A política higienista da prefeitura de São Paulo e o fechamento dos Centros de Convivência
- Detalhes
- Correio da Cidadania
- 30/11/2015
Não é de hoje que a prefeitura tenta fechar os centros de convivência da população de rua (ela já fechou três serviços: Parque Dom Pedro, Mooca e Santa Cecília), em especial os centros localizados na zona leste da cidade. Os Centros, também chamados de Tenda de Convivência para a população de rua, foram criados na gestão de Gilberto Kassab como uma forma de higienismo social, escondendo as pessoas que o centro da cidade não deveria ver. Foi com essa mesma política que Haddad e a secretária de Assistência Social Luciana Temer assumiram o governo no começo de 2013.
Com junho de 2013, o prefeito modernista do Arco do Futuro se transformou no “prefeito gato”, da mobilidade e da política de direito à cidade, se apropriando do lema das manifestações de “toda a cidade para todos”. A política de direito à cidade, no entanto, novamente segregou o povo de rua.
Nesse contexto, surgiu também a Tenda Alcântara Machado, inaugurada em 2012. A Tenda, ao contrário da política da prefeitura e suas secretarias, baseia-se pedagogia de Paulo Freire e outras pedagogias libertárias para construir de forma horizontal com a população de rua suas demandas e construção cotidiana dos espaços. Através da percepção política de sua situação, a população de rua começou a se organizar e se apropriar dos espaços de discussão de política urbana e direito à cidade. Assim, reuniões sobre a população de rua foram tomadas, de forma quase inédita, por moradoras e moradores de rua. Palestras sobre o direito à cidade receberam a visita de quem requer para si um pedaço da cidade, com a legitimidade de ser terceira geração de ocupantes daquele espaço.
O povo de rua, aliás, mal admite essa generalização: tanto há pessoas que dependem dos espaços ameaçados de fechamento para a emissão de um comprovante de residência para a busca de um emprego quanto pessoas que reivindicam o direito à rua, já que ali residem há duas ou três gerações. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social não só não pensa em política para esses como não sabe lidar ou responder às negativas, que também são respostas. A contraproposta da prefeitura é arbitrária por caminhar exatamente na contramão do trabalho realizado com sucesso, até o momento, pelas Tendas: entender as especificidades de quem mora na rua e construir com essas pessoas a cidadania e o direito à cidade.
A política higienista da secretaria de Assistência Social insiste em tratar como, justamente, assistencialismo, o que é uma luta por moradia. Para substituir os centros de convivência – onde se pode lavar roupa e tomar banho, por exemplo, mas não dormir – a prefeitura deveria oferecer moradia digna, afinal, casais não podem morar em albergues e a bolsa aluguel de 500 reais não paga uma casa na região. Mesmo que se divida com amigos.
Além disso, ela trabalha em uma lógica esquizofrênica de fechar serviços para centralizar o atendimento ao invés do contrário, descentralizar e ampliar o atendimento à população de rua.
Quem transita pela Tenda Alcântara Machado tem ainda outra experiência, além de acessar o mínimo da dignidade que significa um banheiro: ali se observam moradoras e moradores de rua ativos politicamente, que constroem de fato o espaço de convivência e à revelia da prefeitura se apropriam de um espaço que os pertence. Através da autogestão do espaço – como a própria secretária de assistência social chamou a tenda – quem ali convive luta pelo seu direito à cidade. Foram feitas propostas inclusive de complexificar o serviço, tornando-o mais humano, mas a prefeitura rejeitou.
O CATSo (Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais) tem como intenção se organizar com as pessoas que moram nas ruas da cidade, visando a garantia de direitos e o reconhecimento destas pessoas como parte desta cidade, além da busca de autonomia.
Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais.
Pagina no Facebook
https://www.facebook.com/Coletivo-Autonomo-Dos-Trabalhadores-Sociais-214073145440801/?fref=ts