IstoÉ Daniel Dantas
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- Andrea
- 17/02/2009
Na semana passada, a revista IstoÉ parece ter dado mais uma prova de que atua como títere dos poderosos, ao passo em que se distancia do compromisso com a sociedade brasileira e com a ética jornalística.
A matéria intitulada "Stédile, o intocável", publicada na revista no dia 08 de fevereiro e assinada pelo jornalista Hugo Marques, traz um emaranhado de informações confusas e descontextualizadas sobre o integrante da direção nacional do MST, João Pedro Stedile, numa clara tentativa de criminalizar a luta social.
No que tange ao texto da matéria, não é verdade que os ativistas da reforma agrária sejam intocáveis do ponto de vista legal. É justamente o inverso, já que sobre estes recaem inúmeros processos criminais, decretos de prisão preventiva e outros instrumentos de coerção manejados por representantes dos poderes constituídos. Se isto é fato – e os números dos relatórios da CPT comprovam – duas alternativas se apresentam: ou os repórteres da revista IstoÉ estão mal informados ou são impulsionados por interesses não revelados de grandes corporações. Talvez sejam as duas.
Dias antes da publicação da estranha reportagem, uma comitiva formada por integrantes da Via Campesina, ativistas estrangeiros e jornalistas visitou a fazenda Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás (PA), ocupada há cerca de sete meses por 270 famílias Sem Terra. A área pertence ao Estado e, em 2005, foi comprada ilegalmente por uma empresa pertencente ao grupo Opportunity, controlado pelo banqueiro Daniel Dantas – preso em julho do ano passado durante operação da Polícia Federal por prática de crimes financeiros e desvio de verbas públicas.
Ali, numa área de cerca de três mil hectares de extensão onde antes se criava apenas gado para exportação, trabalhadores e trabalhadoras rurais agora criam seus filhos e produzem alimentos, como milho e feijão. Durante a visita da comitiva, os Sem Terra acampados na Santa Bárbara denunciaram a forma violenta com que têm sido tratados pelos capangas da fazenda. Até sementes de capim teriam sido despejadas sobre a produção dos acampados. Estima-se que, no total, o grupo de Dantas detenha cerca de 1 milhão de cabeças de gado no estado do Pará, espalhadas por 500 mil hectares em cerca de sete municípios.
Dantas é, ainda, o maior devastador da Floresta Amazônica do estado do Pará. Segundo dados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o controvertido banqueiro já acumula uma dívida superior a R$ 12 milhões, por crimes de desmatamento e quebra de embargo cometidos pela empresa Agropecuária Santa Bárbara.
Resta saber se o conteúdo da reportagem é fruto de um trabalho investigativo competente ou se deve ao curioso fato de que a IstoÉ é publicada pela editora Três, que por sua vez também é controlada pelo banqueiro Daniel Dantas. Desde 2007, ele possui 51% das ações da editora.
Fonte: MST.