a necessidade de certas simplificações durante uma exposição. E a simplificação feita, neste caso, é a de que Temer não agiu sozinho. Ele é a figura mais visível do conjunto de forças políticas que planejaram e executaram o golpe. Golpe este contra a democracia e a sociedade brasileira.
Os golpistas foram o conjunto de congressistas venais que apoiam Temer, completamente desvinculados dos interesses da sociedade, representantes da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal, também desligados do povo, a quase totalidade da mídia e da elite econômica.
O povo, infelizmente, seria usurpado se não fossem abnegados, que não medem esforços para poder conscientizá-lo. E parece que estão conseguindo vencer a empreitada, tanto que Lula recebe o maior índice de intenção de voto nas pesquisas.
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia.
Paulo Metri
Conselheiro do Clube de Engenharia