Correio da Cidadania

Indígenas de Altamira se revoltam com extinção de sede da FUNAI na cidade

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No dia 28/12/10 fomos surpreendidos pelo decreto 7.056 assinado pelo presidente Lula com o intuito de promover uma reestruturação na FUNAI. O referido decreto, entre várias outras medidas, extingue a Administração Executiva Regional de Altamira, à qual estão vinculadas 09 etnias (Arara, Xikrin do Bacajá, Kayapó Kararaô, Asurini do Xingu, Arawete, Parakanan, Xipaia, Curuaia e Juruna) de três troncos lingüísticos e com 18 aldeias, 11 terra indígenas e mais de 6.000.000 de hectares de terras indígenas.

 

Tal medida provocou o descontentamento de todos nós indígenas aqui da região de Altamira, que para resolver nossos problemas junto à FUNAI, com o decreto, teremos de viajar até Santarém. Nos sentimos traídos pelo governo federal que nos estudos para a construção do AHE de Belo Monte havia prometido fortalecer a FUNAI em Altamira e agora, ao contrário, a extingue. O presidente da FUNAI nunca nos consultou se nós queríamos essa mudança para Santarém, que além de ficar muito longe de nós não tem nada a ver com nossa realidade. Ele nunca quis saber a nossa opinião e nem a dos seus próprios funcionários sobre o que nós achamos de ele acabar com nossos postos indígenas e com nossa administração.

 

Ao extinguir nossa administração e nossos postos indígenas, a administração central da FUNAI em Brasília está rifando nossas vidas para os madeireiros ilegais, grileiros de terras, garimpeiros e toda sorte de bandidos que nos cercam nessa região e que se sentem agora, sem a Administração da FUNAI aqui e sem os postos indígenas, com mais liberdade para acabar de nos matar.

 

Por causa dessa absurda extinção da FUNAI aqui em Altamira, que coloca nossa vida em risco, nós os Arara, os Xikrin do Bacajá, os Kayapó Kararaô, os Asurini do Xingu, os Arawete, os Parakanan, os Xipaia, os Curuaia e os Juruna saímos de nossas aldeias para a cidade e ocupamos a sede da Administração da FUNAI E sede da UFPA, onde estamos desde o dia 04/02/10, porque não aceitamos em hipótese nenhuma o fim de nossa Administração Regional. Não sairemos daqui até que o governo volte atrás e revogue a extinção de nossa administração e nos garanta que continuaremos com nossa administração regional aqui em Altamira e que ela será fortalecida, sendo salvaguardada a participação indígena na gestão, para dar conta de resolver as nossas demandas atuais e as que poderão vir a surgir com a possível construção da Usina de Belo Monte em Altamira.

 

Se é para perdermos nossas vidas à prestação nas mãos de pescadores clandestinos, grileiros de terras, madeireiros e garimpeiros ilegais ou embaixo de milhões de metros cúbicos de água, preferimos perdê-las todas de uma vez lutando para sermos respeitados e para podermos continuar vivendo em paz em nossas terras que até hoje a FUNAI não terminou de demarcar, mas que são nossas, como também é nossa essa Administração.

 

A falta de diálogo do presidente da FUNAI conosco e mesmo com os funcionários da FUNAI e a CNPI que ele mesmo criou-nos deixa uma série de perguntas sem respostas: Será que o presidente da FUNAI conhece Altamira e sabe as distâncias de nossas aldeias até a cidade e da cidade de Altamira até Santarém? Se com a administração aqui perto de nós ainda temos tantos problemas como ficaremos com ela a centenas de quilômetros daqui? Será que o fim da Administração Executiva de Altamira tem alguma ligação com o ato sumário da construção de Belo Monte? Ou será que o presidente da FUNAI pensa em nos jogar nos braços da ELETRONORTE como a FUNAI já fez no passado com os Waimiri-Atroari e Parakanan de Tucuruí?

 

Com tantas perguntas na cabeça e nenhuma resposta de Brasília ficamos pensando que para nós, índios do Brasil, a ditadura nunca acabou, os generais apenas mudaram de farda e de discurso, mas sua prática continua a mesma.

 

POVOS INDÍGENAS
XIPAIA, CURUAIA, XIKRIN DO BACAJÁ, PARAKANÃ, ARARA, ARAWETE, ASURINI DO XINGU, JURUNA e KAYAPÓ KARARAÔ.

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