Correio da Cidadania

A luz no fim do túnel pode apagar

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Em 1963, completando 18 anos, comecei a me preparar para votar na eleição para presidente. Meu direito de votar foi cassado por uma ditadura que durou 21 anos. Assim, só dei meu primeiro voto para presidente, como muitos outros brasileiros, aos 44 anos.

Temos o segundo turno da presente eleição no próximo dia 28/10. Pode ocorrer a opção, não desejada por mim, de o candidato Bolsonaro vencer. Nesta hipótese, esta será, possivelmente, a última eleição para presidente que participarei, porque tenho hoje 73 anos e, se a nova ditadura seguir os passos da anterior, terei que chegar aos 94 anos para votar de novo.

Muitos de nós assistimos a vídeos nos quais Bolsonaro diz frases que o caracterizam como candidato a ditador. Diz que o voto não consegue resolver os problemas do Brasil. Que, para melhorar, é preciso uma revolução, na qual devem morrer uns trinta mil, incluindo alguns inocentes, infelizmente. Que a tortura se faz necessária. Que o torturador, coronel Ustra, deve ser reverenciado. Existem outras frases que o caracterizam como misógino, homofóbico, racista e preconceituoso.

Por outro lado, ouvi muitas pessoas, de variadas origens, dizerem que iriam votar em Bolsonaro para retirar o PT do páreo, o partido mais corrupto do Brasil. Como estas pessoas têm a informação de quanto cada partido roubou, eu não sei.

Não quero dizer que não houve roubos realizados por integrantes do PT, mas, certamente, esta conclusão é gratuita e arrisco dizer que o PT é um dos partidos menos corruptos, uma vez que quem quer roubar não capacita o Estado brasileiro a conseguir identificar os roubos e seus autores, que foi o que o PT fez. Essa acusação contra o PT foi forjada graças à campanha antipetista da mídia e de grupos de interesse, por razões de poder e dinheiro.

Enfim, por que a minha geração fracassou? Se separarmos os ganhos tecnológicos evidentes, acho que ela deixará um mundo pior do que aquele que foi recebido. E, neste final de semana, tende a piorar. Sempre achei que a Constituição era uma grande conquista, mas ela vinha sendo dilacerada.

Com este candidato, ela poderá ser modificada até nas cláusulas pétreas, o que irá requerer que a nova ordem ditatorial promulgue um ato institucional. Acreditava que a sociedade brasileira estava madura e não aceitaria mais uma nova ditadura. Assim sendo, morrerei me sentindo fracassado.

Discordo de Voltaire, que disse: “posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la”. Desde que a vontade de Bolsonaro é a morte da democracia, como posso usar esta magnífica instituição para extingui-la?

O TSE deveria ter negado a inscrição dele como candidato por atentar contra a democracia, uma cláusula pétrea. Preparem-se jovens, pensem bem em quem votar na outra eleição para presidente. O que vale é que vocês terão bastante tempo. Ela só ocorrerá em 2039.

Paulo Metri

Conselheiro do Clube de Engenharia

Paulo Metri
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