Correio da Cidadania

Caos

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Subitamente, passei a sonhar com a Terra se desgarrando do sistema solar e caminhando para o espaço profundo do gigantesco universo. O frio gerado pelo distanciamento do Sol atingia mais meu espírito do que meu corpo.

Nenhum dos seres vivos, que povoam a Terra hoje, cujas existências são consequência de evoluções que demoraram milênios para chegar ao estágio atual, irá sobreviver. A sensação era de angústia e o desespero me levava a querer ficar com a família em volta.

A energia nuclear e os combustíveis fósseis, com suas enormes capacidades de gerar calor, não poderiam ajudar a salvar a humanidade, pois não só as reservas destas fontes são limitadas como também a prospecção e a mineração em condições extremamente inóspitas nunca foram nem pensadas.

Nossa Terra, sem o calor de uma estrela, passaria a ser mais um corpo celeste inabitado no universo.

Acordava assustado ainda sem saber o que fazer, mas, da última vez, veio um clarão de lucidez, que me permitiu a volta da tranquilidade, pois lembrei: “graças a Deus e a Newton, isto não irá acontecer”. Mais uma vez, a humanidade e, neste caso, eu especificamente, éramos salvos pela ciência. A partir daí, nunca mais tive este sonho.

Nestes últimos dias, a conversa com um amigo era sobre a visão da escola de Chicago sobre a Economia, mas evoluiu para o fato de, nesta área de conhecimento, não existirem conceitos e interpretações determinísticas, havendo a influência de considerações políticas e sociais.

Portanto, existem diversas correntes racionais, deixando para o cidadão a escolha, no menu de teorias econômicas, a que melhor satisfaz o objetivo imaginado por ele, a ser atingido. Por isso, os decibéis quando se discute Economia são tão altos.

Neste ponto, meu amigo me premiou com esta frase. “Têm sistemas que pensamos serem determinísticos, mas, hoje, acredita-se que podem ocorrer neles, instabilidades. Na virada do século 19 para o 20, foi lançado na comunidade científica o desafio representado pela pergunta: ‘o sistema solar é estável?’ Sumarizando tudo que ocorreu até hoje, chegou-se à conclusão de que, no período de um bilhão de anos, pode ocorrer, sim, uma instabilidade no sistema solar.” Perplexo, ainda perguntei: “Instabilidade? Como instabilidade?” Sua resposta não poderia acertar melhor a mosca: “Por exemplo, a Terra sair vagando pelo universo e não mais orbitar em torno do Sol”.

Ele atingiu o centro nevrálgico do medo. Vendo que o sangue tinha sumido da minha face, meu amigo disse: “Não se preocupe. Isto só vai acontecer em um intervalo gigantesco. Não vai acontecer agora”. Minha resposta, que o deixou calado, foi: “Agradeço muito seu interesse em me tranquilizar, mas o momento presente é parte do macro período de um bilhão de anos, então pode acontecer agora”.

Sei que é paranoia minha, pois conheço o significado de probabilidade. Por isso, fui levado a pensar que estou muito assustado por evento de baixíssima probabilidade. Por quê? Meu estado emocional mostra mais desequilíbrio que o sistema solar. Por quê? Chego à conclusão de que o fato principal é saber que valores e verdades mínimos que permitam à espécie ser considerada humana foram vilipendiados, sem constrangimentos. Se já não há mais resquícios de nobreza na espécie, viver só para ver o tempo passar?  

Paulo Metri

Conselheiro do Clube de Engenharia

Paulo Metri
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