Fazendeiros assassinam dois professores indígenas
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- Andrea
- 05/11/2009
"A gente não tem mais o que esperar. Depois de cinco dias e cinco noites a gente mesmo vai ao local tentar encontrar nossos professores. Não são só os parentes que estão muito preocupados. Toda a comunidade de Pirajuí (quase três mil indígenas) estamos preocupados e vamos tomar providências. Estamos reunidos dia e noite. Que as autoridades acompanhem. Tem que morrer mais dois ou três pra termos um pedacinho de terra?", pergunta uma das lideranças do grupo.
Visivelmente revoltados e preocupados com o silêncio e nenhuma informação a respeito dos professores Guarani Rolindo Véra – 23 anos, filho de Catalino e Cilda Gimenes Vera - e Genivaldo Véra - filho de Bernando e Francisca Véra, 22 anos -, os indígenas, em meio à angustiante situação, buscam organizar ações na perspectiva de localizar os professores. A cada hora que passa mais cresce o temor de que tenham sido assassinados. Bernando, pai de um dos professores, que mal consegue falar algo em português, disse que não conseguiria falar a respeito, pediu que outra liderança contasse o que estão sentindo neste momento.
A polícia federal já está há três dias na região, buscando informações sobre os professores desaparecidos e autores das violências contra os índios.
Fazendeiro foragido
Conforme informações da região, o fazendeiro da fazenda São Luiz, Firmino Escobar, onde se localiza o tekoha Ypo’i, evadiu-se. Como cresce a hipótese de assassinato dos dois professores, certamente a consciência dos responsáveis deve ter pesado, dando lugar à fuga. Conforme os indígenas, ele já teria retirado todas as suas coisas da fazenda.
Indígenas das aldeias de Jaguapiré e Sassoró, município de Tacuru, estão a caminho da aldeia Pirajuí para ajudar na busca dos professores desaparecidos. Igualmente os da aldeia de Amambaí. Juntos procuram notícias sobre os desaparecidos.
Notícias sobre os corpos encontrados
A partir do início da tarde começaram a chegar as informações de que os corpos dos dois professores indígenas foram encontrados. Apesar de não se dispor de informações mais detalhadas é essa a lamentável informação. O pior. Não queríamos até há pouco acreditar nesta hipótese.
Esta confirmação demonstra a continuidade dessa guerra declarada contra os Guarani e Kaiowá no reconhecimento de suas terras. Não restam dúvidas quanto ao processo genocida em curso. Chama a atenção o fato de jovens professores indígenas estarem sendo assassinados por lutarem pelo sagrado direito de seu povo à terra. Escrevem com letras de sangue seu compromisso com a vida e futuro de seu povo. Talvez o gesto heróico de Rolindo e Genivaldo seja o início de um processo de reconhecimento das terras Kaiowá Guarani. Que os responsáveis pela perpetuação desse conflito, pela não demarcação das terras, exigidas há 30 anos pelo Estatuto do Índio e há 16 anos pela Constituição, sejam responsabilizados pelas centenas de vidas sacrificadas ao altar de um chamado "progresso", que na verdade tem significado de decreto de morte de povos, comunidades e lideranças indígenas.
Egon Heck, Cimi MS.