Relatório do encontro “Igreja x Movimentos Sociais”
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- 30/01/2015
IGREJA E MOVIMENTOS SOCIAIS - 2 DE DEZEMBRO DE 2014
Aos dois de dezembro de 2014, às 09h30, numa das salas do Convento Franciscano, à R. Riachuelo, nº252, Largo São Francisco, centro de São Paulo, a convite do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), da IPDM (Igreja, Povo de Deus, em Movimento) e do SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade), aconteceu um primeiro encontro de aproximação entre Igreja e Movimento Sociais, inspirado pelo gesto do papa Francisco que, em outubro de 2014, reuniu em Roma, representantes mundiais de Movimentos Sociais.
Fizeram-se presentes perto de 60 pessoas representantes de diversas Pastorais, Movimentos Sociais e Partidos Políticos. A reunião foi coordenada por Eduardo Brasileiro (IPDM, SEFRAS) e Pe. Paulo Sérgio Bezerra (IPDM).
1º MOMENTO: DUAS ‘PROVOCAÇÕES’
Após a apresentação dos participantes e a mística motivadora, o primeiro momento do encontro contou com duas “provocações” sobre o tema “Igreja e Movimentos Sociais: rearticulação” –, proferidas por Guilherme Boulos (coordenador nacional MTST) e por Dom Angélico Sândalo Bernardino (bispo emérito de Blumenau – SC).
Guilherme Boulos, agradecendo a oportunidade do encontro, chamou a atenção para a “preocupante e interessante conjuntura nacional pós-junho de 2013 que, expressando o esgotamento de um possível pacto social, se tornou marco de um novo ciclo de mobilizações no Brasil, com destaque para o MPL (Movimento Passe Livre) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto). Chamou a atenção sobre a rearticulação da direita, cuja “força na consciência popular não pode ser subestimada, haja vista a bancada eleita para o Congresso Nacional e a nova Equipe Econômica nomeada pelo governo”.
Enfatizou a necessidade das “reformas estruturais” para enfrentar a política neoliberal através da “ousadia de fazer frente à elite dominante”. Daí a “necessidade de unificar nossas lutas, cujas várias demandas compõem uma pauta que não nasceu ontem”. Por isso “buscar o diálogo com a CUT, o PSOL, o MPL, as JUVENTUDES, as PASTORAIS e outros coletivos para construir uma “frente” que componha uma plataforma de consenso”. Terminando, afirmou que “o Papa Francisco, com clareza, tomou esta iniciativa com visão crítica. Não basta um bom projeto, é preciso o trabalho de base. E, a força social passa pelas igrejas”.
Dom Angélico Sândalo Bernardino iniciou sua fala simpaticamente: “lamento não poder provocar suficientemente, dados meus 82 anos”. Saudou essa significativa reunião que se propõe “à grande luta de derrubar esse ‘capetalismo’ em vista da socialização que deve crescer no mundo. Lembrou que “as reformas não acontecerão sem organização da base; nada de muito discurso de esquerda – pois fora disso o que vem são os ‘compadrios’. As mobilizações de junho, se não forem direcionadas, morrem”.
Exortou a que se “agarrem as propostas do evangelho neste kairós que representa o Papa Francisco para a Igreja e para o mundo”. Observou que num mundo globalizado as “nossas pastorais não estão sincronizadas e um encontro como este deve servir para isso”. Sugeriu concretamente uma “coordenação desse encontro e numa das salas de um dos Movimentos Sociais, um pequeno escritório de referência”. Que ninguém se feche só “na própria pastoral e grupo”, mas que se unam as forças. Além disso que haja “objetivos claros e bandeiras específicas assumidas por todos”.
2º MOMENTO: FÓRUM DOS PARTICIPANTES
O Fórum dos Participantes, segundo momento da reunião, contou com 25 intervenções, das quais surgiram as seguintes propostas de encaminhamento e algumas considerações:
1. Criar uma Coordenação do grupo, com objetivos claros e bandeiras comuns. Um pequeno escritório referencial (numa sala cedida por algum dos movimentos ou pastorais).
