Correio da Cidadania

Sem exceção, línguas indígenas estão ameaçadas de extinção no Brasil

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Todas as línguas indígenas do Brasil estão ameaçadas de extinção. Isso é o que revela um estudo da União das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) publicado em fevereiro passado, com base no Atlas das Línguas em Perigo no Mundo, de 2001, que situa as línguas indígenas entre outras 2.500 em perigo de extinção nos próximos anos.

 

Na década de 70, os ideólogos da política indigenista do então governo militar adiantavam que no ano 2000 todos os indígenas teriam desaparecido. Mas a resistência falou mais alto e hoje a população é superior a 700 mil indígenas de 231 povos em todo o país, falantes de 180 línguas, segundo dados do Conselho Indigenista Missionário – Cimi.

 

A resistência se deu em muitas frentes, entre elas, a luta por educação diferenciada. Na era da globalização, porém, o desaparecimento das línguas pode ocorrer não somente pela vontade dos inimigos dos índios, mas por um movimento que afeta todos os povos e culturas do planeta.

 

A resistência, no entanto, continua. Exemplo disso são as atividades realizadas pelos indígenas de Manaus para preservar as línguas faladas e recuperar aquelas que aos poucos estão se perdendo.

 

De segunda a sábado, o indígena apurinã Osmar Alípio Batista, 52 anos, percorre as ruas do bairro Mauazinho, na periferia de Manaus, vendendo "din-din" para garantir o sustento da esposa e quatro filhos. Nas tardes de domingo, sua casa é o ponto de encontro de outros apurinã vindos de várias partes da cidade. Ali, ele ensina a um grupo de doze "parentes" o que sabe da sua língua materna.

 

"Todo o meu povo pede reforço comigo. Eles querem que eu ensine também na língua para eles. Por isso eu estou resgatando na cidade a língua dos Apurinã", conta o professor. Na década de 70, ele teve as primeiras aulas no extinto Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) em Manaus e agora se esforça para passar em concurso público da Secretaria Municipal de Educação – Semed.

 

No início da década de 90, a Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus (Piama) iniciou levantamento sobre a realidade dos indígenas da cidade. Naquela ocasião, muitas famílias recusavam-se a assumir a identidade indígena. Aos poucos, essa realidade foi se transformando. Hoje, a maioria já se identifica. Eles são Tukano, Tariano, Baré, Baniwa, Arapaso (Rio Negro), Tikuna (Alto Solimões), Kokama, Kambeba (Médio Solimões), Apurinã (Purus), Deni (Juruá), Sateré Mawé (Baixo Amazonas), dentre outros.

 

Entre os dias 22 de abril e cinco de maio passado, a Piama e as organizações de indígenas residentes em Manaus realizaram a II Oficina de Formação Lingüística para Professores e Lideranças. Em vários pontos da cidade e em comunidades localizadas no rio Negro, cerca de cem participantes, de vários povos, discutiram os problemas por eles enfrentados no que diz respeito às práticas para recuperação e preservação de suas línguas maternas.

 

Para Clarice Gama da Silva Arbella, do povo Tukano, a oficina teve aplicação prática. "Com os alunos eu quero praticar cantando, dançando... A gente percebe que os alunos aprendem mais assim", explica Clarice. Ela também divide seu tempo entre trabalho, cuidar da família e ensinar outros indígenas nas folgas, aos domingos. Seus alunos são todos indígenas e não falam a língua materna. As aulas acontecem na sede da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – Amarn, na Zona Leste de Manaus.

 

Retirado de Brasil de Fato.

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