Correio da Cidadania

Carajás: a luta pela terra, "otoridades" e a mídia

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Gilmar Mendes, fazendeiro no Mato Grosso e chefe maior do STF ao lado da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), baluarte da robusta bancada ruralista, foram a coqueluche - como se dizia antigamente - do noticiário local na semana que passou.

 

Ambos incitaram a repressão aos sem terra que ocupam, entre outras terras, fazendas da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, no sudeste do Pará. A Santa Bárbara integra o portfólio do banco Opportunity, do investigado banqueiro Daniel Dantas, que foi solto por Mendes.

 

Ambos, além da representação do setor agropecuário local, exigiram da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), o despejo imediato dos sem terra de mais de cem áreas ocupadas.

 

O coro contra os sem terra teve sonoro amparo na mídia local, caracterizada em sua maioria pela parcialidade quando a temática é o MST e seus apoiadores.

 

Nem mesmo o fato inédito da condenação pela Justiça Federal de Marabá, sudeste do estado (no dia 5 de março, quarta-feira), de 28 fazendeiros pelo uso de mão-de-obra escrava em fazendas que controlam fez arrefecer o ânimo dos meios de comunicação.

 

Aliás, o noticiário prima em não contextualizar a complexa situação que é a questão da terra na região que lidera o ranking nacional de trabalho escravo, desmatamento e assassinatos de camponeses(as) e dirigentes sociais que defendem a reforma agrária.

 

A parcialidade da cobertura tem a sua apoteose na capa do Liberal de domingo (08/03), com a manchete: ‘MST arrasa terra e economia’. Registre-se que o segundo diário do estado foi flagrado pelo Instituto de Verificação de Circulação (IVC) superdimensionando a tiragem.

 

Desde o ano passado o diário mobiliza oposição ao MST em sua agenda. Matérias, charges e editoriais primam no processo de satanização do movimento. ‘Pecadores e criminosos’, editorial de agosto do ano passado, foi o mais notório produto.

 

A inspiração do editorial foi uma reunião pública de setores populares organizados no coletivo Justiça nos Trilhos, que agrupa agentes sociais do Pará, Maranhão e Tocantins afetados pelos empreendimentos da Vale.

 

No mesmo período uma matéria com ares apocalípticos anunciou uma ocupação da ferrovia de Carajás em outubro do ano passado. Fato que nunca veio a ocorrer.

 

ficinas e seminários durante o Fórum Social Mundial, onde foram apresentados estudos produzidos por professores de universidades públicas.

 

A maior parte da mídia local omite ainda que parcela significativa de terras ocupadas é alvo de investigação pelo Estado por apropriação indevida.

 

Fazendas como a Maria Bonita, no município de Eldorado dos Carajás, e a fazenda Cedro, localizada no município de Marabá, propriedades hoje em nome da Santa Bárbara e ocupadas pelo MST, foram cedidas aos Mutran pelo estado em regime de aforamento para extrativismo da Castanha do Pará, quando em tempo distante a frondosa árvore lá predominava.

 

Rogério Almeida nasceu em São Luís (MA) e mora no Pará desde 1999. Em 2006 lançou o livro ‘Araguaia-Tocantins: fios de uma História camponesa’. É colaborador da rede Fórum Carajás, articulista do IBASE e Ecodebate. Blog: http://rogerioalmeidafuro.blogspot.com/

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