2. Motivar a Igreja a voltar-se mais para a dimensão social, tendo como motivação a Campanha da Fraternidade 2015.
3. Criar mentalidade nova de refazer o trabalho de nucleação: envolver novas gerações; desgastar o Sistema com denúncias dos que o mantêm; programar ações de curto, médio e longo prazo.
4. Levantar a bandeira das “Políticas Públicas” (saúde, cultura, educação etc.) através de mobilizações. A Pastoral da Terra e da Moradia fará sua 20ª. Caravana a Brasília em maio de 2015. Proposta de Caravanas a Brasília.
5. Resgatar a Igreja Popular e Profética com a retomada do trabalho de base nas paróquias e dioceses. As pessoas que vieram a este encontro são gente de resistência há décadas. Com o papa Francisco os ventos estão favoráveis. É preciso “fazer a lição de casa”; procurar parcerias; debater sobre o conjunto das Reformas. Plínio Sampaio Júnior se propõe a assessorar, nesse sentido, encontros com intelectuais também. Despertar a juventude através da PJ, que parece ressurgir aqui e acolá.
6. Expandir para outras Igrejas e Grupos Religiosos essa mesma discussão.
7. Elaborar pautas comuns e ampliar nacionalmente encontros como este.
8. Talvez, mais que uma “pauta comum”, reconstruir uma “nova mística”. O que deve passar, necessariamente, pela formação dos padres e revisão das estruturas de formação dos mesmos. A Teologia da Libertação elaborou uma mística que levou centenas de pessoas às periferias. Algumas delas presentes nesse encontro. A novidade desse encontro é a “possibilidade de rearticulação” do que foi disperso nos últimos 20 anos na Igreja. “Igreja e Movimentos Sociais” já é início de mística.
9. Denunciar a mentira e a cooptação dos diversos “conselhos” criados de “cima para baixo”. Aferir nas ruas as “políticas” dos três níveis de governo. Não temer o conflito e o enfrentamento. Quem de fato acredita na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal? Estar com os grupos emergentes. Não temer a repressão, sem precedentes, que está sendo impetrada contra as manifestações. Mais do que uma “coordenação que possa orientar caminhos”, entender o que é na prática ser “fermento na massa”.
10. Reproduzir no Brasil encontros como este. Há sobreviventes em todos os cantos. Ter como foco a “Reforma Política”. Voltar a construir Igreja e Movimentos Populares. Promover encontros como este que gerem energia e criem articulações.
11. Escolher um grupo que retome e reelabore as propostas deste encontro (abaixo equipe que se dispôs primeiramente)
12. Ter uma “coordenação de serviços de provocação” que atue de forma diferente das clássicas coordenações. Que tome iniciativas autônomas e solidárias. Uma coordenação disposta a alimentar o entusiasmo. Compartilhar os contatos de todos e investir também na formação da consciência.
13. Descobrir um método de trabalho. Lembrar sempre: lutas sociais nas ruas, a conversa é outra.
14. Gerar indignação através da socialização da informação.
15. Desenvolver a pauta da “desmilitarização da segurança pública” com ênfase numa reflexão do poderio da polícia militar e da criminalização dos movimentos sociais.
16. Promover um “Fórum de Pastorais Sociais e Ecumênicos” na Metrópole de São Paulo.
17. Desenvolver a pauta do “Genocídio da Juventude Pobre, Negra e Periférica”.
18. Criar/acompanhar agenda de direitos humanos que possibilite a discussão e ampliar frentes que pressionem as gestões municipais e estadual no que tange a políticas públicas as minorias, como: população de rua, LGBT, mulheres e negros.
19. Possibilitar pontes entre a Articulação Igreja e Movimentos Sociais com a CNBB e CONIC e firmar uma articulação forte que entre no atual cenário político afirmando a importância de reformas populares.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
1- A iniciativa deste encontro leva a enfrentar vários desafios: como lidar na atual conjuntura com as diferentes vozes, diferentes necessidades com suas estratégias e problemas? O contexto social ambivalente onde há a hegemonia de movimentos conservadores e a articulação de movimentos populares? Como conversar com as diferentes necessidades e problemas: vida digna e violência contra a mulher, contra os negros (racismo) e homofobia? Como pensar a estrutura da Igreja Católica na qualificação e efetiva participação da mulher e o ministério feminino?
