Privatização da Eletrobras
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- Paulo Metri
- 24/01/2018
Segundo William Bonner, o telespectador médio brasileiro é “um Homer Simpson” e a Globo, empresa que o emprega, não se preocupa, em momento algum, em informar todos os ângulos de um fato, assim como desenvolver o pensamento crítico dos expectadores. As matérias carecem de análises a partir de diferentes visões, restringindo-se às posições de interesse do capital, que prefere o telespectador brasileiro bem inocente e alienado, passível de ser facilmente enganado. Assim, eles formam Homer Simpsons.
Mas não é só a Globo que age desta forma. Trata-se de um comportamento de toda a mídia tradicional, que engloba os demais canais de TV, tanto os abertos quanto a cabo ou por sinal de satélite, todos os grandes jornais, quase todas as revistas semanais e as rádios comerciais. Só a mídia “alternativa” (que nem deveria ter esse rótulo) defende o povo. No governo Temer, como todas as propostas de reformas beneficiam o capital em detrimento da sociedade, o controle da mídia está sendo muito útil para estes inimigos do povo.
O prejuízo causado pela mídia do capital à sociedade brasileira, como, por exemplo, através da reforma trabalhista, que fez regredir a proteção ao trabalhador quase àquela existente na época da revolução industrial, tem como grande responsável esta mídia. Desta forma, a privatização da Eletrobras é a próxima investida do capital. Só um sociopata, que não sente remorsos por ações antissociais, pode atingir o grau de crueldade existente no esquartejamento da Petrobras e nesta privatização. Tem horas em que a inocência do povo chega a ser um benefício para ele, pois o que adianta entender a desumanidade com que lhe tratam e estar impossibilitado de reagir?
A privatização da Eletrobras chega às raias do absurdo, uma vez que, ao privatizá-la, privatiza-se também a água, uma necessidade humana. Os ideólogos do neoliberalismo vivem falando em “competição perfeita”, que é difícil de ser encontrada no mundo real. Da mesma forma, não existe agência reguladora que tenha o poder de ditar normas para poderosas proprietárias privadas de aproveitamentos hidráulicos.
É impossível que uma agência reguladora, ainda mais no governo Temer, mande uma geradora privada reter água na barragem, sem gerar eletricidade, porque ela será necessária para o abastecimento humano, por exemplo. Os ocupantes de cargos de direção em agências reguladoras, no Brasil, têm sido escolhidos pelas empresas privadas a serem reguladas pelo órgão.
Geração de eletricidade é um dos usos da água de uma bacia hidrográfica e, inclusive, não é dos mais nobres. Alguns usos da água, ordenados pela nobreza, sob a minha ótica pessoal, são o abastecimento humano e animal, a irrigação, a piscicultura, a geração elétrica, o uso do leito do rio para navegação e o turismo. Se este argumento não bastar para a Eletrobras não ser privatizada, a eletricidade é um insumo básico em qualquer economia, além de ser um consumo residencial indispensável.
Assim, as empresas encarregadas da geração, transmissão e distribuição de eletricidade não podem ficar nas mãos de quem visa unicamente auferir lucros. A Eletrobras prioriza o bom atendimento ao invés do lucro, sem abrir mão de uma parcela comedida deste.
Ao invés de se privatizar a Eletrobras, muito mais sensato seria trazer energia barata e garantida para o consumidor, principalmente o residencial. Para tanto, deve-se buscar acabar com as irracionalidades impostas ao setor elétrico. Hoje, pelas regras existentes, uma empresa geradora poderá não ser remunerada na proporção da energia que ela gerou. Consumidores industriais poderão ser levados a parar suas atividades para usufruírem lucro com a venda da eletricidade que lhes estava destinada. Assim, o setor elétrico transformou-se em um grande cassino com jogadores de alto poder de apostas. O interesse social não é considerado.
Por outro lado, não tem setor que torne mais idênticos partidos políticos de linhas antagônicas como o elétrico. Os governos FHC, Lula e Dilma aprimoraram o caos de funcionamento e repartição do excedente econômico do setor. Aliás, este setor é o paraíso para os lobistas do capital auferirem lucros comparativamente fáceis, com discursos técnicos incompreensíveis para o leigo. Aliás, os técnicos do setor, razoavelmente distantes das forças políticas, econômicas e sociais, com frequência não explicam os graves problemas do setor com um linguajar que o leigo entenda. Todos falam eletriquês.
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