Correio da Cidadania

Mídia e Governo travam batalha pela (des)informação econômica

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A informação sobre assunto de economia e política econômica é notoriamente de interesse público, como de resto o é a informação jornalística em geral. Mas, no campo econômico, dois aspectos de certa forma comprometem o efetivo esclarecimento dos leitores. Utiliza-e em demasia uma linguagem especializada e ainda o conteúdo objeto da comunicação é tradicionalmente fonte de forte controvérsia ideológica.

 

Mais recentemente, os meios de comunicação em geral têm acentuado o tom especulativo sobre fatos e versões da atividade econômica, com propósitos tácitos ou explícitos de formar expectativas de agentes econômicos e eleitorais. A proximidade de uma grande eleição – outubro de 2014 - contribui para tal ambiente.

 

Três episódios recentes – o leilão do campo petrolífero de Libra (pré-sal),  a piora das condições externas (déficit nas transações correntes com o exterior) e das condições da situação  fiscal da União - têm merecido  um tratamento midiático exacerbado, que pouco ajuda a compreender o cenário real em disputa pelos agentes econômicos e políticos.

 

No primeiro caso, o leilão do Campo de Libra, a concorrência maior  não foi propriamente pela vitória na licitação, afinal ganha com lance mínimo por um único consórcio ofertante; mas por passar a imagem de “fracasso” ou de “sucesso” da empreitada. O que significa cada uma dessas expressões parece pouco relevante na guerra da comunicação. E mesmo quando a idéia de sucesso ou de fracasso não “cola” com os dados objetivos da situação, o assunto aparentemente morre na cobertura midiática, sempre à busca de temas mais controvertidos.

 

Conquanto superado nos cadernos econômicos dos grandes jornais, uma semana depois do leilão, pouco se sabe daquilo que objetivamente foi leiloado. A batalha ideológica não permite o esclarecimento de duas coisas fundamentais: 1- é o lucro extraordinário da ‘commoditie’ a cem dólares o barril que move todo esse processo, que também sustentará os investimentos e provavelmente o ritmo acelerado da exploração das jazidas naturais; 2 - a repartição desse lucro extraordinário (renda fundiária dos campos petrolíferos) depende crucialmente do efetivo exercício regulatório da soberania nacional, como também da manutenção das condições de mercado que geram essa renda extra (preço da ‘commoditie’ muito por cima dos preços de produção no pré-sal e obviamente fora dele).

 

Condicionantes e consequências do lucro extraordinário  em petróleo provavelmente irão jogar papel central no estilo de crescimento econômico do país, certamente nesta e na próxima década. Voltaremos ao assunto noutro artigo. Aqui o que interessa é a batalha ideológica, que não se encerrou no leilão do petróleo.

 

Outro tema atual de inegável preferência da grande mídia trata do “agravamento sem precedentes” da situação externa e da situação fiscal do país, expressa pelo duplo déficit – das transações externas e das contas fiscais do setor público, estas últimas sintetizadas pela Dívida Interna Bruta (do Setor Público). A discussão, que é também de notório interesse público, está obviamente fortemente contaminada pela orquestração.

 

De um lado, lê-se diariamente em praticamente todos os jornais, repercutidos na TV e no rádio, sobre o caráter catastrófico das contas públicas em razão de duas situações: a) da redução significativa do ‘superávit primário” (reserva de dinheiro para pagar juros); e b) da transferência de fundos públicos do Tesouro para os bancos públicos (BNDES e Caixa Econômica), tendo em vista alavancar, a partir destes, o financiamento a setores estratégicos, segundo a leitura governamental. A aposta oficial é de que esses investimentos (subvencionados em relação às taxas internas requeridas pelo sistema financeiro) encontrem parcerias privadas, principalmente na infraestrutura, de sorte a puxar o investimento geral  na economia.

 

Da situação externa, de repente a cobertura midiática resolveu revelar o óbvio. O país vai fechar o ano com exportações e importações de mercadorias praticamente zeradas, mas o déficit externo dos ‘Serviços’ ficará ao redor de 80,0 bilhões de dólares. Só falta lembrar que a dependência em Serviços (renda do capital estrangeiro principalmente) não é nova, que esta vinha senda suprida pelas “commodities” do setor primário e que esta equação já não é mais viável. Mas essa explicação não interessa nem aos grandes formadores de opinião (midiática), nem ao governo, que, diga-se de passagem, é também protagonista de peso na batalha da (des)informação econômica.

 

Guilherme Costa Delgado é doutor em Economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

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