Torcedores irão manter protesto em estádios contra Ricardo Teixeira
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- 05/09/2011
Torcedores de futebol prometem intensificar os protestos Fora Ricardo Teixeira neste fim de semana durante os jogos do Campeonato Brasileiro.
O movimento que denuncia as irregularidades cometidas por Ricardo Teixeira e pede sua saída da direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 chegou às arquibancadas no último fim de semana.
Faixas e cartazes com os dizeres Fora Ricardo Teixeira foram erguidos pelas torcidas nos principais estádios. Agora, de acordo com nota da Confederação Nacional das Torcidas Organizadas, as manifestações continuarão.
“Nós apenas começamos. Não foram manifestações isoladas. Elas continuarão. Não há dúvida quanto a isso. Agora, a nossa missão será buscar novas formas de protestar contra Ricardo Teixeira”, afirma na nota o presidente do Conselho da Conatorg e da Dragões da Real, torcida organizada do São Paulo, André Azevedo.
Segundo Jorge Suzuki, da Associação Nacional de Torcedores (ANT), o balanço deste primeiro fim de semana de protestos nas arquibancadas foi positivo. “O Fora Ricardo Teixeira nos estádios teve um reflexo até mais positivo do que o imaginado para uma primeira tentativa, sobretudo porque foi anunciado com antecedência”, disse Suzuki.
Censura
Suzuki conta que, desde 2010, os torcedores estavam sendo impedidos de entrar nos estádios com faixas e cartazes de protesto contra o presidente da CBF. Somente no amistoso da seleção brasileira contra a Holanda, já neste ano, os manifestantes conseguiram entrar no estádio Serra Dourada, em Goiânia, com uma faixa com a seguinte frase: “Fora Ricardo Ali Babá Teixeira”. Mesmo assim, como relata Suzuki, os “seguranças particulares do evento ameaçaram agredir os integrantes da ANT” e só não o fizeram porque “um repórter local intercedeu” por eles.
Em Santa Catarina, a Federação Catarinense de Futebol (FCF) tentou proibir os protestos no estado neste fim de semana, mas foi impedida pelo Ministério Público Federal. De acordo com MPF, a medida da federação catarinense "fere o direito de livre expressão de pensamento e manifestação".
Para o jornalista Juca Kfouri, “o Ministério Público Federal deu a resposta competente” à tentativa da Federação Catarinense.
A proibição, no entanto, foi mantida em Minas Gerais por policiais militares que impediram a entrada de uma faixa de protesto contra Teixeira na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, durante o jogo entre Atlético-MG e Cruzeiro. A justificativa dada pelo comando da PM é de que a entrada da faixa foi proibida para garantir a visibilidade dos torcedores, e não por censura à manifestação.
Ricardo Teixeira
O presidente da CBF é alvo de inúmeras denúncias. Em 2001, Teixeira foi denunciado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Futebol por crimes como apropriação indébita de recursos, evasão de divisas e sonegação fiscal. No entanto, dez anos após as denúncias, as investigações estão paradas na Justiça Federal do Rio de Janeiro, onde está localizada a sede da CBF e a residência do dirigente.
No final do ano passado, Teixeira foi denunciado por uma matéria do jornal suíço Tages-Anzeiger, de Zurique, que dizia que ele teria recebido US$ 9,5 milhões de propinas da empresa suíça de marketing ISL. Nessa mesma época, um programa de televisão investigativo da TV britânica BBC apontou que três dirigentes integrantes da comissão responsável por escolher as sedes para as Copas do Mundo de 2018 e 2022 receberam propinas da ISL: o presidente da CBF, Ricardo Teixeira; o presidente da Conmebol, Nicolas Leoz; e o presidente da Confederação Africana de Futebol, Issa Hayatou.
Há 22 anos à frente da CBF, Teixeira parece não se preocupar com as denúncias de que é alvo. Em uma entrevista à Revista Piauí em julho, Teixeira desdenhou das denúncias de corrupção em que está envolvido e fez ameaças à imprensa.
Juca Kfouri acredita que os protestos contra ele não sejam capazes de retirá-lo da direção da CBF, por não se tratar de uma organização pública. No entanto, o jornalista pondera que as manifestações tornam cada vez mais incômoda a sua presença no COL. “É diferente em relação à CBF, porque a CBF é entidade privada. Mas o Comitê Organizador da Copa do Mundo diretamente mexe com dinheiro público”, explica.
“De toda maneira é bom registrar que nunca houve na história do futebol brasileiro manifestações pela saída de um presidente da CBF”, completa Kfouri.
Protestos por mudanças
Os protestos contra o dirigente da CBF foram iniciados em 2010 pela ANT. Conforme Suzuki, “o movimento nasceu em decorrência de todo um processo excludente e criminalizador do torcedor popular”. O integrante da ANT explica que para mudar esse quadro é necessário que se pense uma reformulação na CBF, e isto não pode ser feito sem a mudança na direção da entidade. “Os mandos e desmandos dele [Teixeira] são conhecidos e acompanhados há tempos pelos integrantes da ANT, e essas denúncias atuais apenas ajudaram a trazer apoio popular e novos adeptos ao movimento”, relata o torcedor.
Suzuki lembra que, apesar de ser uma entidade privada, em situações de conveniência para a CBF, os dirigentes procuram os governantes para usar dinheiro público na organização de seus eventos, como é o caso da Copa do Mundo.
Por isso, de acordo com o integrante da ANT, a principal proposta do movimento Fora Ricardo Teixeira é criar na sociedade um debate para a participação popular na entidade e na gestão do futebol brasileiro. “Não adianta tirar um [dirigente] e colocar outro, se o jogo de poder for mantido”, relativiza.
Suzuki explica que a proposta da ANT é que a CBF se torne uma entidade suprapartidária. “Nossa ideia é uma alteração de estatuto na entidade, permitindo, por exemplo, a criação de um conselho no qual o torcedor comum e o organizado, além do sindicato de jogadores de futebol, tenham poder de decisão, visto que são os protagonistas e maiores interessados na festa”, relata.
Além dos protestos nas arquibancadas, encabeçados pela Frente Nacional dos Torcedores (FNT), A ANT tem realizado desde o ano passado atos periódicos em frente aos estádios de futebol, panfletagens e manifestações em todo o Brasil.
Por Michelle Amaral, Brasil de Fato .