Bestas humanas
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- Paulo Metri
- 08/07/2014
O significado de besta, usado aqui, não é o do livro do Apocalipse de João, relacionado ao Anticristo. Aliás, não tem nada a ver com religião. Significa um homem estúpido, sem a mínima sensibilidade humana, um animal, um ser desprezível, carecendo de nobreza.
Acidentes no futebol acontecem, quer seja em uma pelada na praia ou em uma partida da Copa. Mas, no lance da retirada de Neymar do restante desta Copa, foi diferente. Um animal com raiva, por possuir um futebol inoperante em vista do que é apresentado pelo craque, foi com vontade para derrubá-lo. Ele pode negar ter sido de propósito, mas a imagem do ocorrido mostra uma agressão desmedida. Se sua mente fosse sã, lutaria dentro das regras do jogo e o seu joelho não iria em direção à vértebra alheia. Um superdotado sempre causa um sentimento de humilhação nos medíocres ou subverte interesses estabelecidos. Haja vista o que Galileu, Darwin, Freud e tantos outros passaram até serem reconhecidos.
Entretanto, a bestialidade humana se expressa de inúmeras formas, através de vários atores e em diversos locais. Há bestialidade em todos os crimes, inclusive na corrupção. O holocausto, assim como qualquer assassinato, é um ato realizado por bestas. No ranking da bestialidade humana, as guerras, os extermínios, as lutas sangrentas pelo poder e as ditaduras estão no topo.
O liberalismo econômico passou por uma fase áurea no início do século passado. Com as duas guerras mundiais e a grande depressão de 1929, dentre outras causas, a sociedade humana passou a exigir dos governantes medidas de avanço nas condições de vida. Então, o período que vai dos anos 30 aos anos 70 correspondeu, a grosso modo, ao auge da social democracia no norte da Europa, às conquistas da revolução de 1917 na Rússia, aos reflexos da adoção do New Deal nos Estados Unidos e às conquistas sociais no Brasil - enfim, foi um período em que as condições de vida de grande número de sociedades melhoraram. Piketty nos prova como melhoraram as distribuições de renda e riqueza no período.
O liberalismo econômico saiu da sua hibernação nos anos 70, com o esfacelamento da União Soviética, a ascensão dos Estados Unidos como nação hegemônica e o aparecimento de novas gerações que não presenciaram os horrores das guerras e da grande depressão. Margareth Thatcher e Ronald Reagan foram as grandes vedetes do retorno da concentração de renda e riqueza no mundo ocidental, por isso têm seus nomes garantidos no Hall da Fama Bestial por suas agressivas contribuições. O capitalismo, sendo o nome verdadeiro do liberalismo econômico e do neoliberalismo, é a besta da exploração do homem pelo homem.
São bestas os agentes de exploração dos seus pares, por exemplo, os africanos que, no passado, caçavam africanos para serem vendidos como escravos. Nesta categoria, enquadram-se todos que trabalham em órgãos do governo brasileiro e buscam privilegiar os interesses das empresas estrangeiras, penalizando a nossa sociedade. Estas bestas são encontradas em muitas das agências reguladoras nacionais. Existem os servidores públicos cujos impactos das suas bestialidades são superiores. No caso de juízes, os policiais e os fiscais de impostos, por servirem de modelos para a sociedade, seus erros podem causar impactos incomensuráveis. Contudo, toda besta é danosa para a sociedade e não faz sentido tentar mensurar o grau de impacto da ação bestial.
A besta mídia, com a transfiguração da realidade, que realiza para beneficiar grupos de interesse com a ignorância da sociedade, é a causadora da grande exploração da mesma sociedade. Termino lembrando que o país vai ter eleições para presidente brevemente e bestas marqueteiros dos bestas candidatos do capital foram convocados para desviar a atenção do povo do principal e oferecer a ele promessas que, na maioria das vezes, não irão ser cumpridas. Quando a humanidade deixará de ter tantas bestas?
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da Cidadania. Blog do autor: http://www.paulometri.blogspot.com.br/