Correio da Cidadania

Pela regulação urgente da mídia

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Estamos todos, pessoas físicas e jurídicas, sob algum tipo de controle, exceto a mídia. Rádio, jornal e televisão estão sem controle algum, ou melhor, se auto-regulamentam. É amarrar o cachorro com lingüiça, e eles acham que isso é suficiente.

 

Isso é um privilégio total, impensável numa democracia, e quem tentar ameaçar essa situação é atacado violentamente, como foi a resolução da Conferência Nacional de Comunicação que propôs controle público e social para mídia.

 

O poder da mídia é tão grande que é apontada como o quarto poder ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário. Há quem diga que seja o primeiro entre os poderes. O grave é que os três poderes se equivalem e estão sob controle, mas a mídia não.

 

Grande parte da mídia se aliou à ditadura militar que derrubou  o presidente João Goulart, democraticamente eleito e dentro dos preceitos constitucionais. A mídia escondeu o movimento popular das Diretas Já. A mídia, em 1989, fabricou Fernando Collor de Mello, candidato à presidência, para se contrapor a um franco favorito, candidato dos trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva. Depois, por interesses contrariados, Collor decidiu entrar pesado no ramo das comunicações. Então, à mídia, sem nenhuma autocrítica, apoiou o impeachment de Collor.

 

Quanta coisa poderia ser evitada se a mídia tivesse algum controle! Os fatos acima apontam os atos imorais na disputa de poder praticado pela mídia. No dia a dia temos grave desrespeito, por parte da mídia, aos nossos direitos previstos na Constituição. É a mídia que mais incentiva a criminalização dos movimentos sociais, pois através dos meios de comunicação os pobres favelados mortos por balas perdidas são apontados como traficantes; os movimentos sociais, na luta por uma sociedade mais justa, são apontados como baderneiros, como têm sido rotulados aqueles que lutam contra a precariedade dos transportes no Rio de Janeiro; os integrantes do MST, na luta pela reforma agrária, direito previsto na Constituição federal, são julgados e condenados sem direito à defesa.

 

Tudo isso nas rádios, nos jornais e na telinha da TV, diariamente. Acontece o mesmo também nas reivindicações salariais e greves, pois enquanto os  patrões decidem se atendem ou não às categorias, na mídia há uma propaganda tendenciosa contra os trabalhadores; na religião, parece que quem tem mais poder na mídia está mais perto de Deus.

 

Diferente de nós, pobres mortais, que somos totalmente controlados, inclusive pelos circuitos internos de TV, em quase todos os ambientes. E também, de forma absurda, querem cobrar responsabilidade criminal do jovem de 16 anos. Enquanto a comunicação...

 

Até quando a sociedade vai permitir que uma única concessão pública, como a mídia, não tenha nenhum tipo de controle?

 

Também não é verdade que não exista órgão de comunicação sério neste país, mas a resistência a esse privilégio depõe contra todo o setor.

 

Além de sem controle, a mídia milionária paga muito pouco pelo direito à concessão, o que é grave num país emergente e de graves problemas sociais. Recentemente, grande parte dessas concessões foi renovada, e nem uma nota na grande imprensa saiu, assim como os valores e o conteúdo desses contratos foram escondidos da sociedade como se fossem um negócio particular.

 

Lembrem-se disto quando ouvirem de sua poltrona um comentário no jornal da TV à noite, quando lerem um editorial no jornal pela manhã ou quando ouvirem um
comentário bombástico no rádio.

 

Vamos travar essa luta como foi a luta contra a ditadura, pelas Diretas Já; para nossa vitória só precisamos de uma coisa, de sua participação.

 

Divulgue, denuncie isso a nossos companheiros, camaradas, irmãos, filhos,
netos e amigos. O Brasil merece!

 

EMANUEL CANCELLA, DIRETOR DO SINDIPETRO-RJ.

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