2- Esse encontro será histórico se der um passo adiante. A tarefa de conscientização e formação deve levar em conta a globalização, aprender das experiências passadas. Manter a articulação sem manter a forma antiga nas propostas de ação. Ser um espaço de horizontalidade e construção coletiva a partir de grupos de trabalho que sistematizem e em encaminhem as demandas. Buscar método de trabalho a partir das forças emergentes de esquerda no mundo todo com o desejo de conquistar o imaginário popular.
3- A percepção das novas gerações vê as ideias de esquerda com suspeita. Parece ter sido esta uma das lições de junho de 2013. Uma “frente” nova de esquerda não pode ter dois pesos e duas medidas sob condição de perder a credibilidade. Avançar na visão crítica e na luta também em relação ao “modelo de desenvolvimento” e ao “meio ambiente”.
4- A questão de gênero deve ser abertamente discutida na Igreja.
5- Enfrentar o poder da mídia cujo conservadorismo desqualifica e criminaliza as lutas sociais. Formar e informar para que as pessoas se indignem. Além de reivindicações pontuais e lutas específicas evidenciar a crise do capitalismo.
Movimentos e entidades presentes:
Igreja Povo de Deus em Movimento (IPDM);
Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras);
Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST);
Pastoral do Povo de Rua;
Pastoral Operária;
Pastoral Carcerária;
Pastoral da Juventude;
Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo;
Pastoral da Moradia da Arquidiocese de São Paulo;
Conselho Nacional de Leigos do Brasil (CNLB SUL1);
Serviço Inter Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia (Sinfrajupe);
Justiça e Paz e integridade da Criação (JPIC);
Centro de Serviço Ecumênico e Educação Popular (CESEEP);
Comissão Pastoral da Terra - MG;
Conselho Indigenista Missionário (CIMI);
Católicas Pelo Direito de Decidir;
Pastoral da Mulher Marginalizada;
Coletivo Revolucionário de Libertação (CORDEL);
Mística e Revolução (Mire);
Coletivo Frei Tito Vive;
Pastoral Operária do ABC;
Comissão Fé e Política do Jd. Ângela;
Grupo de Ação Pastoral da Diversidade SP;
Movimento Juvenil Dominicano (MJD)
Rede Ecumênica da Juventude (REJU-SP) ;
Centro de Juventudes Anchietanum;
Instituto Paulista da Juventude (IPJ);
Centro de Capacitação da Juventude (CCJ);
Comunidade Metodista da Vila Mariana;
Rede de Solidariedade Marista;
Rede de Escolas de Cidadania (REC);
Comissão Brasileira de Justiça e Paz
Cento Santos Dias de Direitos Humanos
Mandato do Vereador Toninho Vespoli (PSOL);
Mandato da vereadora Juliana Cardoso (PT);
Mandato da Deputada Federal Luiza Erundina (PSB);
Mandato do Deputado Estadual Adriano Diogo (PT);
Mandato do vereador de Diadema Zé Antônio (PT);
Plataforma Movimentos Sociais pela Reforma Política;
Direção Nacional do PSOL;
Sindicato dos Economistas;
Radio da Paz (105,9 FM);
Diocese de Mogi das Cruzes;
Diocese de Osasco;
Diocese de Santo Amaro;
Movimento Popular de Saúde – SP
Movimento Fé e Política – ABC.
Fraternidade Charles de Foucauld
EQUIPE DE ENCAMINHAMENTO
Nos momentos finais do encontro, as seguintes pessoas se propuseram a formar uma equipe de encaminhamento:
1. Francisco Withaker
2. Stela Withaker Ferreira
3. Adriano Diogo
4. Waldir Augusti
5. Mona Zeyn
6. Celina Simões
7. Daniel Monteiro Lima
8. Alexandre Pupo Quintino
9. Vanilda Assunção
10. Eduardo Brasileiro
11. Paulo Sérgio Bezerra
12. José Francisco de Cássia
13. José Oscar Beozzo
Secretários,
Eduardo Brasileiro e Pe. Paulo Sérgio Bezerra
São Paulo, 26 de janeiro de 2015.