Correio da Cidadania

Países da Alba decidem criar uma moeda comum: o “Sucre”

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Os presidentes e representantes governamentais dos países membros da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), mais o Equador, deram hoje sinal verde à criação de uma moeda comum, denominada Sistema Único de Compensação Regional (Sucre), que inicialmente circulará de maneira virtual.

 

A declaração final da III Cúpula extraordinária da Alba aprovada na quarta-feira (26), em Caracas, "dá sinal verde à construção da zona monetária unida e um fundo de reservas com contribuições de países membros para sustentar políticas de desenvolvimento", disse o documento lido pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

 

O texto recebeu o apoio dos presidentes Evo Morales, da Bolívia; Rafael Correa, do Equador; Manuel Zelaya, de Honduras; Daniel Ortega, da Nicarágua; e dos representantes governamentais de Cuba e República Dominicana, que irão reunir-se novamente em 14 de dezembro, em Caracas, para aprovar os detalhes técnicos da iniciativa.

 

Os chefes de Estado se comprometeram a articular propostas regionais que busquem a independência dos mecanismos financeiros internacionais, além de ativar estruturas na ONU que respondam aos desafios mundiais.

 

Os participantes da Cúpula, convocada em urgência por Chávez para avaliar a crise financeira do capitalismo, expressaram sua preocupação pela ausência de propostas reais para solucionar a crise que ameaça todos os povos.

 

O vice-presidente do Conselho de Ministros de Cuba, Ricardo Cabrisas, advertiu que o plano de resgate do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e da Europa, prioriza os especuladores e banqueiros declarados falidos pelo mercado. "Eles destinaram três bilhões de dólares para salvar a estrutura falida, mas durante décadas não foram capazes de cumprir o compromisso de destinar 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) à ajuda oficial de desenvolvimento".

 

Tampouco, disse, foram destinados entre os 30 bilhões de dólares para melhorar a produção agrícola no Terceiro Mundo, nem 20 bilhões para o Programa Educação para Todos. O presidente nicaragüense Daniel Ortega considerou imoral o pretexto de que não há recursos para o desenvolvimento, mas sim para guerras como as do Iraque e Afeganistão, e para salvar bancos.

 

Cabrisas afirmou que a crise atual não é uma repetição das anteriores, pois vem acompanhada de crise energética, alimentar, ecológica e social, e tem lugar quando a globalização econômica é mais extensa e intensa que nunca. Por isso, a crise vai mais além do neoliberalismo e converte-se diretamente no desafio da capacidade dos humanos em salvar a espécie.

 

De acordo com ele, "a crise que a economia mundial vive é conseqüência dos modos de produção e expansão do sistema capitalista; é de caráter estrutural e não só financeira, como se tem pretendido mostrar". Engloba, por sua vez, outras crises que põem em perigo a humanidade, concluíram dirigentes sociais do México, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Argentina, Bolívia e Chile, pertencentes à Aliança Social Continental (ASC), em reunião em Quito, em 15 de novembro de 2008, ao mesmo tempo em que os líderes do G-20 se encontravam em Washington.

A ASC afirma que esta não é mais uma das crises cíclicas do capitalismo. Para eles, a de hoje é muito mais profunda, pois além da inevitável superprodução que acarreta, significa a explosão de um modelo econômico que tem detido a produção no Sul, gerando desemprego e aprofundando a pobreza.

De acordo com a ASC, ante a incapacidade de resolver por seus próprios esforços a recessão econômica, as potências aprofundaram o receituário neoliberal de maior exploração da mão-de-obra e os recursos naturais, em busca de reativar sua produção. Os dirigentes da ASC exigiram aos governos da região que mudem o modelo de desenvolvimento e que acelerem o processo de integração regional dos povos.

 

Colaboração

 

O vice-presidente do conselho de ministros de Cuba ratificou a validez da integração regional e o valor da Alba, uma fórmula baseada em solidariedade, cooperação, vantagens compartilhadas e sensibilidade para a dívida social acumulada.

 

Segundo Daniel Ortega, a Alba coloca em posição vantajosa a região para enfrentar a crise, porque "constitui um modelo de orientação socialista, marcado pela solidariedade, a complementaridade, o comércio justo e a promoção de programas sociais como a saúde e educação gratuita".

 

Os dirigentes sociais da ASC propuseram combater a instabilidade financeira, a escassez de crédito e a tendência a condicionar a concessão de créditos por parte do sistema financeiro multilateral, acelerando a criação de um sistema financeiro regional que facilite financiamento sem condicionamentos; que permita uma defesa efetiva ante a instabilidade financeira global, e apóie a estabilidade monetária de todos os países ante possíveis ataques especulativos contra moedas nacionais.

 

Nesse marco, os governos deveriam implementar medidas defensivas imediatas diante da especulação com as moedas e a possível fuga de capitais, tais como o controle de câmbio.

 

Na Cúpula da Alba, o presidente do Equador, Rafael Correa ressaltou que as soluções à crise mundial existem, mas afirmou que é imprescindível tomar decisões políticas. Por isso, pediu aos países da América Latina que criem uma nova arquitetura financeira para serem mais autônomos e soberanos.

 

Sua proposta tem três pilares fundamentais: um banco de desenvolvimento regional, fundo de reservas da área para enfrentar potenciais crises e eventuais problemas econômicos, e uma moeda comum contábil para os intercâmbios comerciais, a qual, a princípio, pode ser virtual.

 

A declaração da Alba faz evidente o desejo de seus membros de desvincular o monopólio do dólar nas relações econômicas internacionais. Cabrisas apontou o sistema monetário internacional baseado no dólar como fator central do nó de contradições da crise. Correa insistiu em que o Sucre não utilize nenhuma divisa estrangeira.

 

Chávez sugeriu começar a organizar um fundo financeiro de reservas parecidos ao que mantém a Venezuela e Cuba, mediante o qual o intercâmbio comercial cresceu de 200 milhões a cinco bilhões de dólares.

 

A ASC observa que a crise global mostra a vulnerabilidade das economias que tem feito do setor exportador o único motor do crescimento, um setor altamente vulnerável às flutuações de preços e ciclos econômicos das potências. Por isso é preciso fortalecer o comércio intra-regional complementar e o centro da economia deveria ser voltado à produção do que se consome nacional e regionalmente.

 

Publicado originalmente em Brasil de Fato.

Fonte: Bolpress.

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