Camponeses comemoram suspensão de negociações entre UE e América Central
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- Andrea
- 08/04/2009
Os movimentos sociais celebraram a suspensão da VII Rodada de Negociações do Acordo de Associação União Europeia - América Central, no dia 1º de abril, provocada pela saída da Nicarágua da mesa de negociação. "Com essa saída, as políticas agressivas da UE, no momento, foram bloqueadas", comemorou a Coordenadora Europeia da Via Campesina ao felicitar, por meio de um comunicado, as organizações da Via Campesina da América Central e outras organizações dos setores sociais pela grande oposição a essas negociações.
Para a Via Campesina, o AdA não é mais que um Tratado de Livre Comércio que tem como objetivos a liberalização da economia, em favor das grandes empresas multinacionais, assim como a privatização dos recursos naturais e dos serviços públicos como saúde, moradia, educação, água, telefonia entre outros. "A UE, com o AdA, tenta continuar com sua agenda neoliberal, descrita na estratégia ‘Europa Global’, já fracassada e que não pôde ser realizada dentro da OMC", dispara.
Mesmo com algumas cláusulas de direitos humanos ou de meio ambiente, ressalta a Via Campesina, o acordo possibilitará que as empresas transnacionais se apoderem dos serviços públicos, dos recursos naturais, do sistema financeiro, da biodiversidade e dos recursos genéticos: "Respaldamos a decisão do governo nicaragüense de abandonar a mesa e chamamos os governos centro-americanos a levar em consideração as necessidades de seus povos e não a defender os interesses das multinacionais".
Em relação à agricultura, a Via Campesina acredita que o acordo vai impor um modelo depredador, agroexportador e altamente dependente da tecnologia e do capital financeiro europeu. A entidade denuncia que as patentes colocam em perigo as sementes crioulas cultivadas na região, o conhecimento ancestral, a soberania dos povos e a produção de alimentos saudáveis.
"Além disso, roubam das comunidades camponesas a possibilidade de exercer sua função principal de fornecimento de alimentos em âmbito local. Na realidade o que está em jogo nos TLCs com a Europa são modelos totalmente diferentes, isto é, a UE impulsiona o modelo agroindustrial e os camponeses e indígenas da América Central e a Europa optamos pelo modelo da Soberania Alimentar", afirmam.
A Coordenadora Europeia Via Campesina e a Via Campesina da América Central, junto a outros setores sociais, repudiam qualquer pretensão de reativar as negociações nas condições em que vinham negociando as delegações, por acreditarem que estava havendo absoluta desigualdade, atentando contra a soberania e a integração dos povos centro-americanos.
A União Europeia e os países da América Central iniciaram as negociações para o AdA em 2007. A expectativa é de que haja consenso para sua ratificação até o fim do primeiro semestre deste ano. A retirada da delegação nicaragüense foi provocada pelo rechaço europeu em aceitar a proposta de criar um fundo comum de crédito econômico financeiro para a América Central. O Fundo Comum de Financiamento Econômico superaria os 30 bilhões de euros e teria o objetivo de combater a pobreza na região. Por meio de um comunicado, as comissões participantes repudiaram a saída da Nicarágua e disseram acreditar que esta era "uma medida temporária" do presidente nicaragüense, Daniel Ortega.
Publicado originalmente em Adital.