Correio da Cidadania

Wikileaks: petroleiras reclamavam de lucros baixos na Líbia por conta de impostos

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Apesar do mercado atraente, a operação das empresas petrolíferas internacionais na Líbia estava longe de ser a ideal. As empresas reclamavam da dificuldade em trabalhar no país norte-africano: vistos, impostos e dificuldade em contratar mão-de-obra eram as principais queixas. Esses fatores diminuíam dramaticamente as margens de lucros das petrolíferas.

O comentário está contido num despacho enviado pela embaixada norte-americana em Trípoli em 27 de novembro de 2007 para o Departamento de Comércio dos EUA e para outras representações diplomáticas norte-americanas, vazado nesta terça-feira (23/08) pelo site Wikileaks.

No documento, há a previsão para os próximos anos: segundo John Stevens, chefe da missão diplomática na Líbia, o lucro das empresas diminuiria ainda mais, pois o governo de Muamar Kadafi pretendia extrair mais concessões das petrolíferas instaladas na Líbia. Isso seria feito mesmo à custa de afastar novos investimentos de companhias petrolíferas do país.

Em outro despacho, datado de 1º de dezembro de 2008, também enviado por John Stevens, fornecia um raro panorama da indústria petrolífera líbia. No documento, o diplomata comenta uma conversa em 18 de novembro de 2008  com Karima el-Mshawet, um "veterano com 15 anos de experiência" na estatal de petróleo do país africano. O funcionário reclamava da gestão de Shukri Ghanem no comando da Libia Oil Nacional Corporation (NOC, na sigla comumente conhecida).
 
De acordo com esse funcionário, a ingerência de Ghanem à frente da companhia estatal somada à perda de quadros da NOC para as petrolíferas estrangeiras instaladas na Líbia poderia dificultar o trabalho das empresas estrangeiras no país. Também há menção ao pouco conhecimento técnico de Ghanem em relação ao setor de petróleo.

Com 700 empregados, a NOC explorava todo o petróleo da Líbia e tinha planos de aumentar a produção de petróleo da Líbia. O território líbio contém as maiores reservas de petróleo do continente africano e a ideia do governo era dobrar a produção de petróleo da Líbia dos 1,7 milhão de barris/dia em 2008 para três milhões de barris/dia em 2012. Tal salto seria de fundamental importância para a estabilidade do governo Kadafi.

Cerca de 95% da economia líbia depende dos recursos gerados pela produção de petróleo e gás natural. Desde 2005, o governo líbio lançou três concorrências para a exploração desses recursos – essas concorrências atraíram 60 empresas de 25 países diferentes. Na Líbia, já operam cerca de 40 empresas petrolíferas estrangeiras e o diplomata ressalta as oportunidades de negócios a serem abertas com a alta dos preços do petróleo.

Por outro lado, Stevens pontua as dificuldades de operação no mercado líbio, descrevendo o país como um "ambiente desafiador", onde a paciência e os limites financeiros das empresas são testados.  Além disso, há as dificuldades impostas pela gestão centralizadora de Ghanem na NOC e pela necessidade líbia em aumentar os lucros obtidos pelo país.

Um executivo de uma empresa líbia – e ex-executivo da NOC – exemplifica essas dificuldades com uma estatística: “minha empresa obtém os mesmo lucros em um país vizinho extraindo apenas 25% do petróleo extraído na Líbia”. Ou seja, havia pressão contra os altos custos de produção e a legislação trabalhista restritiva no país de Muamar Kadafi. Stevens finaliza o telegrama dizendo que muitos membros do alto escalão do governo líbio ressentem o pouco interesse de empresas americanas em explorar os recursos do país a despeito da Líbia ter sido removida da lista de países suspeitos de financiar o terrorismo.

 

Por Charles Nisz, Ópera Mundi. 

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