Correio da Cidadania

Planejamento estratégico do Brasil

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Nacional-desenvolvimentismo, agronegócio e a “recuperação” da economia
Na década de 80 do século passado, assisti, pela primeira vez, a uma palestra do Professor Wladimir Pirró e Longo. Vibrante, como em todas as suas palestras, ele buscava provar a viabilidade do Brasil se tornar uma grande potência.

Utilizando a minha memória, ele argumentava algo com o seguinte teor (com dados atualizados por mim): o Brasil tem uma extensão territorial de mais de 8,5 milhões km2; é o quinto maior país do mundo; tem enorme área agriculturável; tem quase 17 mil km de fronteiras com nove países da América do Sul; a costa marítima de quase 7,4 mil km é voltada para o Atlântico; a Zona Econômica Exclusiva brasileira é de 3,6 milhões km2, mas poderá ser ampliada para 4,4 milhões km2, em face da reivindicação brasileira perante a Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas; o Brasil tem recursos naturais diversos, incluindo uma das maiores reservas de petróleo do mundo, a maior reserva de nióbio e reservas consideráveis de todas as fontes geradoras de eletricidade; possui minérios diversos, muitos dos quais ainda não bem pesquisados; é grande produtor de ferro, manganês, bauxita e nióbio; o petróleo do Pré-Sal é a maior descoberta de petróleo do mundo dos últimos 30 anos, podendo conter até 200 bilhões de barris; conta também com os recursos naturais da sua área marítima; tem o maior patrimônio biológico do planeta e a maior disponibilidade de água doce, graças a seus rios e a dois gigantescos aquíferos; o Brasil tem a insolação necessária para a sua produção agrícola; não tem ocorrência de grandes intempéries, como vulcões, terremotos, tsunami e furacões; e possui uma população de mais de 200 milhões de habitantes, falando a mesma língua e formando um grande mercado consumidor.

Recentemente, por razões de ofício, tive que retornar à metodologia de planejamento estratégico empresarial. É claro que esta metodologia foi gerada visando atender às necessidades de empresas, órgãos do governo, ONGs e outras entidades. Contudo, me atrevo a dizer que ela pode ser usada para um país, desde que haja o alerta de que não se trata de um plano nacional de desenvolvimento, nem de um plano de metas. Ainda dentro dos resguardos que esta ousadia requer, este é um esboço de planejamento que serve somente para transmissão de ideias.

O único objetivo a ser alcançado, através deste planejamento, apesar de não ter delegação da sociedade, é a maximização do bem-estar social. A metodologia é intuitiva, não requerendo grandes explicações prévias para o leitor, a menos que é composta da identificação dos pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades do Brasil.

O sumário atualizado da palestra do Professor Pirró e Longo mostra alguns dos pontos fortes do Brasil, seguindo a citada metodologia. Listo a seguir os principais pontos fracos do Brasil.

Em primeiro lugar, a elite econômica brasileira que, com raras exceções, não quer o aumento do nível educacional da nossa sociedade e a sua conscientização política, para poder continuar maximizando seus lucros. Além disso, ela não se identifica com a nossa sociedade e, portanto, não possui sentimentos nacionalistas.

A mídia tradicional (jornais, revistas, TVs abertas e rádios) representa o segundo ponto fraco e é um instrumento de dominação da nossa sociedade pelo poder econômico e por poderes estrangeiros. O Judiciário e o Ministério Público compõem o terceiro ponto fraco. Eles não garantem que, para todas as situações, a justiça irá prevalecer, o que traz uma intranquilidade para a sociedade.

O quarto ponto fraco é representado pela classe política como um todo. Boa parte dos políticos, que são representantes do povo, só usa seus mandatos para usufruir vantagens pessoais ou beneficiar grupos econômicos e políticos, que lhes subsidiam. Este fato é consequência do baixo nível de conscientização política da população, que os elege.

