Moradores de ocupações do Centro protestam contra despejos e remoções
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- 12/07/2012
Cerca de 10 mil pessoas ficarão na rua, caso ordens de reintegração de posse sejam cumpridas.
“O povo na rua, Kassab a culpa é sua”, era o grito mais ouvido pelo centro de São Paulo, na manhã desta quarta-feira (11). A exemplo do que ocorreu no último dia 17 de maio, manifestantes marcharam em um grande ato contra as ordens de reintegração de posse, que, caso sejam cumpridas, colocarão 10 mil pessoas na rua.
Há mais de cinco anos, as famílias ameaçadas de despejo ocupam imóveis que estavam abandonados no centro de São Paulo: na rua Mauá, 304; na avenida São João, 588; na avenida Rio Branco, 47 e 53; e na avenida Ipiranga, 908. A manifestação começou às 11h, em frente à estação Luz e terminou na sede da Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU).
Por volta das 14h, Osmar Borges, coordenador geral da Frente de Luta por Moradia (FLM), falava aos manifestantes, quando o presidente da CDHU, Antonio Carlos do Amaral, voltava do almoço e tentava passar incólume pela portaria do prédio, porém foi reconhecido e imediatamente cercado pelos moradores, que exigiram uma reunião com o presidente para levar suas reivindicações. Dez moradores entraram para participar da reunião, que até o fechamento desta matéria não havia terminado.
Em entrevista exclusiva ao SPressoSP, após o inusitado encontro, Amaral garantiu que o CDHU pode atender as família, sem dizer prazos: “Posso dar certeza de que se o judiciário optar por remover essas famílias das áreas ocupadas, a CDHU tem condições e área para atendê-las.”
Apesar das promessas, as famílias reclamam da falta de atendimento da prefeitura e do próprio órgão, do governo do estado. Na avenida São João, os moradores já se preparavam o despejo na segunda, 9, data limite da reintegração de posse, mas decidiram ficar. “Não saímos, pois não houve um atendimento social, a prefeitura se mostrou desleixada e nós não tínhamos como sair, nem cadastramento das famílias havia sido feito”, afirmou Antônia Nascimento, coordenadora da ocupação.
Já Ivonete Araújo, que coordena a ocupação da rua Mauá, relata que no período que estão lá conseguiram vencer diversas barreiras e, agora, o desejo é permanecer no edifício. “Revertemos uma demolição do prédio, conseguimos laudos que comprovam a possibilidade de reforma do imóvel, agora queremos ficar, e vamos conseguir”, disse. “O jogo só termina quando acaba”.
Maria do Planalto, representante dos moradores da Ipiranga, ressaltou o valor da luta de todas as famílias pela moradia digna. “Precisamos ficar juntos e lutar por nossos lares e nossos filhos que estão nas escolas e vão perder a moradia e o ensino, se formos expulsos”, afirmou. Ela denuncia as ordens de reintegração somadas a outras medidas da prefeitura, como a expulsão dos ambulantes e uma possível proibição da distribuição de sopão, como uma tentativa de retirar os pobres da região. “Temos que mostrar que não é uma coincidência tudo isso acontecer na mesma hora, eles querem limpar os pobres do centro. As famílias da ocupação Mauá e Ipiranga já foram chamadas para reuniões em Batalhões da Polícia Militar, onde devem saber a data de remoção e os trâmites para a retirada das famílias.”
Higienização
O padre Julio Lancelotti acompanhou a manifestação e também teceu críticas ao prefeito Gilberto Kassab (PSD). “São Paulo é uma cidade que se fechou em si mesma, está ordenada pelo capital e o que vejo, caminhando pelo centro, é que temos mais imóveis vazios do que gente na rua, mas os ricos não querem os pobres por perto, e tudo isso com o apoio de nosso prefeito.”
O engenheiro e pesquisador do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, Luiz Kohara, criticou o desrespeito ao direito à moradia, já que enquanto imóveis estão vazios no centro, os pobres são obrigados a residir cada vez mais longe. “Nós temos uma estrutura da cidade voltada para agir dessa forma, está viciada, e onde é o lugar do pobre nessa estrutura de cidade? É na periferia, é longe dos grandes centros. Eles devem trabalhar na cidade, mas morar longe”, comentou.
Veja mais fotos da manifestação aqui.
Por Igor Carvalho, SpressoSP.