Correio da Cidadania

MST reafirma compromisso com a luta pela Reforma Agrária

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Recebemos em nosso 13º Encontro Nacional o apoio de diversos companheiros e companheiras da luta pela Reforma Agrária. No dia 24, realizamos um ato político com a presença de representantes dos partidos de esquerda, centrais sindicais, igrejas, intelectuais, dirigentes e lutadores do Brasil e de outros países. Nosso encontro reuniu mais de 1.500 militantes dos 24 estados onde o MST está organizado e contamos com convidados de mais de 30 países. O balanço das discussões foi divulgado em um manifesto, em que reafirmamos o compromisso com a luta pela Reforma Agrária e pelas mudanças necessárias ao país (leia abaixo).

 

"O MST não é a doença do Brasil, é a demonstração da saúde, dos que não se dobram diante da tirania, da opressão e da marginalização. O MST no Brasil é o movimento palestino em Gaza. Esse movimento extraordinariamente organizado, que forma militantes em escolas e universidades, é uma graça de Deus para que a paz seja instaurada no país", afirmou o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB).

 

Jackson Lago (PDT), governador do Maranhão, destacou a importância do Movimento na luta pela educação. "O MST desempenha um papel importante nas lutas sociais do país, e especialmente na luta pela erradicação do analfabetismo. Espero que o Movimento continue contando com o apoio da sociedade". "A gente só luta porque ama, e esse movimento faz com que a gente se contagie com o espírito de liberdade no seu sentido integral", disse a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT).

 

"Vocês estão fazendo aquilo que meu pai sempre buscou e pelo qual doou 70 anos de sua vida. Ele sempre disse que o povo precisa se organizar. A história do século XIX é uma história de luta e repressão dos movimentos sociais. No século XX, foi a mesma coisa, apenas a Coluna Prestes não foi derrotada. O MST está seguindo esse exemplo, com muito estudo, para poder transformar o Brasil em um país socialista", ressaltou Anita Prestes, historiadora e filha dos lutadores comunistas Luiz Carlos Prestes e Olga Benário.

 

Apoio internacional

 

Aleida Guevara, médica cubana e filha de Che Guevara, também levou seu apoio a Sarandi. "Quando vou a alguma área do MST, seja um acampamento, assentamento ou escola, sempre sinto a força de vida que emana de vocês. Força que mostra que, quando um povo decide criar seu próprio destino, ele pode". Representando a Via Campesina Internacional, o dirigente turco Abdullah Aysu afirmou que o MST é símbolo de terra, dignidade e vida para os camponeses da Turquia. "Sempre que algum companheiro do MST cai na luta, nós nos entristecemos na Turquia", concluiu. Ao final do ato, as delegações dos 24 estados em que o MST atua e mais uma delegação de convidados internacionais plantaram 25 mudas de árvores – cada uma representando um ano de vida do movimento.

 

Prêmio Luta Pela Terra

 

O MST concedeu o Prêmio Luta Pela Terra, comemorativo dos 25 anos do movimento, na noite de 23 de janeiro. O prêmio, que existe desde o ano 2000, reconhece entidades, coletivos, personalidades, lutadores e lutadoras sociais com destaque na defesa da Reforma Agrária, do MST, dos movimentos sociais e dos interesses do povo brasileiro. A premiação procura valorizar as iniciativas e lutas de outros movimentos sociais, assim como homenagear aquelas pessoas que dedicaram sua vida em defesa dos interesses do povo brasileiro. Neste ano, foram concedidos 15 prêmios, em várias categorias. O advogado Jacques Alfonsin e o promotor Afonso Henrique Miranda foram homenageados na categoria Amigos da Reforma Agrária. A personalidade internacional homenageada como amigo do MST foi Fidel Castro. Foram premiados ainda a Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (Movimento sindical), Movimento dos Atingidos por Barragens (Movimento popular), Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara (Povos quilombolas) e Celso Furtado, como homenagem póstuma.

 

CARTA DO MST

 

13º Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

 

1. Nós, mais de 1.500 trabalhadores rurais sem terra, vindos de todas as regiões do Brasil, e delegações internacionais da América Latina, Europa e Ásia, nos reunimos de 20 a 24 de janeiro de 2009 em Sarandi, no Rio Grande do Sul, para comemorar os 25 anos de lutas do MST. Avaliamos, também, nossa história e reafirmamos o compromisso com a luta pela Reforma Agrária e pelas mudanças necessárias ao nosso país.

 

2. Festejamos as conquistas do nosso povo ao longo desses anos, quando milhares de famílias tiveram acesso à terra; milhões de hectares foram recuperados do latifúndio; centenas de escolas foram construídas e, acima de tudo, milhões de explorados do campo recuperaram a dignidade, construíram uma nova consciência e hoje caminham com altivez.

 

3. Reverenciamos nossos mártires que caíram nessa trajetória, abatidos pelo capital. E, lembramos dos líderes do povo brasileiro que já partiram, mas deixaram um legado de coerência e exemplo de luta.

 

4. Vimos como o capital, que hoje consolida num mesmo bloco as empresas industriais, comerciais e financeiras, pretende controlar nossa agricultura, nossas sementes, nossa água, a energia e a biodiversidade.

 

5. Nos comprometemos em garantir à terra sua verdadeira função social; cuidar das sementes e produzir alimentos sadios, de modo a proteger a saúde humana, integrando homens e mulheres a um meio ambiente saudável e adequado a uma qualidade de vida cada vez melhor.

 

6. Reafirmamos nossa disposição de continuar a luta, em aliança com todos os movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo, contra o latifúndio, o agronegócio, o capital, a dominação do Estado burguês e o imperialismo.

 

7. Defendemos a Reforma Agrária como uma necessidade popular, que valoriza o trabalho, a agroecologia, a cooperação agrícola, a agroindústria sob controle dos trabalhadores, a educação e a cultura, medidas imprescindíveis para a conquista da igualdade e da solidariedade entre os seres humanos.

 

8. Estamos convencidos de que somente a luta dos trabalhadores, e do povo organizado, pode nos levar às mudanças econômicas, sociais e políticas indispensáveis à efetiva emancipação dos explorados e oprimidos.

 

9. Reafirmamos a solidariedade internacional e o direito dos povos à soberania e à autodeterminação. Por isto, manifestamos nosso apoio a todos os que resistem e lutam contra as intervenções imperialistas, como hoje faz o povo afegão, cubano, haitiano, iraquiano e palestino.

 

10. Cientes de nossas tarefas e dos enormes desafios que se colocam, reafirmamos a necessidade de construir alianças com as organizações e os movimentos populares e políticos em torno de bandeiras comuns, para que, unidos e solidários, possamos construir um projeto popular, capaz de romper com a dependência e subordinação interna e externa ao capital, e de construir uma sociedade igualitária e livre – uma sociedade socialista.

 

Sarandi, 24 de janeiro de 2009

 

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST.

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