Greve geral repudia privatização do cobre e convoca plebiscito sobre o assunto
- Detalhes
- 12/07/2011
Com greve geral de 24 horas, realizada ontem (11), no Chile, 17 mil trabalhadores do cobre e outras categorias repudiaram a omissão do governo frente à crescente privatização da Corporação do Cobre (Codelco, na sigla em espanhol). A empresa foi criada em 11 de julho de 1971, pelo então presidente Salvador Allende, para firmar a nacionalização do cobre, antes nas mãos de transnacionais.
Durante a mobilização, a Codelco foi totalmente paralisada, segundo a Confederação dos Trabalhadores do Cobre. De acordo com informações da Rádio Mundial, este foi o maior protesto no setor, desde o fim da ditadura militar chilena. Os estudantes chilenos, em forte mobilização contra a privatização da Educação desde abril deste ano, somaram-se à greve geral em defesa da Codelco, pois consideram que o controle sobre o Cobre nacional seria uma maneira de financiar a educação.
Os manifestantes deram início ainda à Campanha Nacional, que deverá coletar dois milhões de assinaturas, até outubro deste ano, para realizar um Plebiscito Nacional com o objetivo de recuperar a gerência chilena sobre o Cobre.
Em comunicado, a Confederação dos Trabalhadores do Cobre explica que a nacionalização do recurso desencadeou o golpe militar que tirou Salvador Allende do poder em 1973. A partir disso, o cobre foi retornando ao controle das multinacionais, o que descaracterizou a empresa estatal em seu objetivo inicial, que era prover educação, saúde e desenvolvimento industrial ao Chile por meio dos recursos da exploração do cobre.
“O resultado é que hoje Codelco controla apenas 30% do cobre que se explora e sai do país, enquanto que os 70% restantes ficaram em poder de empresas como Phelps Dodge, Anglo American, BHP Billiton e outras grandes transnacionais”, denuncia a Confederação.
De acordo com o Comando pelos Direitos Sociais e Populares, em nota, entre 1974 e 2005, os investimentos estrangeiros na mineração chilena somaram US$ 19 bilhões e, a partir de 2006, houve um salto, ultrapassando os investimentos feitos em 31 anos: foram US$ 25,4 bilhões investidos, apenas em 2006. "41% dos investimentos vêm de capital canadense, país cujo Estado oferece educação pública, saúde pública e mantém o sistema previdenciário”, destacam.
Somente em 2011, já somam US$ 34.6 bilhões, que segundo o Comando é o equivalente a 3,3 vezes todo o orçamento destinado à Educação e 7,3 vezes o destino à Saúde.
No mesmo sentido, a Confederação dos Trabalhadores do Cobre afirma que nutre "esperança” de que o cobre volte às mãos dos chilenos, para que se converta em "Saúde e Educação gratuita e de boa qualidade para todas as crianças e jovens do Chile, em uma previdência solidária e justa, em moradias dignas, em trabalho estável e seguro, em remunerações decentes, em justiça social e bem-estar para o povo e os trabalhadores”, ressaltam.
Atuação das transnacionais
Em janeiro deste ano, o Periódico Estratégia publicou texto no Observatório das Multinacionais na América Latina em que revela os grupos internacionais com maior peso na mineração chilena. São a anglo-australiana BHP Billiton (16,7% de participação), a anglo-sul-africana Anglo American (11,7%), a anglo-australiana Rio Tinto (6,1%) e a suíça Xstrata (5,6%). Atualmente, os investimentos chegariam a 20% do Produto Interno Bruto do país, segundo o Periódico Estrategia. Em geral, o capital privado detém uma conta de 61,4% e a Codelco quase 39%.
Por Camila Queiroz, Adital.