Da greve ao mundo: carta das vítimas da Vale no Canadá
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- Andrea
- 18/07/2009
"Nós trabalhadores da Vale-Inco fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para evitar a greve. Nós sabemos o quão difícil isso será para nossos membros e suas comunidades. Mas nós também sabemos o quão difícil seria se tivéssemos aceitado as propostas da companhia para uma reestruturação dramática a longo-termo, com cortes em nossos direitos.
Esta rodada de negociações tem sido como nenhuma outra se comparada às negociações anteriores com a Inco. Vale, a nova proprietária, que é atualmente uma multinacional brasileira altamente rentável, escolheu usar a crise econômica mundial como uma falsa desculpa para impor cortes profundos e a longo prazo que, se implantados, provocarão sérios abalos no orçamento das famílias que compõem as nossas comunidades.
O fato é que, nos últimos dois anos, as operações na Província de Ontario têm rendido à Vale o dobro de lucro que a Inco tinha extraído de lá nos 10 anos anteriores.
Nós compreendemos que estes são tempos difíceis, e nós levamos isso em conta durante todo o processo de negociação. Contudo, o foco da Vale não tem sido buscar maneiras de superar esses tempos difíceis (considerando que eles têm em caixa 22 bilhões de dólares americanos em ativos, pode-se ver porque eles não estão tão preocupados assim com essa questão tal como nós pensávamos que eles estariam).
Ao contrário, o maior enfoque deles tem sido na redução dramática de um benefício cujo pagamento não se daria nestes tempos difíceis atuais (ou em nenhum outro período de dificuldades financeiras).
O "nickel bonus" se trata de um mecanismo inovador desenvolvido por Inco e USW para permitir aos trabalhadores compartir os benefícios em tempos de prosperidade e para ajudar a proteger a companhia em períodos difíceis. O fato de a Vale estar atacando esse mecanismo (que atualmente não lhe custa absolutamente nada) mostra que eles não estão baseando suas ações na crise econômica atual.
A Vale está se aproveitando deste momento para atacar e tentar acabar com um mecanismo justo, sabendo que os bons tempos voltarão.
Ao mesmo tempo, parece que Vale tem como política dar a seus mais altos diretores parte de seus lucros agora mesmo. O pagamento dado a seus seis maiores executivos aumentou em 120% nos últimos dois anos (de 2006 a 2008).
A Vale ainda insiste que necessita impor essas restrições radicais a seus trabalhadores canadenses.
Nós acreditamos que toda pessoa que vive ou trabalha nas comunidades de Sudbury, Port Colborne e Voisey’s Bay tende a compreender que a saúde e a viabilidade de sua comunidade está sendo colocada sob ameaça.
A Vale Inco está apta para sobreviver a esse período de recessão. Seus lucros respondem facilmente a essa questão. A verdadeira questão é se nossas famílias seguirão mantendo seus padrões de vida atuais de "classe-média", quando nós sairmos dessa recessão.
Para o Canadá, a questão que se coloca é se nossos recursos naturais, e as difíceis e perigosas tarefas envolvidas na sua extração, podem prover a famílias confiáveis e trabalhadeiras uma "compensação de classe-média".
Não está correto que companhias estrangeiras, que extraem recursos naturais canadenses e através disso obtêm lucros tão exorbitantes, não proporcionem às nossas famílias e comunidades uma renda segura e justa.
Nós pedimos e agradecemos o seu apoio.
Respeitosamente,
USW locals 6500, 6200 and 6480.
Tradução livre de Relicário Minado.