Correio da Cidadania

Vitória de Funes rompe com 20 anos de conservadorismo em El Salvador

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Com o tema "Nasce a Esperança!", Mauricio Funes, um antigo jornalista televisivo, tornou-se o presidente eleito da República de El Salvador, ao obter a vitória nas eleições presidenciais celebradas neste domingo (15), com mais de 51% dos votos registrados.

 

Funes, candidato pela Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), é considerado como uma opção da mudança para o povo salvadorenho. Depois de conhecer-se a vitória de Funes, o povo salvadorenho se reuniu nas ruas e avenidas das principais cidades e províncias de El Salvador, para mostrar sua alegria e satisfação pela eleição do novo presidente.

 

O presidente eleito celebrou com seus seguidores a vitória nas eleições com um discurso em que assegurou que o povo firmou com seu voto "um novo acordo de paz e reconciliação". Pouco depois que o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) deu o segundo informe que oficializava uma vantagem a favor do FMLN, Funes se dirigiu à nação felicitando a todos os cidadãos que participaram do pleito.

 

"Quero agradecer a todos os que votaram em mim, a todos os que venceram o medo e a todos que preferiram o caminho da esperança", disse o novo presidente salvadorenho.

 

Funes fez um chamado a seus opositores para felicitá-los por seu trabalho e recordou que "neste momento a ARENA (Aliança Republicana Nacionalista) passa à oposição e nesse caráter, deve ter a segurança de que será respeitada e escutada".

 

Funes também convidou os diferentes grupos sociais e políticos a construir um novo Estado de bem-estar para o povo.

 

"Quero chamar às demais forças políticas à unidade", disse Funes, ao mesmo tempo em que prometeu que realizará "ações preferenciais" pelos pobres, a fim de favorecê-los ao invés dos ricos, "para que se consolide uma economia eficiente e competitiva e uma ampla base empresarial".

 

O presidente eleito assegurou que a partir de seu juramento trabalhará para converter El Salvador "na economia mais dinâmica da América Central".

 

Com a vitória da esquerda salvadorenha rompe-se com 20 anos do poder do partido ARENA, que nestas eleições confiava em uma vitória de seu candidato Rodrigo Ávila.

 

O TSE e os observadores internacionais ressaltaram a normalidade da eleição no país, que segundo dados ainda não oficiais teve uma participação de 60% dos 4,3 milhões de eleitores registrados. O processo eleitoral, contudo, teve denúncias de irregularidades.

 

Observadores informaram que vários cidadãos estrangeiros tentaram votar com identificação falsa. Na semana que antecedeu o pleito, a FMLN alertou para o fato. A vitória do FMLN foi de 51,27% contra 48,73% do partido conservador ARENA.

 

O ex-candidato pela ARENA, Rodrigo Ávila, reconheceu a vitória de Funes. "Quero reconhecer a Mauricio Funes, do FMLN, que nesta luta encerrada na margem de diferença o deu vantagem e peço a Deus que assim como deu sabedoria ao povo salvadorenho também a dê a seu partido", disse Ávila depois de reconhecer que esta eleição foi a "mais dura" enfrentada pelo ARENA.

 

Entre os desafios que se colocam para o novo presidente estão violência, pobreza, crescimento e dependência dos EUA. El Salvador tem a taxa mais alta de mortes violentas da América Latina devido à ação dos maras ou pandillas (gangues juvenis armadas). Mas os números vêm baixando: em 2008 foram registrados 3.179 homicídios, menos do que em 2006, que teve 3.928 mortes.

 

Já a pobreza afeta 37% da população. Cerca de 10% se encontra abaixo da linha da pobreza. A taxa de analfabetismo em 2005 era de 18,9%. Já o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,2% em 2008, e a inflação 5,5%. As exportações se concentram nas manufaturas e no café e a balança comercial apresenta déficit de US$ 5,2 milhões.

 

Em relação à dependência, os Estados Unidos são o principal sócio comercial e receptor de mais de 2,5 milhões de imigrantes salvadorenhos. As remessas que estes enviam se converteram na segunda fonte de subsistência do país (17% do PIB) atrás dos serviços (60%).

 

Durante quarenta anos (1930-1970) o Partido Comunista de El Salvador (PCS) foi a única organização de esquerda que lutou pelos ideais da democracia, da justiça social e da autodeterminação nacional.

 

A luta por estes ideais ganhou um grande impulso nos anos setenta com o nascimento das Forças Populares de Libertação "Farabundo Martí" (FPL).

 

E em 10 de outubro de 1980 foi criado o FMLN, e assim começou o desdobramento da Guerra Popular Revolucionária. O aprofundamento da guerra, a intervenção crescente do governo dos Estados Unidos na mesma e a nova ascensão da luta social, foram fatores objetivos que pressionaram o avanço do processo unitário.

 

Desde então, a unidade foi cada vez mais aprofundada. Depois do longo processo de guerra revolucionária, a tarefa de forjar um novo partido não foi fácil, teve de superar o muro do terror levantado por mais de setenta anos de repressão, as atitudes habilidosas dos políticos de direita que queriam impedir a legalização do FMLN como partido político e as dificuldades da organização do partido em nível nacional.

 

O trabalho foi enorme, o processo orgânico multiplicou por várias vezes a quantidade de seus membros e em poucos meses o FMLN se converteu no segundo mais importante partido político do país.

 

Depois de superados os obstáculos políticos, em 1 de setembro de 1992 foi firmada a escritura pública de fundação legal do FMLN e foi no dia 14 de dezembro desse ano, um dia antes de finalizado formalmente o cessar do enfrentamento armado, que o Tribunal Supremo Eleitoral admitiu seu registro legal e outorgou ao FMLN como pessoa jurídica.

 

Assim ficavam para trás mais de setenta anos de luta clandestina dos revolucionários e começava uma nova etapa histórica de lutas dentro do marco da legalidade e nova institucionalidade gerada pelo Acordo de Chapultepec.

 

A partir de então, o FMLN começou uma intensa jornada de esforços organizativos e de institucionalização do partido, de realização de convenções municipais e departamentais até culminar na Primeira Convenção Ordinária, de 4 de setembro de 1993.

 

Apesar dos grandes esforços da direita para debilitar profunda e estrategicamente o FMLN, essa primeira Convenção foi uma demonstração da vitalidade política de que gozava o partido.

 

O FMLN fundou sua organização com base nos resultados de eleições internas, fato que lhe dá o caráter revolucionário na condução e luta política e social do partido, e que, além disso, conseguiu sustentar um processo de unificação e coesão em torno da estratégia de luta, que tem como objetivo fundamental começar um processo verdadeiramente revolucionário que garantisse um verdadeiro futuro para El Salvador.

 

Com a vitória de Mauricio Funes e do FMLN, como proclamou o próprio Funes, começa a mudança em El Salvador, mudança que graças à eleição que, sem medo, fez o povo salvadorenho, os direcionará a um novo país.

 

Publicado originalmente em Brasil de Fato (Com agências internacionais).

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