Correio da Cidadania

CPT leva ao ministro da Justiça dados sobre Conflitos e Violência no Campo

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A CPT está entregou na tarde desta quinta-feira, 29, ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, os dados dos Conflitos e da Violência no Campo, compilados nos relatórios anuais divulgados pela pastoral desde 1985. 

 

Além dos relatórios, a CPT entrega ao ministro a lista completa com os nomes dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e seus apoiadores, assassinados entre os anos de 1985 e 2009. Nesses 25 anos, foram 1.163 ocorrências de assassinato, com 1.546 trabalhadores assassinados. Dessas ocorrências, somente 85 foram a julgamento, com a condenação de 20 mandantes e 71 executores. Desses mandantes, apenas Vitalmiro Bastos de Moura, acusado do caso Dorothy Stang, está preso.

 

Entregou também documento com a relação de agentes da CPT que estão sofrendo ameaças de morte ou perseguição nos primeiros meses deste ano por sua atuação junto ao povo do campo.

 

Outra questão discutida na audiência foi a participação da Polícia Federal nas ações de Combate ao Trabalho Escravo. Algumas fiscalizações não têm acontecido porque, segundo a Polícia Federal, falta efetivo.

 

Números dramáticos

 

Os 25 anos de registros efetuados pela CPT revelam números dramáticos do caráter extremamente conflituoso e violento do modelo agrário-agrícola em desenvolvimento no Brasil (1985-2009) e expõem a face oculta do tão decantado agronegócio:

 

2.709 famílias, em média, anualmente expulsas de suas terras

63 pessoas, em média, anualmente assassinadas no campo brasileiro na luta por um pedaço de terra

13.815 famílias, em média, anualmente despejadas pelo Poder Judiciário e cumpridas pelo poder Executivo por meio de suas polícias!

422 pessoas, em média, anualmente presas por lutar pela terra

765 conflitos, em média, anualmente diretamente relacionados à luta pela terra

92.290 famílias, em média, anualmente envolvidas em conflitos por terra

97 ocorrências, em média, anualmente de trabalho escravo

6.520 trabalhadores, em média, anualmente, submetidos a condições análogas às de trabalho escravo

 

Latifúndio e Agronegócio não combinam com democracia

 

A análise dos dados de Conflitos no Campo e da Violência contra os trabalhadores e trabalhadoras da terra no decorrer dos últimos 25 anos – 1985-2009 –, além de mostrar a histórica criminalização dos movimentos do campo, deixa claro que Latifúndio e Agronegócio não combinam com democracia.

 

Os períodos em que os conflitos no campo foram mais acirrados e a violência mais intensa coincidiu com os períodos de maiores avanços democráticos. O período 1985–1990 se caracterizou, sobretudo, pelo elevado número de assassinatos – média anual de 129,8 -, e coincide com o período da abertura democrática e com a Assembléia Constituinte.

 

Há uma correlação direta entre o avanço da mobilização democrática e o avanço da violência do poder privado. O segundo período com maiores índices de conflitos e violência é o de 2003 a 2009, que corresponde ao período do governo Lula.

 

Lula representava a ascensão ao poder da classe popular com a defesa de propostas de realizar a Reforma Agrária e de garantir os direitos do povo do campo. Isto provocou uma pressão maior dos movimentos exigindo a Reforma Agrária e, como contraponto, um aumento considerável nos números da violência. No primeiro ano do governo Lula, o número de assassinatos pelo poder privado saltou para 73, numa clara demonstração de que os "donos" da terra não aceitariam que se tocasse em "seus direitos", considerados absolutos.

 

Junto ao salto dos assassinatos, nesse período houve a maior média anual de famílias expulsas da terra. O poder privado foi para cima dos trabalhadores sem terra, expulsando centenas de famílias, destruindo suas roças e pertences. Neste período, também, entra em ação o poder público através do judiciário que se encarregou de promover a maior onda de despejos de trabalhadores destes 25 anos. Média anual de 22.000 famílias despejadas.

 

A CNA e a Bancada Ruralista querem se fazer passar de vítimas pelas ações de ocupação de áreas pelos sem terra, uma forma extrema, mas legítima de mostrar a absurda, ilegítima e criminosa concentração da propriedade da terra no Brasil e a violência sobre a qual se estruturou a realidade agrária brasileira. Esta concentração foi e está sendo construída sobre a espoliação dos povos indígenas e de outras comunidades camponesas pobres, pela grilagem de terras públicas e pelo recurso à exploração dos trabalhadores submetidos a situações degradantes análogas ao trabalho escravo.

 

 

Mais informações:

Cristiane Passos (Assessoria de Comunicação da CPT) – (62) 9268-6837 / 8111-2890
(62) 4008-6406/6412/6400
www.cptnacional.org.br

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