MST denúncia truculência em desocupação de área de Sidrolândia-MS
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- 30/01/2015
Acampados são surpreendidos com batalhão de choque armado na madrugada desta quinta-feira (29).
Na madrugada desta quinta-feira (29), as cerca de 140 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST\MS), que estão acampadas nas terras improdutivas da Usina Sucroenergética Agrisul Agrícola, unidade de Mato Grosso do Sul, mas conhecida como Santa Olinda, do usineiro José Pessoa, no distrito de Quebra Coco, em Sidrolândia, a 70 km de Campo Grande, foram surpreendidas com o batalhão de choque da Companhia de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais, grupo de elite da Polícia Militar, armados e utilizando de muita truculência os polícias alegaram estar cumprido um mandato de desocupação da área.
Na ocasião os mesmos queriam dar apenas 15 minutos para as famílias desocuparem o local, ameaçando por fogo nos barracos, sem o mínimo respeito às pessoas, em sua maioria, mulheres, crianças e idosos que ali se encontram. Durante o processo de desocupação, por diversas vezes, os acampados presenciaram cenas de preconceito dos polícias, muitos usaram palavras de baixo calão e outros afirmavam em alto e bom som que seria mais rápido “passar a patrola por cima de todo mundo”. Jornalistas que cobriam a desocupação foram acuados pelos policiais que não queriam mostrar seus rostos e muito menos queriam publicitado a forma antiética com que estavam realizando o seu trabalho.
Um acampamento, próximo ao do MST, com cerca de 40 barracos, pertencente ao outro movimento de luta pela terra, foi totalmente queimado pelos policiais, que logo deram um jeito de passar um trator no local para esconder a marca do fogo que queimou pertences de muitos que só possuíam esses bens em sua vida.
Em nenhum momento, desde o dia 10 de janeiro, quando o movimento abriu o acampamento no local, houve notificação judicial de desocupação da área para os dirigentes do MST, todos ficaram sabendo da situação por notícias na imprensa, portanto as famílias não estavam preparadas para desocuparem o local e nem tinham em mente onde montar um novo acampamento.
A indignação aumenta quando vemos a força do capital que sempre vence a luta dos trabalhadores por dignidade e respeito. Seguimos nos perguntando como que os proprietários de uma Usina que está afundada em dívidas trabalhistas no Ministério Público do Trabalho, estimadas em torno de R$ 1 bilhão com bancos, fisco, fornecedores e encargos trabalhistas, está na lista das empresas que utilizaram trabalho escravo, que até 2009 estava na lista “suja” por conta disso, consegue um mandato de desocupação em dias, não cumpre os procedimentos legais de notificação e consegue um aparato policial de um batalhão de choque para coagir famílias que estão batalhando por seu sonho de construir uma vida digna?
O movimento já tomou as medidas judiciais cabíveis para garantir a segurança das famílias e também entrou em contato com órgãos nacionais de defesa dos direitos humanos, reforçando que o Estado não cumpriu com as normas da desintegração de posse acordadas com o Governo Federal e desacatou a Constituição Federal, que em seu artigo 126 trata dos conflitos fundiários e determina em parágrafo único que em situação como essa, se faz necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio e não a policia fazendo papel de judiciário.
A luta histórica por Reforma Agrária popular e democrática do MST, movimento que milita há 30 anos por soberania alimentar e dignidade para famílias que sonham com um pedaço de terra para produzir, continuará sua caminhada, mesmo sob a truculência das forças policiais, mesmo com a inabilidade dos poderes constituídos, mesmo com a repressão, o que move o movimento é o sonho, a esperança e é por isso que as 140 famílias já se encontram em outra área, próxima ao local que estava ocupado, reconstruindo seus barracos, cicatrizando as feridas da alma e continuando a batalha da vida.