Kassab intimida coveiros, depois de quase dobrar o próprio salário
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- 02/09/2011
Os servidores municipais da capital recorrerão da decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que determinou a retomada do serviço funerário e o fim da greve, iniciada na última terça-feira (30). Foi estabelecida uma multa diária de R$ 60 mil, em caso de desobediência. Em declarações à imprensa, o prefeito Gilberto Kassab classificou a paralisação dos coveiros como “chantagem”.
Nesta sexta-feira (2), Kassab autorizou a contratação de cem coveiros e 35 motoristas. A categoria interpreta a medida como uma forma de intimidação. João Gabriel Buonavita, diretor do sindicato que representa os servidores, contesta a informação, divulgada pela Prefeitura, de que os servidores já haviam conquistado reajuste na última greve, ocorrida em junho.
“Essas gratificações são concedidas a alguns grupos. E elas não são extensivas à aposentadoria, ao 13º e, principalmente, à licença médica. Ou seja, quando você fica doente e precisa passar por um processo operatório, você perde pelo menos 60% dos seus rendimentos”.
Na última negociação, a prefeitura ofereceu reajuste de 11%, que contempla apenas parte dos funcionários da Saúde. João Gabriel relata que os trabalhadores não pedem aumento, mas a reposição da perda salarial, que chegou a 39%.
“O salário base hoje é de R$ 440. Há mais de dez anos, nós temos recebido 0,01% e isso não está em concordância com o salário que o prefeito tem hoje. Ele se deu 94% de reajuste e quase 300% para a vice-prefeita, secretários e subprefeitos”.
Com a validação de um decreto legislativo de 1992, o salário de Kassab passou de R$ 12,3 mil para R$ 20 mil, no início deste ano. Em julho, a Câmara Municipal aprovou novo aumento, elevando o salário para R$ 24,1 mil. O Ministério Público pede a anulação do primeiro reajuste, por meio de uma ação civil pública.
A greve mobilizou funcionários de unidades de saúde, secretarias municipais e do serviço funerário, provocando atrasos nos velórios e sepultamentos. A Constituição Federal determina que, durante a greve, os sindicatos devem manter em funcionamento os serviços essenciais. Para o advogado e mestre em Direito do Trabalho Thiago Barison, os trabalhadores desses setores precisam reconquistar o direito de greve.
“Geralmente as categorias, isoladamente, acabam tendo que se curvar, atender às condições impostas pelo Tribunal e aí, então, em condições de negociar muito piores. A jurisprudência é majoritária ao cercear o direito de greve nas atividades essenciais.”
Os servidores decidem o futuro da greve nesta segunda-feira (5), em assembleia a ser realizada em frente à sede da Prefeitura, no centro da cidade.
Por Jorge Américo, da Radioagência NP.