Mais de 9 milhões de crianças sofrem com insuficiência alimentar na América Latina
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- Andrea
- 15/12/2008
A América Latina e o Caribe continuam vulneráveis aos choques externos e encontram-se em situação de incerteza diante no novo cenário de crise econômica mundial, principalmente no que concerne à segurança alimentar das populações. Essa é a realidade da região apontada no "Panorama da Fome na América Latina e Caribe", elaborado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), apresentado na semana passada.
A análise oferece um olhar sobre a situação da fome na região e as estratégias seguidas por governos e sociedade civil nas suas tentativas de erradicá-la. Além disso, o relatório aborda os desafios que estão por vir para o cumprimento do direito à alimentação. Os 15 anos de avanços na luta contra a fome obtidos no período de 1990-2005 foram desfeitos por causa da crise financeira e do aumento dos preços do alimento, segundo o informe.
Durante o período, a América Latina e Caribe alcançaram uma redução de 52,6 milhões para 45,2 milhões de pessoas que passam fome na região. A América do Sul foi a sub-região que mais avançou, diminuindo sua população subnutrida de 35,5 milhões para 28,8 milhões. A queda desse índice na América Central foi de apenas 5,5 milhões para 5,4 milhões. Já no Caribe, houve um aumento de 7,5 milhões a 7,6 milhões.
A alta do preço dos alimentos elevou para 51 milhões o número de pessoas com fome em 2007. A FAO estima que, em 2008, esse número seja ainda maior. O Panorama da Fome destaca que os públicos mais afetados pela crise são as crianças e as minorias, como afro-descendentes e indígenas. Em famílias indígenas pobres da Bolívia e do Peru, a desnutrição crônica atinge, respectivamente, 44% e 50% da população.
Em toda a região, mais de nove milhões de crianças são afetadas em seu desenvolvimento devido a uma alimentação insuficiente. Na Nicarágua, Haiti, Guatemala, Honduras, Bolívia Equador e Peru, os níveis de desnutrição crônica infantil permanecem muito altos. O México e o Brasil são os países que concentram 43% do total de casos de baixa estatura para a idade da região.
Outro destaque do relatório são as políticas sociais implementadas pelos governos, entre elas o reforço das redes produtivas e de segurança social. Estão sendo realizadas políticas que favorecem a expansão da disponibilidade de alimentos no médio e longo prazo, por meio de investimentos em infra-estrutura rural e na agricultura, principalmente na agricultura familiar. Em países como Brasil, Chile, Colômbia, Equador e México, por exemplo, a participação desse setor na produção total agrícola varia entre 30% e 70%.
O informe ainda faz estimativas para o ano de 2009, em que seria esperado um aumento no número de pessoas subnutridas devido aos efeitos da crise financeira e da desaceleração da economia mundial. Menor acesso aos alimentos e outros bens básicos por causa do aumento do desemprego e menores entradas de remessas aos lares pobres são alguns dos problemas previstos. Além disso, prevêem-se dificuldades na disponibilidade de cereais devido à redução nos prognósticos de produção.
Publicado originalmente em Adital.