Golpistas celebram eleição manipulada
- Detalhes
- Andrea
- 01/12/2009
O candidato do Partido Nacional, Porfirio Lobo, foi o vencedor das eleições presidenciais deste domingo (29), em Honduras. Com 100% de apuração das urnas, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) ratificou a vitória do conservador, que conquistou 57,16% dos votos, contra 33,42% de seu opositor, Elvin Santos, do Partido Liberal.
Com a confirmação da vitória, Lobo apresentou-se como a "mudança" que colocará fim à crise política no país, desencadeada com o golpe de Estado que, em 28 de junho, depôs o presidente constitucional, Manuel Zelaya. Em seu discurso de agradecimento, o novo mandatário afirmou que "não há vencedores ou vencidos, ganhou o povo hondurenho".
Lobo deve assumir a presidência em 27 de janeiro, em um cenário pouco alentador, já que sua eleição é encarada como a legitimação do golpe. O pleito foi rechaçado pela comunidade internacional (com exceção dos Estados Unidos, Colômbia, Israel, Panamá e Peru), que apóia a restituição de Manuel Zelaya ao poder.
Apenas algumas dezenas de observadores independentes atuaram como observadores do processo. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA), porém, negaram-se a fazê-lo.
Denúncias de manipulação
De acordo com o TSE, o índice de participação alcançou 61,3%. O número, porém, foi contestado por Zelaya que, em entrevista à Rádio Globo, afirmou que houve manipulação dos resultados.
"Estamos sumamente surpreendidos com o inflacionamento dessa eleição, que se mostrou uma mentira para todo o povo hondurenho", disse o presidente legítimo, da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado desde 21 de setembro.
A Frente de Resistência também rebateu os dados e, ao contrário do TSE, divulgou que a participação nas eleições foi de apenas 21,5% da população.
As dúvidas em relação às informações do TSE surgiram, primeiramente, com a demora na contagem dos votos. Foram quase cinco horas de apuração, quando o processo deveria ter sido finalizado em três. Segundo o órgão eleitoral, houve "problemas técnicos".
Depois disso, houve divergências quando os resultados se tornaram públicos: enquanto o TSE falava de "grande êxito da democracia", a ONG Organização Façamos Democracia registrava somente 47% de participação.
Nas eleições de 2005, a participação foi de 55% do eleitorado, quando a maioria dos analistas prognosticava números mais baixos. Zelaya garantiu à época que, segundo pesquisas encomendadas por ele, somente 35% da população havia participado e alertava para possíveis fraudes.
Fidelidade
As eleições mostraram também a profunda crise que vive o Partido Liberal, dividido entre partidários e inimigos do golpe. Aqueles fiéis a Zelaya não compareceram às urnas como forma de condenar o regime. A Frente também não participou das eleições, por considerá-las uma "farsa que só serve para legitimar os golpistas".
Ainda no domingo Lobo estendeu uma mão a Zelaya ao mostrar-se disposto a "iniciar um diálogo aberto, amplo, que não exclua ninguém, porque somos todos hondurenhos".
O mandatário legítimo, porém, afirmou que seguirá lutando "até a derrota desta ditadura e a instauração da democracia da qual precisa o povo hondurenho".
Zelaya declarou ainda que se Lobo obteve um triunfo é porque o regime golpista, encabeçado por Roberto Micheletti, lhe deu esta possibilidade.
"Quando eu estava na direção do país, na presidência da República, Elvin Santos tinha 47% de popularidade e o senhor Porfírio Lobo andava entre 26 e 28% (...) O Favorito Era Elvin Santos. Então veio Micheletti com o golpe e os militares. E agora sucedeu o contrário", enfatizou.
Violência
O pleito também foi marcado por violência no país centroamericano. A Frente de Resistência contra o Golpe de Estado e o Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos em Honduras (COFADEH) denunciaram no domingo que uma pessoa foi morta pela polícia e 30 foram detidas nas últimas 24 horas, dando por fracassadas as eleições gerais.
"Estamos falando de aproximadamente 30 pessoas detidas", disse a coordenadora do COFADEH, Bertha Oliva, em entrevista coletiva, embora tenha afirmado que não se atrevia a dar um "número exato" porque não queria "deixar ninguém de fora".
Oliva contou que um jovem de 18 anos, José Mauricio Contrabando, morreu no sábado (28) por causa de disparos feitos por um policial em Juticalpa, no departamento de Olancho, em um incidente ainda não esclarecido.
Na cidade de San Pedro Sula, no norte do país, simpatizantes de Zelaya entraram em confronto com forças de segurança enquanto protestavam contra as eleições. Segundo testemunhas, manifestantes lançaram pedra, quebraram vidros durante o ato e foram dispersados com um canhão de água, gás lacrimogêneo, além de tiros de arma de fogo. Pelo menos três pessoas teriam ficado feridas na ação, entre elas um jornalista espanhol.
Fonte: Brasil de Fato.
(Com informações de agências)