‘Sojização’ acentua pobreza e migrações, afirmam camponeses paraguaios
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- 27/10/2010
Enquanto a soja cresce vertiginosamente no país, camponeses e indígenas paraguaios experimentam o outro lado da moeda. Cerca de 43% da população ainda vivem no meio rural. São, em sua maioria, famílias pobres que se desdobram para sobreviver, seja resistindo no campo ou seguindo o fluxo para as cidades.
"Os camponeses estão sendo desterrados. Não há políticas especiais para o campo", denuncia Magui Balbunea, da Coordenação Nacional das Mulheres Rurais e Indígenas (Conamuri). De acordo com ela, as conseqüências do atual modelo de expansão da sojicultura são cada vez mais graves. Com o avanço do grão, vem aumentando o número de sem-terras nos acampamentos e as terras agricultáveis disponíveis para a produção familiar são cada vez menores. "Há um empobrecimento terrível no campo, e migração para as maiores cidades", acrescenta a liderança camponesa.
Estimativas da Mesa Coordenadora Nacional das Organizações Campesinas (MCNOC) apontam que cerca de 100 mil pessoas estão deixando suas terras a cada ano para se concentrar na área urbana.
Entidade que reúne 27 mil famílias do campo, a MCNOC estima que, paralelamente, a concentração de terras em latifúndios cresceu cerca de 34 vezes nos últimos 20 anos, sobretudo sobre as comunidades rurais e sobre as terras indígenas. "Há fome, muita fome, por causa desse modelo", afirma Luis Aguayo, secretário-geral da MCNOC. Nas contas da entidade, cerca de 2,4 milhões de paraguaios são pobres, e 1 milhão vivem em extrema pobreza.
Neste cenário de alta pressão, os movimentos sociais do campo defendem a construção de um projeto nacional que garanta a soberania do país frente ao avanço dos grupos do agronegócio, e que tenha na realização da reforma agrária uma de suas bandeiras centrais.
A "sojização" do Paraguai - conforme os movimentos definem o processo atual de avanço da monocultura da soja - leva ao aprofundamento da dependência do país perante empresas e outras nações. "Ela impossibilita o desenvolvimento industrial. E os problemas sociais e econômicos são acentuados", explica Odilon Espínola, secretário-geral da Federação Nacional Campesina (FNC). Odilon acrescenta que a especulação imobiliária em torno da terra é outro reflexo do atual modelo: os camponeses, que "não podem mais pagar o preço pela terra", são pressionados a vender suas propriedades.
Mulheres em risco
Se a situação é preocupante para os camponeses como um todo, há grupos ainda mais vulneráveis e que "pagam" mais caro que outros. De acordo com Magui, da Conamuri, "os problemas atingem sobretudo as mulheres, que absorvem essa situação de abandono no campo, não possuem preparo profissional, não compreendem a língua espanhola e enfrentam graves conseqüências ao migrarem para as cidades".
Por Antonio Biondi e Marcel Gomes, do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis.
Fonte: Repórter Brasil.