Quilombolas apóiam PMs grevistas, depois de receberem pedido de perdão
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- 02/12/2011
Policiais militares e bombeiros do estado do Maranhão decidiram dar continuidade a greve iniciada no dia 24 de novembro. A decisão foi adotada nesta quarta-feira (30), quando as categorias rejeitaram a proposta de reajuste salarial oferecida pelo governo de Roseana Sarney (PMDB).
No mesmo dia, um grupo de quilombolas se juntou aos militares que ocupam a Assembleia Legislativa. O ato de apoio foi uma resposta ao manifesto divulgado um dia antes, no qual os militares reconhecem terem cometido abusos contra organizações populares.
Ao lamentar a violência no campo, os policiais dizem que “infelizmente ela acontece e nós, ao longo do tempo, tivemos nossa parcela de responsabilidade neste problema. Admitimos os nossos excessos e, agora, pedimos desculpas por eles”.
Os militares afirmam serem solidários aos quilombolas, índios e sem terra e se reconhecem “vítimas da mesma opressão, da mesma exploração que se alastram pelos quatro cantos do Maranhão”.
Os PMs, que atualmente ganham R$ 2.028, pedem reajuste para R$ 3 mil. O governo do Estado ofereceu aumento para R$ 2.240, que passaria a vigorar em março do ano que vem. A greve recebeu apoio e adesão de policiais civis. O policiamento nas cidades é feito por tropas da Força Nacional de Segurança.
Confira abaixo a íntegra do manifesto elaborado pelos militares.
Jorge Américo, da Radioagência NP.
Carta aberta à população brasileira
Hoje, quando a nossa categoria está em greve em todo o Maranhão, estão chegando a São Luís grupos de quilombolas e de lavradores sem terra. Eles, após sucessivos acampamentos, vêm novamente a nossa capital, desta vez para tratar com o presidente nacional do INCRA.
Sabemos que, historicamente, a relação entre a Polícia Militar e as organizações populares em nosso país não é boa. Porém, neste momento importante da história, onde lutamos por dignidade e melhores condições de trabalho, achamos oportuno falar desta outra luta, travada pelos homens e mulheres do campo.
Primeiro, temos que lamentar pela violência, oriunda dos conflitos de terra. Infelizmente ela acontece e nós, ao longo do tempo, tivemos nossa parcela de responsabilidade neste problema. Admitimos os nossos excessos e, agora, pedimos desculpas por eles.
Por outro lado, agora, quando grande parte da sociedade maranhense está sendo solidária conosco, queremos também deixar clara a nossa solidariedade com a luta dos quilombolas, dos índios, dos sem terra! Somos o mesmo povo, vítimas da mesma opressão, da mesma exploração que se alastras pelos quatro cantos do Maranhão!
É importante, antes de tudo, reconhecer que nós somos todos irmãos! Hoje, nós estamos acampados na Assembléia Legislativa, querendo condições de trabalho para sustentar nossas famílias, enquanto eles querendo a terra, também para comer e sustentar os seus filhos.
É nosso desejo que - nesta circunstância absolutamente atípica - se possa tentar inaugurar um novo momento entre os servidores públicos militares do Maranhão e as organizações sociais do campo e da cidade.
Achamos importante dar este exemplo para o Brasil, mostrando o verdadeiro valor do nosso povo, a grandeza da nossa gente e gritando bem alto que hoje, no Maranhão, não se consente mais esperar!
São Luís, 29 de novembro de 2011
Associação dos Servidores Públicos Militares do Maranhão.