Correio da Cidadania

Cartel da citricultura é acusado pelos próprios sócios de desmantelar produtores paulistas

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Que o Brasil é o maior produtor e exportador de suco de laranja concentrado não é novidade. Só no ano passado foram embarcadas quase 600 mil toneladas do produto, para mercados como o dos Estados Unidos, da Europa e Ásia, o que renderam cerca de US$ 1,619 bilhão.
 
Apesar de estar na liderança do comércio da commodity, o país se vê às voltas com as novas denúncias sobre o suposto cartel da laranja, formado pela Cutrale, Louis Dreyfus, Citrosuco e Citrovita e que é alvo de investigações do Ministério Público e Política Federal desde 2006, originando a Operação Fanta. No dia 15 de março, o ex-empresário Dino Tofini botou a boca no mundo ao revelar novos detalhes sobre o cartel do qual ele fez parte quando era dono da CTM Citrus. "A idéia foi de José Luís Cutrale (sócio-proprietário da Cutrale e filho do fundados, José Cutrale Júnior, falecido em 2004), no início da década de 90", contou ele. Na mesma semana, foram abertos os documentos do último lote apreendido durante a operação de 2006 que pertenciam à Citrovita.

 

Procurado pela reportagem de DINHEIRO RURAL, Dino Tofini não quis dar mais detalhes sobre o assunto. O advogado Bruno Vasconcelos e Souza, um dos responsáveis pela defesa do empresário, que é réu no processo, explicou que, por medida de segurança, ele só voltará a falar com a imprensa depois de ser ouvido pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) e Ministério Público de São Paulo.
 
"Após esse período, o sr. Tofini estará à disposição para falar a respeito". Entre as denúncias estão as confirmações de que o cartel funcionava no mercado interno e externo e que o negócio tinha como objetivo jogar o ônus sobre o produtor e permitir às empresas a compra de laranja pelo preço que o cartel determinasse. "O problema foi tão sério que matou a citricultura paulista", disse em sua declaração.

 

Não é de hoje que as empresas do setor estão envolvidas em polêmicas. Há anos os produtores de laranja do interior de São Paulo reclamam dos valores pagos pela produção. "Ou você vende para eles ou perde o que produziu", conta um produtor de Itápolis, que não quis se identificar. Segundo ele, o preço praticado pela Cutrale chega a ser 40% abaixo do valor de mercado, o que torna a atividade inviável.
 
Por trás dessa prática se esconde um plano perverso: as empresas se reuniam para combinar preços e dividir os produtores de quem comprariam. Paulo Ricardo Machado, ex-diretor comercial citrícola da Lous Dreyfus, foi um dos responsáveis pelas denúncias que originaram a Operação Fanta. Ele conta que participou de algumas reuniões nas quais detalhes do cartel eram acertados e que alguns desses encontros foram liderados por José Luís Cutrale. "Ele era um magnata duro na queda", relembra. Procurada pela reportagem, a empresa não autorizou entrevista.

 

Esse tipo de atuação tem sérias conseqüências para o agronegócio. Desde 1994, ano das primeiras denúncias, cerca de 20 mil produtores já abandonaram as lavouras. "Também perdemos 80 milhões de pés de laranja", explica Flávio Viegas, presidente de Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus).
 
Muitos venderam suas terras, que foram adquiridas pelas indústrias. Só a Cutrale tem 30 fazendas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Em 2005, o Incra notificou a empresa sobre uma de suas fazendas, em Borebi (SP), que está na área pertencente à União. "Eles alegam que possuem a documentação", conta Raimundo Pires Silva, superintendente regional do Incra/SP. Machado protesta: "Eles (Cutrale) e as demais empresas estão desestruturando a citricultura e ninguém faz nada".

 

O que está na mira

 

Desde 2006 o Ministério Público investiga a suposta formação de cartel por parte das quatro maiores empresas citricultoras do País.

 

Empresas envolvidas: Cutrale, Louis Dreyfus, Citrosuco e Citrovita.

Principais denúncias: formação de cartel, determinação de preços e Combinação da área de compra de cada empresa.

Punições previstas em lei: multa ou reclusão de dois a cinco anos.

 

Fonte: Dinheiro Rural – abril 2010 - Página 87

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