Correio da Cidadania

Só a luta pode melhorar a vida do povo

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Em 2008, escrevemos mais um capítulo na luta entre os dois projetos que disputam a agricultura brasileira. De um lado, a pequena e média agricultura, que produz alimentos para a mesa das famílias brasileiras. De outro, as grandes empresas, nacionais e transnacionais, e o capital financeiro, que produz soja, eucalipto, cana-de-açúcar e pecuária extensiva para exportação.

 

O governo Lula, infelizmente, segue dando prioridade ao modelo do agronegócio. Concedeu créditos, perdoou dívidas e flexibilizou a legislação ambiental, enquanto os trabalhadores rurais continuam na luta pela Reforma Agrária e os assentados passam por grandes dificuldades para garantir a produção e obter renda. Desta forma, ganha força o modelo agroexportador, baseado em grandes extensões de terra, uso de venenos, impactos negativos no meio ambiente e exploração do trabalho.

 

Neste ano, aprofundou-se também a política voltada para os agrocombustíveis, que contribuem para o aumento do preço dos alimentos, tanto por avançar sobre outras lavouras como por elevar a média do valor dos produtos agrícolas. O modelo do agronegócio, especialmente a produção de matéria-prima para combustível, aumenta a fome no mundo, na mesma medida em que amplia o lucro das empresas transnacionais, como Bunge, Cargill, Monsanto, Bayer, Syngenta, entre outras.

 

Enquanto isso, a Reforma Agrária não avançou e a concentração de terras aumentou! Entendemos que sem pressão social não é possível haver transformações significativas no nosso país, marcado por profundas desigualdades sociais e pobreza.

 

Por isso, fomos às ruas, ocupamos latifúndios, pressionamos os governos por Reforma Agrária, escolas, crédito, agroindústrias cooperativadas, casas, ou seja, por condições de viver e trabalhar.

 

Denunciamos o modelo do agronegócio, os crimes cometidos pelas companhias transnacionais, o avanço da cultura dos transgênicos, a usurpação do nosso território e da nossa biodiversidade por empresas estrangeiras.

 

A luta pela Reforma Agrária não é simples. Enfrentamos os setores mais conservadores do nosso país, que tentaram criminalizar e até colocar na ilegalidade uma luta digna e justa por melhores condições de vida. Enfrentamos empresas poderosas e o capital financeiro, que querem controlar a produção, industrialização, distribuição e comercialização da comida.

 

Ainda assim e mesmo com tantos obstáculos e repressões, tivemos conquistas! Os novos assentamentos como em São Gabriel (RS), no coração do latifúndio endividado; Chico Mendes (PE), na antiga Votorantim; e, desapropriando por fins sociais uma fazenda de trabalho escravo, no Pará, são exemplos de que com luta e resistência, as conquistas são possíveis.

 

Além destas conquistas, a crise do sistema financeiro internacional – o mesmo sistema financeiro que gere o agronegócio – revelou a fragilidade do modelo concentrador. A especulação e lucro das empresas do agronegócio acima de qualquer interesse foram revelados à sociedade. Os grandes projetos de celulose, por exemplo, que ameaçavam transformar estados em "desertos verdes" ruíram com a especulação, consumindo recursos públicos e demitindo milhares de trabalhadores enganados com as promessas de empregos. A crise dos alimentos também revelou as prioridades do agronegócio: buscando salvação das bolsas de valores, especularam com um direito básico dos seres humanos, a alimentação.

 

Agora fica evidente que apenas a Reforma Agrária pode produzir alimentos e gerar empregos permanentes no campo, além de milhares de empregos indiretos nas cidades onde os assentamentos se instalam, movimentando a economia local e alimentando a cidade.

 

Nossa luta é a mesma de tantas brasileiras e brasileiros: luta por dignidade e por um país justo e fraterno. No campo, lutamos ao lado dos atingidos por barragens, pequenos agricultores, indígenas, quilombolas e pescadores. Na cidade, nos unimos aos sem-teto, aos ambientalistas, aos petroleiros, aos desempregados, aos professores, ou seja, a todos os trabalhadores e trabalhadoras que defendem um Projeto Popular para o Brasil.

 

A crise econômica mundial abre oportunidades para o nosso país e para a classe trabalhadora. Não podemos deixar passar a chance de mudarmos esse modelo econômico, que impede o nosso desenvolvimento com justiça social. Só a luta poderá evitar que a crise caia nas costas dos trabalhadores, com aumento do desemprego e diminuição do salário.

 

Nesse contexto, entramos em 2009, ano em que comemoramos 25 anos de luta e organização, animados e com a esperança de que o povo brasileiro vai se levantar para lutar por seus direitos.

 

Bom 2009 e boas lutas para todos nós!

 

Coordenação Nacional do MST

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