Quanto ao quinto ponto fraco, ele é representado pelos militares brasileiros. Os militares da ativa, para satisfazer determinação legal, são reservados. Militares reformados têm maior liberdade de expressar seus posicionamentos. No passado, militares da ativa também se posicionavam livremente, o que, com razão, não é recomendado.

Entretanto, o conjunto dos militares, ao longo dos anos, tem sido nacionalista, haja vista as posições do General Horta Barbosa, do Almirante Álvaro Alberto, do Brigadeiro Montenegro e, mais recentemente, do General Ernesto Geisel. Por outro lado, os militares reformados, que hoje têm cargos no Executivo, não demonstraram contrariedade com relação às entregas do patrimônio nacional, já ocorridas no atual governo. Para respeitar a hierarquia, os atuais militares da ativa continuam calados. Porém, a inação do conjunto os classifica como ponto fraco neste planejamento estratégico.

O sexto ponto fraco é o atual Executivo brasileiro. A elite econômica não teve a compreensão da realidade que nossa sociedade viveria com a opção escolhida por ela, na eleição para presidente do ano passado. Seu candidato não pertencia a uma direita civilizada e, sim, a uma direita fascista e insensível a teses sociais, ambientais e de soberania, haja vista a submissão do Brasil como colônia dos Estados Unidos. Com tais características, não pode haver concessões. Neste momento, todas as forças políticas do país, que não sejam as dele, devem fazer um pacto pela manutenção das conquistas civilizatórias conseguidas, a duras penas.

Como exemplo, as ameaças que o Brasil sofre são: a implantação de uma nova ditadura no país; os contratos assinados pelo presente governo significarem um grande passivo futuro, que terá que ser honrado pela sociedade; a continuidade do uso de crimes eleitorais, como fake news, abuso do poder econômico, intimidação de lideranças oposicionistas; a classe média continuar a se aliar, inexplicavelmente, à elite econômica por medo ou admiração; a permanência da população com baixo grau de conscientização política, elegendo seus próprios algozes; a mídia tradicional, sem estar regulamentada, continuar a ser a maior alienadora da sociedade; e a dominação da política pelo poder econômico transforma parte dos políticos em seus subordinados.

Chegam à minha mente as seguintes oportunidades para o Brasil: a mídia alternativa quebra o monopólio da informação, que pertencia à mídia tradicional; a quase totalidade da elite intelectual e cultural brasileira é democrática, comprometida com os direitos humanos, o bem estar social e o direito da sociedade de estar bem informada; entidades da sociedade civil crescem politicamente com o aumento das agressões às instituições; devido a manifestações populares pode-se dizer que a sociedade está com melhor compreensão do que está ocorrendo; no entendimento de alguns juristas, muitos contratos assinados neste governo são verdadeiros acintes à sociedade brasileira (com vendas a preços vis, enfim, contratos leoninos) e podem ser revertidos podendo uma das partes ser classificada como receptadora; políticos de direita que não agridem os direitos humanos não concordam com as práticas e o método do atual presidente; apesar do ato de destruir estar ocorrendo a galope, o Brasil já tinha galgado um nível razoável de patrimônio, que não consegue ser destruído do dia para noite, nem pelo maior dos “exterminadores do futuro”; e o Brasil pode aproveitar um novo período de “Guerra Fria” para fazer melhores acordos internacionais, pois o mundo, hoje, não tem só um império, apesar do poder militar dos Estados Unidos ser incontestável, mas existe também a China, a Rússia, a Índia, além de outros, que contestam a dominação imperial.

Apesar de ter sido o planejamento a partir de uma só mente, é possível concluir que, com correções de rumo a serem feitas graças a uma melhor conscientização política da sociedade, o Brasil pode ser uma nação bastante acolhedora para todos os seus filhos, enfim, um bom local para se nascer.

 

Paulo Metri

Conselheiro do Clube de Engenharia

Paulo Metri
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